A Alemanha surpreendeu os seus parceiros europeus no início de março ao bloquear, no último minuto, um texto que pedia a redução a zero das emissões de CO2 dos veículos novos.

O texto, que foi aprovado pelo Parlamento Europeu em fevereiro, impôs então uma motorização 100% elétrica para carros novos vendidos a partir de 2035.

Para justificar a mudança, Berlim pediu à Comissão uma proposta para abrir caminho para veículos movidos a combustíveis sintéticos.

Esta tecnologia, ainda em desenvolvimento, consistiria na produção de combustível a partir do CO2 procedente de atividades industriais, utilizando eletricidade de baixo carbono.

O sistema, defendido por alguns fabricantes alemães e italianos, permitiria prolongar o uso de motores de combustão a partir de 2035.

Nas últimas semanas, a Comissão negociou com a Alemanha para sair do bloqueio.

"Chegámos a um acordo com a Alemanha sobre o futuro uso de combustíveis sintéticos em carros", anunciou o comissário europeu para o Meio Ambiente, Frans Timmermans, no Twitter, este sábado.

"Vamos trabalhar a partir de agora para que o regulamento padrão de CO2 para carros seja adotado o mais rápido possível", acrescentou.

Por sua vez, o ministro alemão dos Transportes, Volker Wissing, adiantou que "os veículos equipados com motor de combustão poderão ser registados a partir de 2035 se utilizarem exclusivamente combustíveis neutros em termos de emissões de CO2".

Solução questionada por ambientalistas

Os combustíveis sintéticos são questionados por ONGs ambientalistas que os consideram caros, grandes consumidores de energia elétrica para sua produção e poluentes, por não eliminarem as emissões de óxido de nitrogénio (NOx).

Muitos especialistas também duvidam que esta solução possa prevalecer no mercado face aos carros elétricos, cujo preço deve cair, segundo as previsões para os próximos anos.

A viragem de Berlim deveu-se a uma iniciativa dos liberais do FDP, um pequeno partido que as sondagens dizem ter uma intenção de voto de 5% na Alemanha, e que perdeu cinco eleições regionais consecutivas.

O FDP espera afirmar-se perante os ambientalistas, apresentando-se como o defensor do automóvel e apostando na hostilidade de grande parte da população à proibição dos motores de combustão.

Para preservar a unidade de sua coligação, o chefe do governo alemão, o social-democrata Olaf Scholz, preferiu alinhar-se à reivindicação do FDP.

Por sua vez, o setor antecipou-se amplamente às regulamentações europeias e investiu maciçamente na fabricação de veículos elétricos.

Mesmo que os combustíveis sintéticos, que ainda não existem, funcionem bem, "não terão um papel importante a médio prazo no segmento de veículos particulares", disse Markus Duesmann, presidente da Audi (parte do grupo Volkswagen), ao semanário alemão Spiegel.

Por Daniel ARONSSOHN/AFP