Em declarações à imprensa à margem de uma visita a Marrocos, o Alto Representante da UE para a Política Externa, Josep Borrell, questionado sobre o cessar-fogo de 36 horas decretado por Putin por ocasião do Natal ortodoxo, respondeu que o mesmo “não é credível”, considerando que se trata antes de uma tentativa de “ganhar tempo para reagrupar as suas tropas” e de “restaurar a sua reputação internacional, gravemente afetada”.
“O Kremlin não tem qualquer credibilidade e esta declaração de desejo de um cessar-fogo unilateral não é credível. O que nos ocorre a todos é ceticismo, face a tanta hipocrisia” das autoridades russas, declarou Borrell à margem de uma visita à localidade marroquina de Fez, citado por agências noticiosas internacionais.
Na quinta-feira, Putin decretou que as tropas russas a combater na Ucrânia observassem um cessar-fogo de 36 horas, entre o meio-dia de 06 de janeiro e a meia-noite de 07 de janeiro, correspondendo a um apelo do patriarca da igreja ortodoxa russa, Cirilo.
Horas depois, o Presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, acusou a Rússia de tentar “usar o Natal como disfarce” para deter o avanço do Exército ucraniano e reagrupar as suas tropas, tendo vários outros líderes mundiais desvalorizado igualmente o anúncio de um cessar-fogo, como foi o caso do Presidente norte-americano, Joe Biden, segundo o qual Putin está a tentar “ganhar fôlego”.
“Ele (Putin) esteve pronto para bombardear hospitais, creches e igrejas (…) em 25 de dezembro e no Ano Novo (…) Acho que está a tentar ganhar fôlego”, disse Biden.
Depois de a chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock, ter desvalorizado igualmente o anúncio do Presidente russo, comentando que “se Putin quisesse a paz, retiraria os seus soldados para casa e a guerra acabaria”, também o ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho, desvalorizou hoje o cessar-fogo de 36 horas anunciado por Putin, comentando que Moscovo deveria ordenar um “cessar-fogo definitivo e retirar as suas tropas”.
“É difícil olhar para esta decisão de fazer um cessar-fogo de 36 horas como outra coisa que não um exercício de cinismo e uma manobra tática para ganhar tempo e para procurar impressionar a opinião pública internacional”, afirmou, em declarações à agência Lusa à margem do seminário anual do Instituto Camões, em Lisboa.
A ofensiva militar russa foi lançada a 24 de fevereiro do ano passado para, segundo Putin, “desnazificar” e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia.
A invasão foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 6.919 civis mortos e 11.075 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.
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