"Estamos habituados a crescimentos pós-covid de 20% e 30% e isso é impensável a prazo em qualquer indústria. O que estamos a ver agora é um alisamento do crescimento, é natural. Estruturalmente se crescermos 3%, 4%, 5% sempre é bom e é preferível a crescer 30% num ano e depois cair no ano seguinte", afirmou Luís Rodrigues hoje, no Porto.
O presidente executivo (CEO) da TAP lembrou que a companhia tem um condicionamento ao crescimento até ao final de 2025, por força do plano de reestruturação negociado com Bruxelas, que é o facto de não poder aumentar a frota.
"É imposição do plano de reestruturação", lembrou, acrescentando que o crescimento da companhia far-se-á por "troca de aeronaves mais pequenas para aeronaves maiores, bem como "aumentos de preço".
"E isso leva-nos a estes crescimentos de 6% a 7% nos próximos dois anos. Acho que dois anos é razoável", sustentou ainda Luís Rodrigues durante o 48.º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT), no Porto.
A companhia está a fechar o orçamento para o próximo ano e é com estas percentagens para resultado operacional e receita que trabalha, confirmou fonte oficial à Lusa.
No primeiro semestre a TAP alcançou 108 milhões de euros de resultado operacional, 2.354,5% acima do período homólogo do ano passado.
"É perfeitamente saudável. Mais do que isso neste momento nem sequer é desejável porque precisamos de consolidar uma estrutura - aquela que estamos a montar - que torne a empresa estruturalmente rentável e sustentável para sempre ou pelo período mais longo possível", explicou, lembrando que "é razoável" assumir-se que "vão existir 'outros covids'".
"Não sei quando, não sei como, não sei de que forma, mas vai acontecer. E se estivermos inebriados por crescimentos significativos e de repente levarmos com uma destas, a coisa fica muito mais difícil de gerir. Portanto, neste momento estamos a olhar para isso", concluiu Luís Rodrigues.
Em 30 de agosto, a TAP anunciou ter alcançando um lucro de 22,9 milhões de euros no primeiro semestre deste ano, depois de ter contabilizado um prejuízo de 202,1 milhões de euros no mesmo período do ano passado. Foi a primeira vez que a transportadora aérea registou resultados positivos nos primeiros seis meses de um ano, desde que os resultados semestrais são publicados (2019)”.
Este resultado líquido representou uma melhoria de 225 milhões de euros face a idêntico semestre do ano passado. Além disso, representa em relação a 2019, período pós-pandemia de covid-19, um aumento de 134,9 milhões de euros.
Hoje, quando questionado se poderão estes resultados do primeiro semestre ficar a dever-se à gestão da ex-presidente executiva Christine Ourmières-Widener, o atual CEO considerou que "há várias perspetivas pelas quais se pode olhar" para isso.
"Uma é que os resultados se devem em primeiro lugar aos nossos clientes, muitos deles estão aqui sentados [agentes de viagens] e os diretos também. Se não fossem os clientes diretos e as agências a comprar os bilhetes não havia resultados para ninguém. Devem-se muito também aos trabalhadores da TAP que fizeram isso acontecer. Devem-se ao acionista que suportou a empresa. E, no limite, deve-se aos contribuintes todos que 'aceitaram' contribuir para que a TAP hoje continuasse a existir e desse cada vez melhores resultados", justificou o responsável.
Luís Rodrigues apontou depois outra possibilidade de abordagem que pode ser - refere - a personalização.
"A forma como internamente ponho a coisa é muito simples: um quarto destes resultados deve-se à gestão e estratégia até 2014 [gestão Fernando Pinto], a aposta no Brasil. Sem o Brasil não estaríamos aqui. Um quarto deve-se à estratégia de 2014,2015 a 2017, 2018, a estratégia de aposta na América do Norte [Antonoaldo Neves]. Um quarto deve-se [à estratégia] 2019 a 2021 [Christine Ourmières-Widener, com cortes de custos e por aí fora e aguentar durante o covid. E um quarto deve-se àquilo que nós fizemos pelo ajuste da estratégia e por aquilo que conseguimos fazer em seis meses alavancando em cima disto tudo", sustentou.
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