"Apesar de tantas declarações falsas e mentiras, [foi uma] total e completa absolvição... e WOW, Comey é um bufo", escreveu Donald Trump na sua conta pessoal de Twitter.

O presidente dos Estados Unidos reagiu desta forma à audição de James Comey no Senado, onde o ex-diretor do FBI - despedido por Trump a 9 de maio - acusou de “mentiras” o Governo do novo Presidente, que disse tê-lo intimado a abandonar um aspeto da investigação que estava a ensombrar o seu início de mandato.

O antigo diretor do FBI também confirmou que esteve por detrás das fugas de informação sobre as suas conversas a sós com Trump, referindo que pediu a um amigo que as passasse à imprensa. Comey disse que achou que essa medida - divulgar o teor das conversas - poderia motivar a nomeação de um procurador especial sobre o caso, algo que veio a acontecer.

No seu tweet de hoje, Trump seguiu a linha de muitos órgãos de comunicação social norte-americanos que lhe são afetos, especialmente a cadeia Fox News e os jornais online ultra-conservadores: atacar a fuga de informação assumida por Comey durante a audiência e desvalorizar a revelação sobre as investigações russas.

Comey falou esta quinta-feira, 8 de junho, perante o Comité dos Serviços de Inteligência do Senado que investiga a alegada ingerência nas eleições presidenciais norte-americanas de novembro último.

"Sei que fui despedido por causa da maneira como estava a conduzir a investigação acerca das ligações com a Rússia, e digo-o com base no que ele [Donald Trump] disse. Porque estava, de alguma maneira, a colocar alguma pressão nele. E a irritá-lo", disse Comey.

“O Governo decidiu difamar-me a mim e, de maneira muito mais grave, ao FBI, ao dizer que a organização estava mergulhada no caos [e] que o seu pessoal tinha perdido a confiança no líder – tudo mentiras”, frisou Comey, acrescentando que lamenta que “o FBI tenha tido de as ouvir”.

No seu depoimento, o ex-dirigente da polícia federal norte-americana assegurou que “o FBI é honesto, forte e independente” e que funcionará bem com ou sem ele.

A comparência de Comey na audiência do Senado gerou grande expectativa, por poder funcionar como base para um possível processo de impugnação do mandato presidencial ou julgamento político futuro, por suspeita de obstrução à Justiça por parte de Trump.

Todavia, questionado sobre a intervenção direta de Donald Trump na investigação acerca da intervenção da Rússia nas eleições presidenciais de 2016, em que o republicano acabou por derrotar Hillary Clinton, Comey disse que nunca lhe foi pedido que interrompesse o inquérito.

Comey acrescentou ainda que não é o seu papel afirmar se Trump incorreu num crime de obstrução à Justiça ao sugerir maneiras de realizar a investigação sobre a suposta ingerência russa. "Não acho que deva dizer se as conversas que tive com o presidente podem ser consideradas obstrução à Justiça. Foi uma coisa muito perturbadora, desconcertante", disse o antigo diretor do FBI.

Questionado especificamente sobre o pedido de Donald Trump para que o FBI deixasse de investigar Michael Flynn - ex-conselheiro de segurança nacional obrigado a demitir-se no dia 13 de fevereiro por omitir os repetidos contactos que manteve com o embaixador russo em Washington no ano passado, durante os quais abordou as sanções americanas a Moscovo -, Comey disse que a palavra utilizada não foi um pedido expresso, uma vez que ele utilizou a palavra "hope" (esperar) e não outra expressão que implicasse uma ordem. No entanto, o antigo diretor da polícia federal norte-americana disse que, por estar perante o presidente do Estados Unidos, que interpretou tais palavras como "uma instrução".

Em reação, a Casa Branca limitou-se a afirmar "com certeza que o Presidente não é um mentiroso e, francamente, sinto-me insultada com essa pergunta”, disse a porta-voz adjunta, Sarah Huckabee Sanders, numa conferência de imprensa para jornalistas acreditados na Casa Branca.

Na audição de quinta-feira, Comey deixou poucas dúvidas sobre se acredita ou não nos relatórios de espionagem que confirmam a ingerência da Rússia nas presidenciais. "Não deveria haver qualquer dúvida sobre isto. Os russos interferiram. Aconteceu", disse Comey, sem hesitações. O Presidente Trump tem vindo a sugerir que não acredita que a Rússia tenha algo a ver com o resultado das eleições de novembro, afirmando que todo o tema é uma "artimanha" e classificando a investigação como "uma caça às bruxas".

(Notícia corrigida às 13h59. Correção na tradução: "vindication" é absolvição. Ou seja, as declarações de Comey no Senado, para Trump, representaram uma absolvição das acusações que lhe foram feitas [de ingerência na investigação]. Acrescentado contexto sobre a acusação do Presidente a Comey, de alguém que denunciou - através da imprensa - o teor das conversas entre ambos)

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