“Uma das condições para conseguir melhorias a Matemática é conseguir fazer trabalho exploratório na sala de aula, mas tal é impossível com tão elevado número de alunos por turma”, defendeu a presidente da Associação de Professores de Matemática (APM), Lurdes Figueiral, em declarações à Lusa.
Para a APM, as turmas deveriam ter no máximo 24 alunos ou, caso fossem maiores, deveriam ter dois professores.
A elevada percentagem de chumbos a Matemática preocupa pais e professores, mas também o Ministério da Educação que decidiu criar um grupo de trabalho.
"Pretende-se que este grupo produza recomendações sobre a aprendizagem da Matemática, incluindo uma análise dos planos de formação e investimento passados, da eficácia dos programas que estão em vigor e que já estiveram em vigor, das aprendizagens essenciais, dos instrumentos de avaliação e das estratégias e metodologias mais eficazes", explicou à Lusa o gabinete de imprensa do Ministério da Educação.
Lurdes Figueiral saudou a medida, salientando o facto de este grupo não ter como principal missão desenhar novas metas curriculares e programas, mas fazer um levantamento do que está mal e apresentar recomendações.
No entanto, o coordenador do grupo de trabalho, o professor universitário Jaime Carvalho e Silva, disse em declarações ao jornal Público que deverão surgir alterações aos atuais programas.
Desde que entraram em vigor, há cerca de cinco anos, os programas de Matemática têm sido alvo de fortes críticas por parte da APM, que tem alertado para o facto de serem muito extensos além de existirem muitos conteúdos que não estão adequados à idade dos alunos.
Cerca de 200 professores de matemática, que estiveram reunidos na semana passada no XXXIV Encontro Nacional da APM, defenderam a "revogação imediata das metas curriculares do programa de matemática do ensino básico".
Alterar os programas, que são “desajustados e desadequados à idade dos alunos”, é outras das exigências dos docentes.
Em alternativa, os professores pedem um documento programático baseado na intersecção dos programas anterior e atual que, no imediato e para todos os alunos, substitua temporariamente o atual programa de Matemática A.
“Dificilmente os professores e as escolas têm tempo, espaço e condições para orientar a sua prática e as aprendizagens dos alunos”, lamentou Lurdes Figueiral.
À Lusa, a presidente da APM apresentou algumas medidas que poderiam ajudar os alunos, tal como ter aulas exploratórias ou conseguir identificar precocemente os alunos com dificuldades e oferecer-lhes um “acompanhamento alternativo com metodologias dirigidas”.
Para Lurdes Figueiral, não vale a pena oferecer a estes alunos um apoio semelhante às aulas que já têm: “Não pode ser mais do mesmo”, defende.
Para a APM também é preciso alterar as expectativas que as famílias têm em relação à capacidade dos alunos em aprender: “Os pais aceitam com facilidade que os alunos não tenham boas notas a Matemática, porque existe um estigma hereditário”, revelou.
Em reuniões com professores, muitos pais acabam por desabafar que também eles nunca conseguiram ter bons resultados e por isso os filhos também não vão conseguir.
“Este tipo de herança, esta fatalidade tem de ser combatida”, defendeu, sublinhando que existem estudos que confirmam que tal é possível desde que haja condições para o fazer.
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