Em declaração escrita enviada à agência Lusa, Azeredo Lopes, acusado de prevaricação e denegação de justiça, abuso de poder e favorecimento pessoal no inquérito relativo ao furto e recuperação do material de guerra de Tancos, considera que diariamente continuam a ser publicadas "efabulações retiradas do processo destinadas a inculcar na opinião pública, de forma bastante primária," a sua alegada responsabilidade naquele caso criminal que corre na Justiça.

"Tenho-me mantido em silêncio, e continuarei em silêncio, porque acredito que a justiça não se confunde com manchetes orientadas para determinados fins - aliás, óbvios e facilmente descortináveis. Não me pesa na consciência nada daquilo de que me acusam, porque sou absolutamente inocente, e não serão estas `notícias´ e outras cortinas de fumo que me farão mudar de atitude", justificou.

Na declaração, Azeredo Lopes lembra que, desde a primeira hora, anteviu que o seu "assassinato no espaço público estava garantido, no tempo e no modo", e que agora exercerá o seu "direito de defesa onde deve ser exercido, nos tribunais.”

Esta posição pública do ex-ministro da Defesa surge no dia em que um matutino noticia na sua primeira página que correspondência entre o então diretor da Polícia Judiciária Militar (PJM), Luís Vieira, e Vasco Brazão (porta-voz da PJM à data dos factos) mostra preparativos para manter ex-ministro a par de tudo através de "telefone seguro".

O Ministério Público (MP) considera que o ex-ministro sonegou informação à procuradora-geral da República sobre a recuperação das armas dos paióis de Tancos e quis que Joana Marques Vidal fosse complacente com a situação.

Os autos do processo referem que Azeredo Lopes não deu conhecimento do achamento das armas na Chamusca, a 18 de outubro de 2017 à Procuradoria-Geral da República (PGR) nem à PJ e que a então procuradora-geral da República só teve conhecimento da recuperação do material militar através do comunicado da Polícia Judiciária Militar.

Azeredo Lopes teve conhecimento da encenação e aceitou-a e, segundo os procuradores do processo de Tancos, podia ter-se oposto e participado a irregularidade à PGR e PJ.

O furto de material de guerra foi divulgado pelo Exército em 29 de junho de 2017. Quatro meses depois, a PJM revelou o aparecimento do material furtado, na região da Chamusca, a 20 quilómetros de Tancos, em colaboração de elementos do núcleo de investigação criminal da GNR de Loulé.

O MP acusou 23 pessoas de terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça, prevaricação, falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.

Nove dos 23 arguidos são acusados de planear e executar o furto e os restantes 14, entre eles Azeredo Lopes, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.