Militares entraram cerca das 17:20 no palácio governamental guineense, em Bissau, e ordenaram a saída dos governantes que estavam no edifício, atacado hoje numa tentativa de golpe de Estado, mas o paradeiro dos chefes de Governo e de Estado é desconhecido.

Segundo fonte governamental, "cerca das 17:20 [hora local e em Lisboa], os militares chegaram ao Palácio do Governo e disseram aos membros do Governo para saírem" e o local ficou apenas com militares, acrescentou a mesma fonte, indicando desconhecer o paradeiro do primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam, e do Presidente, Umaro Sissoco Embaló.

Quando começou o ataque, no decurso do Conselho de Ministros de hoje, alguns membros do Governo conseguiram fugir por um muro de vedação nas traseiras do palácio e confirmaram à Lusa que estão em segurança.

Pelo menos seis pessoas morreram no tiroteio ocorrido no Palácio do Governo durante a tentativa de golpe de Estado na Guiné-Bissau, disseram à Lusa fontes militares.

Fontes do Hospital Nacional Simão Mendes, em Bissau, tinham avançado à Lusa, durante a tarde, que receberam quatro feridos, um dos quais em estado grave.

De acordo com a mesma fonte, todos os feridos foram transportados do Palácio do Governo para aquele hospital, sendo que três são ligeiros e um está em estado grave.

O Presidente da Guiné-Bissau, Umaro Sissoco Embaló, confirmou hoje também aos jornalistas a existência de mortos e feridos, sem precisar o número.

Vários tiros junto ao Palácio do Governo da Guiné-Bissau foram ouvidos às 15:00 de hoje e em redor da zona militares colocaram um perímetro de segurança e não deixam passar civis.

Desde a hora do almoço, já tinham sido ouvidos tiros de bazuca e rajadas de metralhadora junto ao palácio do Governo da Guiné-Bissau, onde decorria um Conselho de Ministros, com a presença do Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, e do primeiro-ministro, Nuno Nabiam.

Num perímetro de cerca de 500 metros à volta do edifício, os militares colocaram barreiras para impedir o acesso da população à zona, onde também não circulam carros.

Segundo testemunhas contactadas pela Lusa, perto do Palácio da Justiça está uma brigada de intervenção e vários militares e elementos das forças de segurança, um sinal de golpe de Estado em curso.

Homens armados impedem também o acesso à zona do Palácio Presidencial em Bissau.

Estes incidentes na capital guineense junto ao palácio governamental decorrem dias depois de uma remodelação do executivo, decidida pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, que foi contestada inicialmente pelo partido liderado pelo primeiro-ministro, Nuno Gomes Nabiam. Posteriormente, o líder do Governo disse que concordava com a remodelação feita.

As relações entre o chefe de Estado e do executivo têm sido marcadas nos últimos meses por um clima de tensão, agravada nos últimos meses de 2021 por causa de um avião Airbus A340, que o Governo mandou reter no aeroporto de Bissau, onde aterrou vindo da Gâmbia, com autorização presidencial.

O primeiro-ministro começou por dizer que o aparelho tinha entrado no país de forma ilegal e que trazia a bordo carga suspeita, mas dias depois afirmou, perante os deputados no parlamento, que uma peritagem internacional, por si solicitada, concluiu que não se tratava disso, mas sem mais detalhes.

Entre os governantes afastados na remodelação está o ex-secretário de Estado da Ordem Pública guineense Alfredo Malu, que disse que a sua saída está relacionada com a sua atuação no caso do avião retido no aeroporto de Bissau.

Nas declarações aos jornalistas, o ex-secretário de Estado sublinhou que o Presidente da República considerou que foi da sua autoria a ordem de inspeção ao aparelho por parte de uma equipa de peritos norte-americanos.

O primeiro-ministro começou por dizer que o aparelho tinha entrado no país de forma ilegal e que trazia a bordo carga suspeita, mas dias depois afirmou, perante os deputados no parlamento, que uma peritagem internacional, por si solicitada, concluiu que não se tratava disso, mas sem mais detalhes.

Embaixada de Portugal em Bissau pede aos portugueses que fiquem em casa

Embaixada de Portugal em Bissau recomendou hoje aos portugueses na Guiné-Bissau que fiquem em casa, tendo em conta o assalto militar ao Palácio do Governo e ao golpe de Estado em curso.

Num comunicado hoje publicado nas redes sociais, a representação portuguesa "recomenda a todos os cidadãos portugueses residentes na Guiné-Bissau que, em virtude dos recentes acontecimentos, permaneçam em casa e aguardem novas informações".

Na mensagem, a instituição, que tem como embaixador José Rui Velez Caroço, avisa os cidadãos nacionais para que contactem a embaixada, "em caso de emergência", pelos seguintes números: +245 966990029 e +245 956802828.

CEDEAO condena "tentativa de golpe de Estado"

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) condenou hoje em comunicado a “tentativa de golpe de Estado” na Guiné-Bissau e responsabiliza os “militares responsáveis” pela “segurança do Presidente Umaro Sissoco Embaló e membros do seu gabinete”.

“A CEDEAO acompanha com grande preocupação a evolução da situação na Guiné-Bissau, caracterizada por tiros de militares junto ao Palácio do Governo”, lê-se no comunicado.
A organização regional “exige aos militares que regressem aos seus quartéis e mantenham uma postura republicana”.

Guterres pede "fim imediato" dos "combates violentos"

O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, apelou hoje ao "fim imediato" dos "combates violentos" em Bissau e ao "pleno respeito pelas instituições democráticas do país".

Num comunicado distribuído pelo seu porta-voz, Guterres disse estar "profundamente preocupado com a notícia de combates violentos em Bissau", onde está a decorrer um golpe de Estado, com o palácio do Governo e do Presidente da República cercados por homens armados.

Na mensagem, o antigo primeiro-ministro português pede também "o fim imediato dos combates e o pleno respeito pelas instituições democráticas do país".

CPLP condena “veementemente” tentativa de golpe de Estado

A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) condenou hoje “veementemente a tentativa da tomada do poder pela força na Guiné-Bissau”, segundo uma nota do Ministério das Relações Exteriores de Angola, país com a presidência rotativa da organização.

“A Presidência em exercício da CPLP saúda a firme resposta das autoridades nacionais encabeçadas pelo Presidente Umaro Sissoco Embaló que levou ao restabelecimento da ordem e apela a acalmia e tranquilidade”, naquele Estado-membro da comunidade.

(Artigo atualizado às 21:50)