Na segunda sessão de julgamento que decorre em Santarém, o ex-fuzileiro relatou de uma forma cronológica, inclusivamente que foi numa noite de difícil visibilidade, como o assalto foi preparado e executado e no qual participaram os arguidos João Pais (conhecido por “caveirinha”) e Hugo Santos, tendo ilibado a participação do outro arguido - Valter Santos -, que chegou a confessar o crime no primeiro interrogatório. Ilibou também Fernando Santos Guimarães, Gabriel Moreira e Pedro Marques.
Sobre o "modus operandi", disse que foi ele que cortou a rede e que João Pais arrombou os paióis com o dispositivo que comprou em Espanha para arrombar fechaduras por sugestão de Paulo Lemos (conhecido por "Fechaduras"). O arguido Hugo Santos ficou a fazer vigilância no exterior do perímetro.
Sobre a alegada participação no furto de Fernando Santos, António Laranginha e Gabriel Moreira, Paulino confessou apenas hoje em tribunal que estes não participaram, como refere a acusação, tendo feito um primeiro reconhecimento ao local, a 08 de março, depois das informações dadas por Valter Abreu e Filipe Sousa, mas que desistiram de cometer o crime.
Questionado sobre porque foram assaltados aqueles dois paióis {14 e 15], João Paulino afirmou:”foi por acaso, fomos para o lado esquerda e eram os que estavam mais junto à rede. Não sabia que material continham, mas eu fui militar e sabia que os paióis não têm ramos de rosas nem chupas chupas”.
O assalto, segundo Paulino, foi cometido na noite de 27 para 28 de junho de 2017 por ele próprio e pelos arguidos Hugo Santos e João Pais, após ter sido feito um primeiro reconhecimento aos paióis por parte dos arguidos Fernando Santos, António Laranginha e Gabriel Moreira, que desistiram de participar no furto.
João Paulino confessou que foi ele que cortou a rede, que João Pais tinha o dispositivo para arrombar fechaduras que Paulo Lemos lhe tinha sugerido e que Hugo Santos ficava a fazer vigilância.
O juiz presidente questionou-o sobre o destino a dar ao material furtado e Paulino garantiu que nunca teve qualquer ligação com o grupo terrorista, por exemplo a ETA, que segundo a acusação seria a recetora do armamento.
"O objetivo era apanhar armas e munições e tirar lucro com a venda. No mundo da noite algumas pessoas falam que gostavam de ter armas e o Paulo Lemos também me disse que eram fáceis de vender", disse, referindo que do material furtado, afinal, "muito não servia para nada".
Sobre a entrega do material na Chamusca, o arguido contou que ficou assustado com o alarido feito pela comunicação social e pensou logo em devolvê-lo, tendo falado com o João Pais e o Hugo Santos a propósito do assunto.
Paulino disse que agora pretendia contar toda a verdade, que "virar esta página" da sua vida e "pôr tudo atras das costas", assumindo que começou a consumir cocaína depois do assalto "porque estava muito stressado", mas garantiu que nunca traficou droga.
João Paulino vai continuar a ser interrogado na quinta-feira.
A parte da manhã da sessão de hoje foi dedicada ao interrogatório do tenente coronel da GNR Luís Sequeira, acusado de associação criminosa, tráfico e mediação de armas, falsificação ou contrafação de documento, denegação de justiça e prevaricação e favorecimento pessoal.
Luis Sequeira negou a existência de qualquer acordo secreto entre a GNR de Loulé/Algarve e a polícia Judiciária militar, tal como a acusação indica, mas assumiu que estranhou quando, em comunicado, a PJM disse que o armamento tinha sido recuperado após uma chamada anónima, quando esta polícia sabia que tinha sido um trabalho feito com informadores.
Contudo, assumiu, nada fez para alterar a versão da PJM.
O militar disse ainda desconhecer a decisão da então Procuradora-Geral da República de atribuir a investigação do furto à PJ e que a PJM tinha sido afastada, tendo a GNR do Algarve trabalhado em colaboração/apoio com a PJ militar para desvendar o crime.
O processo de Tancos tem 23 acusados, incluindo o ex-ministro da Defesa Azeredo Lopes, o diretor nacional da Polícia Judiciária Militar (PJM) Luís Vieira, o ex-porta-voz da PJM Vasco Brazão que respondem por um conjunto de crimes que vão desde terrorismo, associação criminosa, denegação de justiça e prevaricação até falsificação de documentos, tráfico de influência, abuso de poder, recetação e detenção de arma proibida.
Neste processo julga-se o furto e a alegada encenação da recuperação do material, estando nove arguidos são acusados de planear e executar o furto do armamento e os restantes 14, entre os quais Azeredo Lopes, que se demitiu do cargo político no seguimento do processo, e os dois elementos da PJM, da encenação que esteve na base da recuperação do equipamento.
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