Israel ordenou alguns dos mais mortais ataques aéreos esta semana desde o início da trégua em janeiro, matando centenas de pessoas, de acordo com o Ministério da Saúde na Faixa de Gaza, governada pelo Hamas.

De acordo com a agência de Defesa Civil do território, hou mais de 500 mortos esta quinta-feira.

"O número total de mártires na agressão da madrugada de terça-feira até o meio-dia de hoje é 504. 190 são crianças", disse o porta-voz Mahmud Basal.

Em resposta ao "massacre de civis", o braço armado do Hamas disparou foguetes contra Tel Aviv, onde as sirenes de alerta soaram.

O Exército israelita informou logo depois que tinha interceptado um projétil disparado da Faixa de Gaza e outros dois que caíram em áreas despovoadas.

"Depois das sirenes soarem nas áreas de Gush Dan e Hashfela, foram identificados três projéteis que cruzavam o território israelita, procedentes do sul da Faixa de Gaza", disse um comunicado militar.

"Pânico no ar"

Israel também anunciou que interceptou um míssil lançado do Iêmen. Os rebeldes huthis apoiados pelo Irã disseram que tentaram atingir o Aeroporto Internacional Ben Gurion.

Fred Oola, médico do hospital de campanha da Cruz Vermelha em Rafah, no sul de Gaza, lamentou que os ataques israelitas tenham interrompido a relativa calma dos últimos dois meses.

"Agora podemos sentir o pânico no ar (...) e podemos ver a dor e a devastação nos rostos das pessoas que ajudamos", disse ele.

O Exército israelita afirmou num comunicado que lançou "operações terrestres direcionadas no centro e sul da Faixa de Gaza para expandir o perímetro de segurança".

"Moradores de Gaza, esta é a última advertência", disse o ministro da Defesa israelita, Israel Katz, na quarta-feira. "Devolvam os reféns e eliminem o Hamas, e outras opções se abrirão, incluindo a possibilidade de se mudarem para outras partes do mundo para aqueles que desejarem fazê-lo".

No centro de Gaza, o Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (Unops) anunciou, na quarta-feira, que um de seus funcionários morreu e outros cinco ficaram feridos em Deir al-Balah por um "dispositivo explosivo" que atingiu um dos seus edifícios.

O Ministério da Saúde do governo do Hamas culpou Israel, enquanto o Exército negou ter bombardeado um prédio da ONU.

Mais tarde, o Ministério das Relações Externas de Israel anunciou que estava a investigar "as circunstâncias" da morte "de um cidadão búlgaro, funcionário da ONU".

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu uma "investigação completa" sobre o incidente. O Reino Unido também exigiu uma investigação "transparente".

Indignação internacional

Os ataques em Gaza, realizados em "total coordenação" com os Estados Unidos, segundo Israel, provocaram um sentimento geral de indignação nos países árabes, no Irão e na Europa.

Em Jerusalém, milhares de manifestantes vaiaram o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na quarta-feira, acusando-o de adotar uma postura antidemocrática e continuar a guerra contra o Hamas sem consideração pelos reféns mantidos pelo grupo palestiniano.

"Esperamos que todo o povo de Israel se junte ao movimento e continue até que a democracia seja restaurada e os reféns sejam libertados", disse Zeev Berar, de 68 anos, que veio de Tel Aviv para se manifestar.

Das 251 pessoas sequestradas durante o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, 58 permanecem em Gaza, 34 das quais foram declaradas mortas pelo exército.

A primeira fase da trégua, que expirou no dia 1 de março, permitiu o retorno a Israel de 33 reféns, oito deles mortos, e a libertação de cerca de 1.800 detidos palestinianos.

Desde então, as negociações mediadas pelo Qatar, pelos Estados Unidos e pelo Egito estagnaram.

O Hamas quer passar para a segunda etapa do acordo, que prevê um cessar-fogo permanente, a retirada de Israel de Gaza, a reabertura de passagens de fronteira para ajuda humanitária e a libertação dos restantes reféns.

No entanto, Israel quer que a primeira fase dure até meados de abril e, para passar à segunda, exige a "desmilitarização" de Gaza e a retirada do Hamas, que governa o território desde 2007.

O ataque do Hamas a 7 de outubro deixou 1.218 mortos do lado israelita, que lançou uma ofensiva de retaliação que resultou em pelo menos 48.570 mortes.