“A proposta de trasladação dos restos mortais de José Afonso para o Panteão Nacional mantém-se por parte da SPA, com base nos argumentos aduzidos no comunicado difundido [na terça-feira] sobre o assunto”, refere o conselho de administração daquela entidade num comunicado enviado hoje à agência Lusa.
A família de Zeca Afonso opôs-se na quarta-feira à proposta da SPA, lembrando que José Afonso “rejeitou em vida as condecorações oficiais que lhe haviam sido propostas” e “foi, a seu pedido, enterrado em campa rasa e sem cerimónias oficiais, em total coerência com a sua vida e pensamento”.
No comunicado enviado hoje à Lusa, a SPA considera que a posição da família “é absolutamente respeitável e digna, mas não impeditiva da proposta” de uma entidade “que tem 93 anos de existência e representa mais de 26 mil autores de todas as disciplinas”.
Na terça-feira, a SPA assumiu “publicamente o compromisso de lutar por este legítimo e inadiável ato de consagração [a trasladação dos restos mortais de Zeca Afonso para o Panteão Nacional] que deverá coincidir com os 90 anos do nascimento [do músico] e com os 45 anos do 25 de Abril”.
No comunicado então divulgado, a SPA recordava José Afonso como “uma das figuras mais marcantes da história da vida cultural e artística portuguesa que influenciou as gerações que se seguiram à sua, tanto do ponto de vista artístico como do político e do moral”.
“É este o tributo e é esta homenagem que Portugal deve a quem como mais ninguém o soube cantar em nome dos valores da liberdade, da democracia, da cultura e da cidadania”, defendia.
No ano passado, no âmbito dos 30 anos da morte de José Afonso (1929-1987), debateu-se o facto de ser desconhecido o paradeiro das bobinas originais de gravação do músico.
Na altura, o Ministério da Cultura, numa declaração à agência Lusa, afirmou que era “importante a preservação” do património fonográfico de Zeca Afonso e disse estar a “apurar o paradeiro das gravações”.
Na mesma ocasião, a SPA realçou a “urgência da reedição da obra” de José Afonso, questão sobre a qual alertou o ministro da Cultura, para que obtenha o "estatuto de património cultural".
Hoje, a SPA reiterou considerar “que o Ministério da Cultura deve reconhecer a obra de Zeca Afonso como património cultural nacional e envolver-se no esforço que pode conduzir à reedição integral da sua obra, assunto que o poder judicial, a família e naturalmente a própria SPA ainda não conseguiram até agora resolver”, acrescentando que “tem dialogado regularmente com a família de José Afonso sobre este assunto”.
Além disso, refere o conselho de administração, aquela entidade “tem a maior curiosidade em conhecer os argumentos e as posições assumidas pelos deputados portugueses, se o assunto vier a ser debatido na altura própria na Assembleia da República”.
“José Afonso merece ser reconhecido e consagrado como autor e intérprete do ‘Grândola, Vila Morena’ e também como destacado símbolo do combate de décadas dos Portugueses pela liberdade e pela democracia. O Panteão Nacional simboliza esse reconhecimento e consagração”, conclui.
José Afonso nasceu em 1929, em Aveiro, e morreu em 1987, em Setúbal, cidade se encontram sepultados os seus restos mortais, em campa rasa, no Cemitério de N. S. da Piedade.
Em maio de 1983, o músico foi homenageado pelo município de Coimbra, tendo recebido a Medalha de Ouro da cidade. Na ocasião o então presidente da câmara, Mendes Silva, agradeceu a José Afonso a quem se dirigiu tendo afirmado: “Volta sempre, a casa é tua”. O compositor retorquiu: “Não quero converter-me numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem”.
Também nesse ano, o então Presidente da República, António Ramalho Eanes, atribuiu a Zeca Afonso a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusou-se a preencher o formulário.
Em 1994, o Presidente da República, Mário Soares, tentou condecorar postumamente José Afonso com a Ordem da Liberdade, mas Zélia Afonso recusou, alegando que o músico não desejou a distinção em vida e também não seria condecorado após a sua morte.
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