Bannon foi hoje detido sob a acusação de, em colaboração com três outras pessoas, desviar dinheiro de doadores num esquema de arrecadação de fundos para a campanha “Nós construímos o muro”.
O juiz determinou uma caução de cinco milhões de dólares (4,2 milhões de euros), dos quais 1,75 milhões em bens.
Os procuradores federais alegam que Bannon e três outras pessoas “orquestraram um esquema para defraudar centenas de milhares de doadores” em ligação com a campanha de ‘crowdfunding’ que juntou mais de 25 milhões de dólares (20,99 milhões de euros) para construir um muro ao longo da fronteira sul dos Estados Unidos com o México.
Bannon é suspeito de ter desviado um milhão de dólares para proveito pessoal.
Segundo a acusação, o antigo conselheiro de Trump garantia que 100% do dinheiro obtido seria utilizado no projeto, mas os réus acabaram por usar coletivamente centenas de milhares de dólares “de uma maneira inconsistente com as representações públicas da organização”.
A acusação avança também que os quatro réus falsificaram faturas e elaboraram “arranjos com fornecedores”, entre outras formas, para desviar o dinheiro, com Bannon a utilizá-lo para “pagar despesas pessoais”.
Num comunicado, Audrey Strauss, procuradora em funções do Distrito sul de Nova Iorque, a campanha também permitiu desviar dinheiro para Brian Kolfage, um veterano da guerra no Iraque, que foi quem criou a iniciativa para a construção do muro, apesar de ter garantido aos doadores que não receberia sequer um cêntimo.
Além de Bannon, foram também detidos o próprio Kolfage e outros dois acusados — Andrew Badolato e Timothy Shea — pelo papel desempenhado na suposta fraude.
Bannon, que serviu na Marinha e trabalhou como banqueiro de investimentos na Goldman Sachs antes de se tornar um produtor de Hollywood, está atualmente a apresentar um ‘podcast’ pró-Trump, intitulado “War Room”, que começou durante o processo de ‘impeachment’ do Presidente norte-americano (em dezembro de 2019) e que continuou durante a pandemia de covid-19.
Donald Trump, afirmou hoje nada conhecer sobre o portal de ‘crowdfunding’ para financiar a construção de um muro ao longo da fronteira entre os Estados Unidos e o México.
A partir da Sala Oval, na Casa Branca, Trump reagiu à acusação de desvio de fundos de que foi alvo o seu antigo conselheiro Steve Bannon, afastado em 2017.
“Não tenho tido contactos com ele [Bannon] há muito tempo. Não sei nada sobre esse projeto. Estava convencido de que era algo que não deveria ser feito”, afirmou o Presidente dos Estados Unidos, que indicou ter-se oposto à ideia de procurar fundos privados para construir o muro.
Esta detenção torna Bannon na mais recente entrada em uma longa lista de colaboradores e assessores de Trump que foram acusados na justiça. São os casos do presidente da campanha eleitoral de 2016, Paul Manafort, que foi substituído por Bannon, o seu advogado pessoal de longa data, Michael Cohen, e o antigo assessor de Segurança Nacional Michael Flynn.
Trump já deixou claro que está disposto a usar o seu quase ilimitado poder de perdão para ajudar os seus aliados com problemas com a justiça, como fez recentemente ao comutar a sentença do seu velho conselheiro Roger Stone.
Bannon foi detido pela polícia dos correios norte-americanos (U.S. Postal Inspection Service) a bordo de um iate, chamado “Lady May”, que é propriedade de um exilado chinês multimilionário, à venda por 28 milhões de dólares.
Um dos outros acusados é Timothy Shea, que possui uma empresa de bebidas energéticas, a Winning Energy. As suas embalagens de bebidas têm uma imagem de Trump vestido de super-herói e com a legenda de conter “as onças de lágrimas liberais”.
Outros membros proeminentes deste grupo, que dizia querer construir um pedaço do muro prometido por Trump na fronteira com o México, são o antigo secretário de Estado do Kansas Kris Kobach, Erik Prince, fundador da empresa de segurança Blackwater, agora Academi, e irmão da secretária da Educação do Governo de Trump, Betsy Devos, e o antigo congressista republicano Tom Tancredo, do Colorado. Todos estes membros não estão acusados neste processo.
Benjamin Harnwell, que lançou com Bannon um instituto em Itália para formar políticos populistas, considerou a acusação “espúria” e uma evidência de que as “forças da escuridão” não vão parar perante nada para destruir Bannon.
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