Numa resolução aprovada na terça-feira, o Parlamento russo (Duma) apelou a Putin para que reconheça as repúblicas da região do Donbass, no sudeste da Ucrânia, proclamadas por separatistas pró-Moscovo em guerra contra Kiev desde 2014, com apoio da Rússia.

“Sem dúvida, o reconhecimento não corresponde aos Acordos de Minsk”, disse o porta-voz do Kremlin (Presidência), Dmitry Peskov, citado pela agência estatal russa TASS e pela espanhola EFE, ao ser questionado sobre a reação de Putin ao pedido parlamentar.

Peskov disse que Putin tomou nota do apelo, mas “salientou que o crucial é ajudar a resolver a situação no sudeste” da Ucrânia.

“E isso só pode ser feito através de esforços abrangentes para facilitar a implementação do Pacote de Medidas de Minsk”, disse o porta-voz do Kremlin.

“É nisto que o presidente se vai concentrar”, acrescentou, citado pela TASS.

Peskov disse que Putin defendeu em várias ocasiões o cumprimento dos acordos assinados em 2015, sob mediação francesa e alemã, que preveem um estatuto especial para os territórios controlados pelos separatistas.

Mas, considerou Peskov, a resolução parlamentar é um “indicador claro do estado de espírito dos deputados e da opinião pública prevalecente no país”.

De acordo com o porta-voz, a lei russa não impõe quaisquer prazos ou obrigações ao chefe de Estado para responder à resolução parlamentar.

A iniciativa da Duma foi de imediato condenada pela Ucrânia e pelos países ocidentais, que alertaram que o reconhecimento dos territórios separatistas significaria o fim do processo de paz no Leste da Ucrânia.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, disse, na terça-feira, esperar que Moscovo cumpra “os seus compromissos e participe de boa-fé" nas negociações sobre o Donbass no chamado Formato da Normandia com a Ucrânia, com mediação da França e da Alemanha.

A última reunião dos líderes dos quatro países do Formato Normandia realizou-se em 2019, em Paris.
Nas últimas semanas, realizaram-se duas reuniões de conselheiros políticos no Formato Normandia, sem sucesso, no âmbito da atual crise sobre a Ucrânia.

A guerra na região do Donbass começou em 2014, quando a Rússia invadiu e anexou a península ucraniana da Crimeia.

Desde então, o conflito provocou cerca de 14.000 mortos e 1,5 milhões de deslocados, segundo as Nações Unidas.