Os candidatos à Presidência da República, João Ferreira, apoiado pelo PCP e PEV, e Tiago Mayan, apoiado pela Iniciativa Liberal (IL), participaram na quarta-feira num debate na TVI e divergiram na receita para combater a crise pandémica.

O eurodeputado comunista considerou que, repetir no país, o tipo de receitas que os “liberais costumam defender”, como a austeridade, o embaratecimento dos custos do trabalho, os cortes salariais, as privatizações e liberalizações de um conjunto muito alargado de empresas e setores de atividade, “seria desastroso”.

“Esta tem que ser uma oportunidade para encararmos a necessidade de reforçarmos a capacidade produtiva nacional, ampliarmos a capacidade produtiva nacional, temos de associar a isto, por exemplo, o plano de substituição de importações por produção nacional, associando a criação de emprego a isto e a necessidade de recuperarmos para o controlo público e democrático, empresas de setores estratégicos”, salientou João Ferreira.

Para Tiago Mayan, a estratégia descrita pelo oponente político é uma “receita para o desastre”.

“Supor que Portugal está a aplicar políticas liberais é risível e é evidente que não. Portugal não aplica políticas liberais há décadas, há séculos. E esse é que é o problema. O João [Ferreira ] está preso no século XIX, num mundo que não existe”, salientou o candidato liberal.

Mayan Gonçalves acusou João Ferreira de “querer nacionalizar tudo”, afirmação prontamente refutada pelo eurodeputado comunista.

“Não é a propriedade pública de tudo e mais alguma coisa, é coexistência de propriedade pública com propriedade privada e existência de propriedade pública em setores importantes”, frisou João Ferreira.

Por sua vez, Mayan afirmou que “um liberal defende a concorrência” e que o que se fez em Portugal foi “substituir monopólios em mãos do Estado para entregá-los em monopólios de privados emprestados ao Estado”. "Isto não é liberalismo em lado nenhum", frisou.

Acrescentou que é a “atividade económica que pode criar emprego e pode subir salários” e acusou o Estado de esmagar as “empresas com impostos, taxas e burocracias”.

Também em relação ao setor bancário os dois candidatos apresentaram posições diferentes.

Questionado sobre a possibilidade de surgir um novo “caso BES”, João Ferreira afirmou: “nós não podemos pagar os desmandos de outros e depois entregar o banco a quem quer que seja, neste caso a fundos abutres”.

“Se o Estado intervém, se o Estado paga, o Estado tem de ser dono. Se o Estado intervém tem que ficar com a instituição e pô-la ao serviço de uma política de desenvolvimento do país”, defendeu.

Por sua vez, Tiago Mayan Gonçalves referiu que sempre defendeu “empresas privadas, lucros privados, prejuízos privados” e que “nunca deveria ter havido estes apoios” à banca.

“O João [Ferreira] e o partido do João fazendo má cara, mas sempre esteve lá, junto do PS e deste Governo, pronto a meter mais dinheiro nos fundos de resolução, (…) a viabilizar os orçamentos que permitiram o descalabro de 20 mil milhões de euros desde 2008 enterrados na banca”, salientou

O candidato apoiado pelo PCP e PEV respondeu que “só no paraíso liberal é que esta coisa da destruição criativa funciona”.

“Mas o paraíso liberal é o inferno do povos, porque eles sentem sempre o impacto desta destruição criadora que os liberais tanto elogiam. Isso só nos contos de fadas liberais é que acontece”, sublinhou.

O debate transmitido na TVI 24 arrancou com a renovação do estado de emergência e os mais de 10 mil casos de covid-19 identificados na quarta-feira.

João Ferreira reforçou a defesa de medidas de emergência e insistiu que têm de passar pelo reforço do Serviço Nacional de Saúde (SNS), de intervenção sobre os cuidados intensivos, mas também sobre o controlo das cadeias de transmissão, o rastreamento, medidas de reforço de pessoal, de meios, de equipamentos.

“O estado de emergência não contribuiu em nada, até agora, para adotar as medidas imprescindíveis que são necessárias para defender a saúde das pessoas”, afirmou.

Mayan Gonçalves considerou que a atual situação é “a prova do falhanço deste Governo na gestão da pandemia” e defendeu que se devia “usar toda a capacidade instalada de saúde do país” e a elaboração de um “plano imediato de proteção dos grupos vulneráveis”.

Além de João Ferreira e de Tiago Mayan Gonçalves, são também candidatos à Presidência da República o atual chefe de Estado, Marcelo Rebelo de Sousa, Ana Gomes, André Ventura, Marisa Matias e Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans.

As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro.