A reunião magna do partido, que vai decorrer até quarta-feira e é a primeira sob o comando do primeiro-ministro Rishi Sunak, eleito em contrarrelógio em outubro passado para substituir Liz Truss, será uma oportunidade para o líder conservador de 43 anos mobilizar as bases.
Apesar de o partido estar no poder há 13 anos, nos últimos dias Sunak tem-se esforçado por renovar a imagem dos ‘tories’ (conservadores) com políticas destinadas a convencer os britânicos de que vai ajudá-los durante a crise económica.
Na semana passada, anunciou uma diluição das políticas climáticas, nomeadamente o adiamento por cinco anos da proibição de novos carros a gasóleo e a gasolina, apesar de ter mantido a meta da neutralidade carbónica até 2050.
O púlpito de onde falou ostentava já o lema do congresso do partido: “Decisões a longo prazo para um futuro melhor”.
Nos jornais, circulam rumores de outras reformas, como uma possível redução do imposto sucessório, a reforma dos exames do ensino secundário e uma nova legislação de combate ao tabagismo.
A mais controversa, criticada dentro do próprio partido, é a possível redução do projeto da linha ferroviária de alta velocidade entre Londres e Manchester devido ao descontrolo dos custos.
“É evidente que Rishi Sunak, enquanto líder conservador, está a tentar criar a impressão de que é um novo líder, e que os conservadores são o partido da mudança”, analisou o politólogo Tony Travers, em declarações à Agência Lusa.
Esta estratégia “acarreta a curiosa necessidade de dizer efetivamente que a maior parte dos últimos 13 anos não foram um grande sucesso”, ironizou o professor da Universidade London School of Economics.
Mas, acrescentou, “os conservadores são muito bons a fazer isso, a mudar de líder quando é preciso e a dar a impressão de que o partido foi completamente transformado”.
Para Tim Bale, autor do livro “O Partido Conservador depois do ‘Brexit’: Turbulência e transformação”, Rishi Sunak está a seguir uma linha mais populista, pró-automobilistas e anti-requerentes de asilo para se demarcar do Partido Trabalhista (principal força da oposição britânica) e apelar ao voto na direita.
“Sunak será aclamado como uma espécie de salvador e de profeta – não porque o seja, mas porque é a última oportunidade do partido”, afirmou o autor e professor da Queen Mary University of London, também em declarações à Lusa.
O retrocesso sobre a ação climática e a aprovação do controverso discurso da ministra do Interior, Suella Braverman, nos Estados Unidos sobre a imigração “persuadiram alguns conservadores de que estão de novo no bom caminho, ideológica e eleitoralmente”, frisou Bale.
Duas sondagens publicadas no início desta semana nas quais o partido recuperou algum terreno em relação ao ‘Labour’ (trabalhistas) sugeriram que a estratégia pode estar a resultar.
Num inquérito da Deltapoll, os conservadores reduziram a diferença para os trabalhistas de 24 para 16 pontos percentuais no espaço de duas semanas: o ‘Labour’ desceu três pontos para 44%, enquanto os ‘tories’ subiram cinco pontos para 28%.
Outra sondagem da Redfield & Wilton Strategies colocou os conservadores (28%) 15 pontos percentuais atrás dos trabalhistas (43%), uma melhoria de três pontos em relação à semana anterior.
Travers sugere cautela na leitura das variações de sondagens, as quais têm consistentemente dado ao ‘Labour’ intenções de voto suficientes para conquistar uma maioria absoluta na Câmara dos Comuns (câmara baixa do parlamento britânico).
“Os trabalhistas estão a beneficiar do facto de os conservadores estarem no poder há muito tempo e parecerem caóticos”, lembrou.
Por outro lado, acrescentou o politólogo, “embora Sunak seja muito impopular junto do eleitorado, [o líder trabalhista] Keir Starmer também não é assim tão popular”, o que pode indicar que muitos eleitores ainda estão indecisos.
“Se [a diferença] começar a cair para os 10% em várias [sondagens], então poderemos dizer com certeza que [as políticas de Sunak] estão a funcionar”, vincou Travers.
O discurso de Rishi Sunak encerra o congresso na quarta-feira.
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