“Eles invocam a pandemia como pretexto, mas o que há aqui é uma estratégia concertada de corrida aos fundos monetários por parte da administração da empresa e de assim, em parceria com o Governo, demonstrar à União Europeia o que está a fazer no que à transição energética diz respeito. A refinaria do Porto sucumbe em troca de outra coisa qualquer”, afirmou o dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energias e Atividades do Ambiente (Site-Norte), em declarações à Lusa, adiantando que vão ser postas em prática formas de luta.
Conforme vincou Telmo Silva, o ministro do Ambiente, “Matos Fernandes, tem grandes responsabilidades nestas decisões”, tendo em conta que estão a ser tomadas opções com “pouca ponderação”.
O sindicato viu ainda com surpresa as declarações do titular da pasta do Ambiente, na segunda-feira, quando afirmou estar preocupado com o destino dos trabalhadores, uma vez que a estrutura solicitou várias reuniões com o executivo, mas nunca teve resposta.
“O senhor ministro garantiu que em cinco anos não ia fechar nenhuma refinaria, mas ao fim de quatro ou cinco meses surge esta decisão. Para nós é evidente, há negociações claras com partes governamentais e a empresa desde há muito tempo”, referiu.
Este responsável disse ainda que hoje tomou conhecimento da possibilidade de construção de uma refinaria de lítio no local da antiga refinaria de Matosinhos, o que considerou ser um “ataque aos trabalhadores da Petrogal, que têm vínculos laborais e direitos adquiridos”, notando ainda que “ainda não são conhecidos os impactos ambientais" deste elemento químico.
O sindicalista lamentou ainda “as medidas agressivas” tomadas para alcançar a transição energética, que defendeu ser afinal uma “rotura”, tendo em conta que não está a ser “ponderada, lenta e sustentável”.
Apesar de admitir que a refinaria, à semelhança dos restantes setores de atividade, foi impactada pela pandemia de covid-19, o sindicato disse que o encerramento da infraetrutura não é justificável, acrescentando que o aprovisionamento e a distribuição podem deixar de estar assegurados com o retomar da atividade, nomeadamente da aviação.
Perante este cenário, as estruturas representativas dos trabalhadores vão pedir reuniões de emergência à empresa liderada por Carlos Gomes da Silva e ao Ministério do Trabalho.
Adicionalmente, a partir de janeiro, vão avançar como mais iniciativas para dar visibilidade ao caso, nomeadamente, a realização de manifestações.
Em causa estão 500 postos de trabalho diretos e 1.000 indiretos.
A Galp vai concentrar as suas operações de refinação e desenvolvimentos futuros no complexo de Sines e descontinuar a refinação em Matosinhos a partir do próximo ano, anunciou a empresa na segunda-feira.
Num comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), a Galp referiu que “continuará a abastecer o mercado regional mantendo a operação das principais instalações de importação, armazenamento e expedição de produtos existentes em Matosinhos”, e que está a “desenvolver soluções adequadas para a necessária redução da força laboral e a avaliar alternativas de utilização para o complexo”.
A empresa disse que as "alterações estruturais dos padrões de consumo de produtos petrolíferos motivados pelo contexto regulatório e pelo contexto covid-19 originaram um impacto significativo nas atividades industriais de ‘downstreaming’ da Galp”, e afirma que “o aprovisionamento e a distribuição de combustíveis no país não serão impactados por esta decisão”.
O Estado é um dos acionistas da Galp, com uma participação de 7%, através da Parpública.
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