O ex-Chefe do Estado-Maior do Exército (CEME), que se demitiu em outubro passado, disse que tomou a decisão de forma “isolada e refletida” e que só informou, por telefone, o então ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes, depois de anunciar a decisão em declarações numa estação de televisão.

“Não me recordo da reação do ministro. O comandante do Exército era eu, não era o senhor ministro”, disse.

Questionado pelo PSD e pelo PS na comissão parlamentar de inquérito para apurar responsabilidades pelo furto de material de guerra em Tancos, divulgado em 29 de junho de 2017, Rovisco Duarte disse que “não, nunca” sofreu pressões políticas durante o seu mandato.

O que houve, disse, foram “pressões de todo o lado, de cima abaixo e dos lados” para saber “o que é que o Exército ia fazer” perante o furto.

“O problema era global e eu tinha duas hipóteses, ou mantenho-me tranquilo ou abanar a instituição. Eu quis abanar a instituição, marcar o choque”, disse, considerando que se “fez doutrina” à sua custa.

O general apontou falhas aos comandantes das cinco unidades responsáveis pela segurança dos paióis, afirmando que “são competentes, mas falharam” e “tiveram culpa” no “deixar andar” situações de degradação que podiam ser resolvidas.

“Mas, é preciso uma ordem do CEME para mudarem uma lâmpada?”, questionou, referindo que “falta de limpeza, falta de desmatação” são situações “facilmente resolúveis pelos comandantes”.

“Não lhe chamaria lassidão nem desleixo, mas talvez entrar um pouco nessa área. Tive vários episódios, sentinelas não estavam nos postos. Porquê? Porque, dos comandantes, ninguém passava rondas”, criticou, acrescentando que era preciso acabar com “uma cultura” de deixar andar.

Quanto ao conhecimento que tinha daquelas situações, Rovisco Duarte disse que “sabia que havia deficiências, mas não tinha conhecimento” dos relatórios remetidos pelos comandantes subordinados ao então Comandante das Forças Terrestres, general Faria de Meneses, em quem, admitiu “não confiava”.

“Houve falhas de coordenação” entre unidades, disse.

Sobre a decisão de exonerar os comandantes, que foram readmitidos 15 dias depois, Rovisco Duarte justificou ainda que os afastou para os proteger da tentação de “entravamento dos processos”.

“Se o comandante estiver no sítio pode acontecer que haja algum entravamento de processos. A partir do momento em que tenho os relatórios, e despachos, estão criadas as condições para voltarem. Não estava em causa competência dos comandantes”, disse.

Rovisco Duarte recusou a tese de que o furto foi consequência da falta de efetivos, considerando que “podem faltar noutras tarefas, mas nunca na segurança” e acusou o então Comandante das Forças Terrestres de “alienação clara” face ao assunto.

Crise no Exército após o furto? A responsabilidade é de dois tenentes-generais pela

“Noventa por cento, jogando com as probabilidades, são disputas pessoais de gestão de carreiras. Dez por cento foi a surpresa e o choque” com o que aconteceu nos paióis, afirmou Rovisco Duarte numa audição na comissão parlamentar de inquérito ao furto de Tancos, na Assembleia da República, em Lisboa.

Esta foi a resposta do antigo CEME a uma pergunta do deputado do PS Santinho Pacheco que o questionou sobre se Tancos abriu uma crise no Exército ou se tinha posto a nu “disputas antiga entre generais” por causas de gestão de carreiras.

“Se os tenentes generais não tivessem saído, nada disto tinha acontecido”, afirmou, referindo-se à demissão (passagem à reserva) dos comandantes das Forças Terrestres, Faria Meneses, e de Pessoal, Antunes Calçada, por discordarem da exoneração de cinco comandantes de unidades responsáveis pela segurança dos paióis, dias após o furto, em julho de 2017.

Rovisco Duarte relatou ainda que, durante meses, foi alvo de pressões para “dizer quem seria o vice-CEME” no futuro” e afirmou que “não é por acaso que havia uma postura critica relativamente à tutela por parte destes dois tenentes-generais.”

[Notícia atualizada às 20:54]