Segundo Albano Ribeiro, do Sindicato da Construção de Portugal, “o Estado deve 150 milhões de euros” à Somague, da obra do túnel do Marão, e a administração da empresa, por proposta do sindicato, vai solicitar com “caráter de urgência” uma reunião ao ministro do Trabalho.

“Estes trabalhadores e trabalhadoras merecem mais respeito, porque é um capital humano muito qualificado, e a administração deve respeitá-los”, afirmou o dirigente sindical da CGTP-IN, após um plenário nas instalações da Somague Engenharia, no Linhó, concelho de Sintra.

O sindicato e a comissão sindical reuniram-se com a administração da Somague para discutir a situação de cerca de 700 postos de trabalho em perigo na empresa, que tem pago os salários em prestações e cortou regalias, como seguros de vida e de saúde.

“Entrei preocupado e saí mais preocupado da reunião”, admitiu Albano Ribeiro, explicando que a empresa, detida pela espanhola Sacyr, desde janeiro não paga “os salários atempadamente” e na quarta-feira “pagou a parte que faltava do mês de agosto”.

O presidente do sindicato adiantou que “são 700 trabalhadores que estão ameaçados, dado que a empresa não tem obras, e aliás rejeitou obras para a Madeira, Açores e em Angola”.

Para Albano Ribeiro “é uma inverdade” justificar a situação por causa do mercado em Portugal, uma vez que se assiste a uma recuperação do setor da construção e há empresas, que, ao contrário da Somague, que só quer obras acima dos cinco milhões de euros, se adaptaram e concorrem, por exemplo, à pavimentação de uma estrada por 70.000 euros.

“Antigamente em termos concursais, concorria-se no mar, agora tens de concorrer através de um rio. Hoje não há aquelas grandes obras, infelizmente para o setor”, ilustrou.

O sindicalista lamentou que a empresa tenha cortado o seguro de saúde a trabalhadores “que estavam a fazer quimioterapia”, ficando impossibilitados de continuar os tratamentos, situação, porém, que a administração disse que iria resolver.

A empresa, que já efetuou um despedimento coletivo de 273 trabalhadores em 2015, pretende fazer uma nova reestruturação, mas Albano Ribeiro não obteve resposta às perguntas de “quando, como e a abrangência”.

“Não tenho dúvidas nenhumas e vai ser uma reestruturação para centenas de trabalhadores, o que é de lamentar, porque é uma empresa que tem condições” para salvaguardar os postos de trabalho, frisou.

Embora a prioridade para o sindicato seja a defesa dos empregos, tanto mais que a curto prazo o setor precisará de mais de 40.000 trabalhadores, o sindicalista espera que o pagamento da dívida do Estado possa servir para “pagar os direitos” dos funcionários que venham a rescindir os seus contratos.

“Tinha muito orgulho em trabalhar na Somague, era mesmo amor à camisola”, reconheceu Teresa Coutinho, de 45 anos, secretária da direção comercial, acrescentando que “agora é uma desilusão e é muito desgastante” perante a incerteza quanto ao futuro.

A trabalhadora, com 19 anos de casa, confirmou que a empresa não tem ganho muitas obras, mas considerou que “a Sacyr deveria ajudar a ultrapassar esta crise”.

“Todas as empresas apostaram no setor comercial, a Sacyr – quando tomou conta da administração – o primeiro departamento que liquidou foi o departamento comercial, portanto a partir daí praticamente não ganhamos obras absolutamente nenhumas”, contou Rui Andrade.

O técnico de obras, de 45 anos, está em casa à espera de uma solução, desde fevereiro de 2016, esclareceu que apenas 10% dos trabalhadores estão a acabar as obras no Tua, na Caniçada e no Hospital da CUF, em Lisboa.

“Neste momento as grandes empresas estão todas a retomar a atividade, grandes, pequenas e médias, só a Somague é que não está a retomar”, desabafou o técnico, que liderou a construção da Casa da Música, no Porto, apontando a experiência da construtora em infraestruturas e hospitais.

Ao pedido de esclarecimentos, a administração da Somague mandou dizer pelo segurança que não queria prestar declarações à comunicação social.

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