O coronel Dionísio Peixeiro, comandante do Regimento de Paraquedistas, e um dos que foi suspenso por duas semanas após o furto, em junho de 2017, esteve quase três horas a ser ouvido pelos deputados, e contou alguns detalhes da degradação a que chegaram as instalações.

Dionísio Peixeiro afirmou que foi “sendo sempre recatado” que “os equipamentos complementares” para os oito militares que faziam as rondas, como o sistema de videovigilância ou sensores, tinham “muitas avarias, muitas deficiências” e deixaram de funcionar a partir de certa altura.

Os deputados, à medida que falavam, repetiam e insistiam nas mesmas perguntas: os “escalões acima”, ou seja, a Brigada de Reação Rápida, que coordenava o trabalho das quatro unidades que mensalmente enviava militares para fazer a vigilância, os comandantes operacional, das forças terrestres e de logística.

Apesar de ter dito que sabia que havia preocupação com a situação nos paióis, nos escalões acima e no “comando do Exército”, o coronel nunca falou diretamente no general Rovisco Duarte, ex-Chefe do Estado-Maior do Exército, que se demitiu após este caso que também levou à queda do ministro da Defesa Azeredo Lopes.

Dionísio Peixeiro até admitiu que existia uma “expectativa e confiança na cadeia de comando” na resolução dos problemas identificados nos relatórios feitos pelos regimentos responsáveis pela vigilância dos paióis nacionais de Tancos.

“Sempre relatámos as deficiências que detetámos”, disse o coronel, admitindo que, nas duas rotações de militares feitas pelo regimento que comanda desde 2016, “as deficiências eram as mesmas”.

As deficiências iam desde a falta de videovigilância, um sistema que ainda usava cassetes vídeo, de sensores junto às vedações ou de telefones nas instalações onde ficavam instalados os soldados – oito a cada 24 horas – e que tinham até falta de condições de higiene, pelo que descreveu.

Questionado por Jorge Machado, do PCP, por que motivo aceitava o seu regimento fazer esta vigilância, nestas condições, Dionísio Peixeiro afirmou que estas missões foram “cumpridas com grande esforço dos militares”.

E quanto a não ter sido dada prioridade à instalação de um sistema moderno de videovigilância, o coronel do Exército admitiu não conseguir colocar-se dentro “das cabeças dos generais”.

Do PSD ao PCP, todos perguntaram como avaliou a sua exoneração, durante 17 dias, do comando do regimento de paraquedistas, tendo Dionísio Peixeiro admitido que recebeu com “desconforto, discordância, incompreensão”, o mesmo que disse sentir entre o meio militar.

Uma exoneração que lhe foi comunicada, “telegraficamente”, por telefone, por Rovisco Duarte, e que recebeu “com incompreensão”, mas “aceitando a decisão do general chefe”.

Esta exoneração temporária, admitiu, "foi o melhor" que o ex-CEME "conseguiu fazer".

Durante a reunião, os deputados do CDS-PP pediram a audição do militar responsável pela redução do número de militares, de cerca de 40 para oito, com a missão de fazer as rondas nos paióis, uma área equivalente a 39 campos de futebol.

Os centristas querem também que sejam enviados à comissão de inquérito os relatórios de todos os comandantes responsáveis pela segurança dos paióis.

A bancada do PCP entregou também um requerimento pedindo os "relatórios adicionais" sobre as insuficiências nos paióis, mencionados pelo coronel Alves Pereira, ouvido na quarta-feira na comissão.

O furto do material militar, entre granadas, explosivos e munições, dos paióis de Tancos foi noticiado em 29 de junho de 2017.

O caso do furto de armas em Tancos ganhou importantes desenvolvimentos em 2018, tendo sido detidos, numa operação do Ministério Público e da Polícia Judiciária, sete militares da Polícia Judiciária Militar (PJM) e da GNR, suspeitos de terem forjado a recuperação do material em conivência com o presumível autor do roubo.

[Notícia atualizada às 21h17]

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