O que “nos preocupa é perceber que a atuação da polícia tem estado de alguma forma mais musculada, mais forte e mais vigorosa” na gestão das manifestações dos movimentos antifascistas ou pró-Palestina e, “infelizmente, a intervenção da polícia parece-nos desproporcional”, porque “não há histórico de violência” por parte dos movimentos antifascistas, afirmou a dirigente da organização não-governamental (ONG).

No caso do protesto pró-Palestina no Porto, durante uma ação de campanha da AD com a presença da presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, Joana Cabral sustentou que se assistiu “a mais uma ação ostensiva” dos agentes, com “uma das pessoas presa no chão e com a face debaixo de um joelho”, uma imagem que reflete uma “ação desproporcional, absolutamente desnecessária e que mostra o desprezo e a hostilidade que existe em relação a manifestações desta natureza”.

Na segunda-feira, perto do Padrão dos Descobrimentos, para onde estavam agendadas as manifestações, a dirigente frisou que existiu “um contingente de polícias maior junto dos manifestantes antirracistas”.

“Até poderíamos dizer que os agentes estavam a tentar proteger esses manifestantes, mas a verdade é que, quando os confrontos se iniciaram, há vários manifestantes do grupo dos antirracistas que são agredidos com bastonadas e infelizmente nós não vemos a mesma resposta na contenção dos outros grupos de manifestantes”, afirmou a dirigente.

Mas “mais do que discutir este incidente isolado, aquilo que nos preocupa é continuar a problematizar a forma como a polícia atua em função daquilo que é a cor dos corpos no espaço público ou a posição ideológica das pessoas que se organizam”, acrescentou a responsável, recordando que tem vindo a ser estudada a “infiltração de forças da extrema-direita nas polícias”.

Exemplo disso, acusou, é a “atuação da polícia que se tem tornado mais problemática junto dos bairros de pessoas racializadas”.

Joana Cabral lamentou também o discurso do primeiro-ministro no 10 de junho, uma data que foi usada pelo Estado Novo como símbolo nacionalista.

Montenegro usou “uma linguagem que historicamente esteve associada à linguagem do Estado Novo e ao fabrico de uma ideia nacionalista e de superioridade dos portugueses brancos”, o que é “altamente preocupante”, acusou a dirigente do SOS Racismo.

“Quando o mesmo Montenegro evoca expressões como “garra lusitana” ou “viva a portugalidade”, acaba por “repetir um discurso que alguns extremistas utilizam”, disse.

Neste tipo de discursos políticos “não pode haver equívocos”, que permitam duplas interpretações. E neste caso “está tudo muito claro, nem é preciso ler as entrelinhas” para identificar “conceitos lusotropicalistas” da “propaganda do Estado Novo”.

Em contrapartida, salientou Joana Cabral, o Presidente da República teve um discurso “bastante mais inclusivo”, o que prova que “é possível fazer um discurso que continue a celebrar Portugal e não evocar esta narrativa” datada.