"Veja a contradição das coimas brutais que aplicam e a falta de coragem, perante coimas de tão grande magnitude, não são capazes de inibir os visados, e desde logo mim próprio, do exercício da profissão" respondeu António Tomás Correia ao deputado Carlos Silva (PSD) no parlamento, na sua audição na comissão parlamentar de inquérito à recapitalização e gestão da Caixa Geral de Depósitos.

"Isto diz tudo", acrescentou, relevando que o regulador também devia ter tido "a coragem de dizer" que o Montepio falsificou contas, devido a um processo em que o Montepio é acusado de não cumprir com o provisionamento necessário.

O presidente da AMMG foi questionado pelo deputado do PSD Carlos Silva sobre o "caráter contraditório" entre a aplicação da multa do Banco de Portugal face a alegadas falhas no desempenho de funções de Tomás Correia e o "caráter prudente" que o responsável disse ter quando estava na CGD.

"É contraditório com a acusação que o Banco de Portugal lhe faz, em que o acusa de violar o sistema de controlo interno, violação da gestão de risco de crédito, operações com análise de risco desadequada, ausência de constituição de provisões", disse Carlos Silva.

"Os senhores procuraram ao longo do tempo, encontrar questões éticas. Não encontraram questões éticas e ficaram-se por procedimentos", referiu Tomás Correia.

O gestor afirmou ainda que "o tempo do arbítrio acabou" e que agora "é o tempo da justiça".

"Estou absolutamente convencido que aquela decisão daquela entidade administrativa não resiste no campo judicial", acrescentou.

O presidente da mutualista Montepio salientou que "as entidades administrativas não condenam, isso é feito pelos tribunais".

"Falam, numa outra área, de não conhecermos a origem dos fundos numa filial. Mas dizem que aquelas operações em concreto tiveram crédito. Então, se tiveram crédito, sabemos qual é a origem dos fundos", argumentou o gestor.

António Tomás Correia declarou ainda que "o Montepio resolveu todos os problemas ao longo desta crise, sozinho. Não pediu um cêntimo aos contribuintes, nem para liquidez nem para capital".

"O Montepio não tem lesados, (...) preservou o emprego, (...), não está de certeza absoluta nos devedores que esta comissão de inquérito está a analisar", acrescentou.

O presidente da mutualista disse ainda que "o Montepio foi prudente e atuou quando devia no sentido de proteger o seu património".

"Tem dificuldades? Tem. Muitas dificuldades, porque a crise foi grande, mas hoje estamos bem capitalizados, [com] bons níveis de liquidez e preparados para continuar a apoiar a economia", concluiu.

No dia 21 de fevereiro foi dado a conhecer que o Banco de Portugal condenou Tomás Correia, sete ex-administradores e ainda o próprio banco Montepio a multas por irregularidades relacionadas com concessão de créditos, no âmbito de um processo de contraordenação que teve origem na auditoria especial feita em 2014, a pedido do banco central.

Tomás Correia, atualmente presidente da Associação Mutualista Montepio Geral (dona do banco Montepio), foi condenado a pagar 1,25 milhões de euros.

Já o banco Montepio foi condenado em 2,5 milhões de euros.