No dia 20, a QSintra – Em Defesa de um Sítio Único divulgou um manifesto, “Sintra é de todos e precisa de todos”, e, em simultâneo, colocou faixas nas janelas e varandas e cartazes nas montras de lojas, restaurantes e cafés contra a transformação da vila “num mero parque de diversões congestionado”.

Denunciando a “perda de qualidade de vida” dos habitantes de Sintra, a associação criticou os “constantes congestionamentos de trânsito” e a “descaracterização acelerada da zona inscrita como Património Mundial”.

Questionada pela Lusa sobre as críticas, a autarquia de Sintra respondeu hoje que tem tentado implementar “medidas que procuram o equilíbrio entre os benefícios do turismo” e o seu impacto no centro histórico.

A autarquia confirma que o número de atendimentos nos postos de turismo da vila “tem demonstrado um aumento contínuo” – dos 340.633 registados em 2022 cresceram para 522.176 em 2023.

Porém, assinala que se verificou “uma quebra de vendas nos primeiros meses de 2024”: até 15 de julho de 2024 foram vendidas perto de dois milhões de entradas, menos 3% do que em idêntico período de 2023.

No ano passado, os monumentos geridos pela Parques de Sintra - empresa de capitais exclusivamente públicos criada em 2000, após a classificação pela UNESCO como Património da Humanidade – acolheu mais de três milhões de visitantes.

A autarquia exemplifica que houve uma redução “significativa” de visitantes (16,5%, relativamente a 2023) no Palácio Nacional da Pena, “monumento com maior pressão turística”.

A limitação de visitantes a seis mil por dia, imposta no início de 2024, resultou de “uma opção estratégica”, recorda a autarquia, adiantando que vai aplicar uma medida idêntica na Quinta da Regaleira, gerida pela Fundação CulturSintra, onde, a partir de setembro, o número máximo de visitantes diários sofrerá uma redução de 50%.

“Estas medidas, no Palácio Nacional da Pena e na Quinta da Regaleira, têm um profundo impacto na pressão turística que se sente no centro histórico e zonas limítrofes”, destaca a autarquia.

Sobre a questão do trânsito, a Câmara recorda que impôs condicionamentos ao trânsito automóvel no centro histórico da vila e construiu o parque de estacionamento periférico da estação da Portela de Sintra, com 550 lugares.

Atualmente, estão em fase de implementação o Parque de Estacionamento Ramalhão 1 (no final do IC19 e junto à principal entrada de Sintra), para veículos e autocaravanas, e o Parque de Estacionamento Ramalhão 2, na mesma localização, com 500 lugares.

No manifesto, a QSintra faz seis reivindicações: revitalização da comunidade e qualidade de vida dos residentes; maior cuidado e mais critério no planeamento e na gestão urbana; turismo de qualidade e não de quantidade; combater a “excessiva dependência” do turismo; recuperar e preservar a natureza, pedindo “regras e fiscalização mais estritas que preservem a paisagem, a área florestal e a orla costeira”; e a criação de uma estrutura especializada para gerir a Paisagem Cultural de Sintra.

Para a associação, “o turismo é importante para Sintra, mas não pode ser um fator de desqualificação da paisagem e de despovoamento” e não pode prejudicar o dia-a-dia dos habitantes.

Em resposta, a câmara municipal diz que tem “contrariado a vila de Sintra como destino de um dia, criando mecanismos de retenção nas estadias” e que tem desenvolvido programas para contrariar a redução de habitantes no centro histórico, investindo na “compra de espaços e edifícios abandonados no sentido de os recuperar e de os colocar" no programa de arrendamento jovem a custos controlados.

Atualmente, refere, estão a ser reabilitados dois edifícios municipais no centro histórico destinados a habitação jovem, num investimento de dois milhões euros.