“Ninguém apresentou qualquer proposta. Este assunto não está na agenda”, disse o porta-voz da Presidência russa (Kremlin), Dmitri Peskov, aos jornalistas, depois de questionado sobre a possibilidade de uma pausa nos combates na Ucrânia.
Peskov indicou que a principal tarefa das Forças Armadas russas é “proteger” as populações das áreas ocupadas e reconheceu como “difícil” a situação na região de Donetsk (no leste da Ucrânia), uma das quatro regiões ucranianas que Moscovo agora reivindica como sua.
“A operação militar especial continua”, acrescentou o porta-voz, usando os termos utilizados pelas autoridades russas para caracterizar a invasão iniciada a 24 de fevereiro por ordem do Presidente da Rússia, Vladimir Putin.
Por outro lado, o Kremlin garantiu que, se os mísseis ‘Patriot’, associados aos sistemas antiaéreos que Kiev pede há vários meses aos Estados Unidos, forem enviados para a Ucrânia, tornar-se-ão “alvos legítimos” das Forças Armadas russas.
“Absolutamente”, disse Peskov quando questionado se concorda com as declarações do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev, que, no final de novembro, disse que os mísseis ‘Patriot’, caso chegassem à Ucrânia, tornar-se-iam “imediatamente um alvo legítimo das Forças Armadas” russas.
Peskov observou que, para já, se abstém de fazer mais comentários, porque, por enquanto, a possibilidade de os Estados Unidos fornecerem sistemas antiaéreos ‘Patriot’ à Ucrânia só foi relatada na imprensa sem confirmação oficial de Washington.
Segundo reportou na terça-feira a cadeia de televisão norte-americana CNN, a administração dos Estados Unidos, liderada pelo Presidente Joe Biden, está a finalizar os preparativos para enviar os mísseis ‘Patriot’ para a Ucrânia, adiantando que a confirmação oficial pode ocorrer ainda na semana em curso.
A Ucrânia pediu aos Estados Unidos este sistema de defesa antiaérea e de ataque, capaz de intercetar mísseis balísticos e de cruzeiro, dada a intensificação dos bombardeamentos russos, que têm destruído infraestruturas essenciais ucranianas, nomeadamente centrais elétricas.
Desconhece-se, porém, a quantidade de baterias antiaéreas a enviar para a Ucrânia.
Uma bateria inclui normalmente um radar, que deteta e rastreia o alvo, computadores, geradores e uma estação de controlo, além de oito pequenos lançadores com quatro mísseis prontos para disparar.
Hoje, o porta-voz do Kremlin também se recusou a adiantar uma data para a tradicional conferência de imprensa anual de Vladimir Putin, que foi adiada para 2023.
O Presidente russo adiou a habitual conferência de imprensa anual sem explicações, num momento em que Moscovo tem sofrido alguns reveses na campanha militar na Ucrânia.
A Rússia tem descartado a retirada das forças armadas da Ucrânia, prometendo continuar a lutar.
Ainda hoje, um alto funcionário da ocupação russa no leste da Ucrânia, Denis Pushilin, chegou a garantir, em entrevista à agência de notícias Ria Novosti, que pretende “libertar Odessa e Cherniguiv”, duas cidades ucranianas localizadas respetivamente no sul e no norte, longe da atual linha da frente.
Questionado sobre essas declarações, Dmitri Peskov desdramatizou-as, sublinhando que a prioridade é “proteger as pessoas das regiões de Lugansk e Donetsk”, no leste da Ucrânia.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 14 milhões de pessoas — 6,5 milhões de deslocados internos e mais de 7,8 milhões para países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Neste momento, 17,7 milhões de ucranianos precisam de ajuda humanitária e 9,3 milhões necessitam de ajuda alimentar e alojamento.
A invasão russa — justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia – foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.755 civis mortos e 10.607 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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