“Quero ir à luta, juntar-me ao meu filho e defender a minha pátria”, diz Chernyatevych Voludymyr, com a voz embargada pela emoção e os olhos em lágrimas.
Com ele, seguiram também no autocarro mais cinco atletas que participaram num campeonato europeu de atletismo de veteranos, que se realizou em Braga.
Todos manifestaram a mesma intenção de Chernyatevych Voludymyr: ir à luta e defender o seu país.
“Querem voltar para lutar”, explica Andriy Voytuckh, o tradutor de serviço.
Carregado de alimentos, agasalhos e medicamentos, o autocarro humanitário que hoje partiu de Braga vai a Wroclaw, na Polónia, onde recolherá 40 refugiados ucranianos para os trazer para Portugal.
Segundo Carla Sepúlveda, vereadora da Ação Social na Câmara de Braga, em causa estão 12 crianças e 38 adultos, na sua esmagadora maioria mulheres, uma das quais grávida de 20 semanas.
“Já temos o alojamento identificado”, assegura a autarca, sublinhando que, em muitos casos, foram famílias que se prontificaram para receber os refugiados nas suas casas ou disponibilizaram as suas segundas habitações.
Das 40 pessoas que vão ser recolhidas, a maior parte já tem “retaguarda familiar” em Braga, cidade onde vivem cerca de 800 ucranianos.
No autocarro seguiram também uma médica portuguesa, uma enfermeira ucraniana e um elemento da Proteção Civil, além do tradutor e de Romana Meireles, a “principal responsável” por esta missão humanitária.
“Tinha pensado reunir o maior número de amigos possível e irmos nos nossos carros levar ajuda a quem precisa e buscar famílias, mas, entretanto, surgiu esta solução do autocarro e penso que, assim, a missão tem outro tipo de condições”, explicou Romana Meireles.
Uma missão a que se associou, de imediato, a médica Elisa Condês, de 27 anos, que “embarcou no desafio sem hesitar”.
“Levamos medicamentos para a dor e para eventuais infeções respiratórias, já que na Europa Central está muito frio. Mas levamos também, e principalmente, conforto e uma palavra amiga às pessoas”, atira.
Pela frente está uma viagem de 2.850 quilómetros, que deverá demorar entre 36 e 40 horas.
António Veiga, um dos quatro motoristas destacados, sintetiza o estado de espírito de quem vai assumir “o leme” do autocarro: “Enche-nos a alma podermos participar numa missão destas”.
A partida do autocarro foi assinalada com uma salva de palmas e com votos, quase em surdina, de uma solução rápida para o conflito.
“O que eu mais queria era que este autocarro, no regresso, trouxesse paz”, atirou um ucraniano, vestido com as cores da bandeira do seu país.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de 100 mil deslocados e pelo menos 836 mil refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armas e munições para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.
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