O virtual candidato republicano à Presidência americana já descreveu o aquecimento global como uma farsa orquestrada pela China para ganhar vantagem competitiva na indústria em relação aos Estados Unidos. A teoria é considerada "excêntrica" até mesmo entre os céticos do clima.
Depois de limitar-se, até agora, a opinar sobre o tema nas redes sociais, Trump afirmou, numa entrevista na semana passada, que pretende "renegociar" os termos do acordo de Paris, do qual não é "grande fã". O tratado estabelece que 196 nações se comprometem a limitar o aquecimento global abaixo de 2ºC, assim como a ajudar países pobres a lidar com o impacto das mudanças climáticas.
Em um momento em que as nações se aproximam da ratificação do delicado acordo, a perspectiva de Trump na presidência causa arrepios em alguns participantes da conferência do clima de Bonn.
Quando questionado sobre o que mais lhe preocupava nesse momento, o representante de Mali e presidente do grupo de países africanos, Seyni Nafo, não hesitou: "que Trump ganhe a eleição".
Por muito tempo, os Estados Unidos foi o país que mais poluía o planeta e, agora, é o segundo, atrás apenas da China. Desviando-se de um Congresso obstinado e sob o controle republicano, o presidente americano, Barack Obama, usou seu poder executivo para confrontar agressivamente o aquecimento global.
Durante o governo Obama, o país converteu-se em um promotor para que o acordo de Paris fosse adotado em dezembro passado, com o objetivo de reduzir as emissões mundiais de gases causadores do efeito estufa.
No mandato do então presidente George W. Bush, antecessor de Obama, aconteceu exatamente o contrário. Em 2001, o republicano se negou a ratificar o protocolo de Quioto, bloqueando a evolução do processo e provocando o abandono do tratado por parte do Canadá, Japão e Rússia.
Os EUA mudaram
Os especialistas estimam, porém, que mesmo que seja eleito, Trump não terá poder para modificar o acordo de Paris. O republicano poderia, no entanto, "atrasar a dinâmica", adverte o representante malinês. "Mas o que ele quer 'renegociar' realmente?", questiona o especialista americano Alden Meyer. "Não acho que ele entenda o que é esse tratado, nem toda a força que há por trás", lamenta.
"Efetivamente, do ele não gosta, ou o que lhe disseram de que não deveria gostar, é o compromisso de Obama para reduzir as emissões americanas", acrescenta Meyer.
Mais do que retirar os Estados Unidos do acordo de Paris - o que levaria quatro anos de trâmites depois da ratificação - os observadores temem que Trump desmantele as medidas ambientais adotadas no país, relacionadas à proteção do ar, ao consumo de combustível de veículos, entre outros.
"Entramos numa era de convulsão política", disse a representante francesa Laurence Tubiana aos jornalistas durante o evento. Segundo a responsável, "se os Estados Unidos escolherem um governo hostil ao acordo de Paris, isso não vai ajudar". "Mas, na minha opinião, isso não fará que o acordo fracasse", acredita Tubiana.
"Todos os países preparam-se para essa hipótese. E o que ouço é que 'é necessário fazer todo o possível para que os Estados Unidos continuem', mas isso não significa que se trate do princípio e do fim do acordo", acrescenta, argumentando que há outros intermediários - além do presidente - que participam do processo.
Se, por um lado, os Estados Unidos e o mundo mudaram desde Quioto, por outro, as consequências das mudanças climáticas continuam a sacudir o planeta. "Acredito em que Donald Trump é um homem de negócios incrível e um político muito interessante, mas a retórica eleitoral é uma coisa, e a realidade do mundo é outra", lembrou a representante da União Europeia, Elina Bardram. "E a opinião pública dos Estados Unidos também está bastante satisfeita com o acordo", comentou.
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