Na madrugada de sábado, a residência oficial do cônsul de Portugal no Rio de Janeiro, que também é sede do Consulado, foi invadida — e o diplomata Luiz Gaspar da Silva e os seus familiares foram feitos reféns.

Ainda não se sabe quem foram os responsáveis, só que provavelmente estariam meio confundidos com o local que estavam a assaltar: segundo o jornal O Globo, testemunhas disseram à polícia que os assaltantes não sabiam que ali funcionava o Consulado, acreditando tratar-se apenas de uma mansão.

Com o decorrer do assalto, os reféns foram libertados e não há registo de feridos. Agora, resta que as autoridades continuem a investigar o sucedido. Nesse sentido, a Polícia Civil do Rio de Janeiro informou hoje que agentes da corporação estão a realizar diligências, inclusive na mata próxima, em busca de indícios relacionados com a invasão ao Consulado.

A autoridade policial também confirmou que o caso foi registado no 10.º Distrito Policial de Botafogo, na cidade do Rio de Janeiro. Além disso, “a perícia foi realizada no local e imagens de câmaras de segurança foram requisitadas para análise”.

Quanto ao diplomata e à família, a experiência causou o susto que seria esperado. “Estão fisicamente bem (…), obviamente bastante traumatizados, como todos estaríamos, mas estão bem. Está tudo bem com a família do cônsul e não há o que reportar, quer com a família do cônsul quer com os funcionários”, disse à Lusa o vice-cônsul no Rio de Janeiro. De resto, apenas desapareceram alguns bens pessoais.

À Agência Lusa, o conselheiro Flávio Martins referiu que o assalto é, no fundo, o retrato do país, uma vez que o ocorrido "já é um pouco daquilo a que as pessoas estão sujeitas, infelizmente, no Brasil e, particularmente, no Rio de Janeiro".

"Claro que assusta e preocupa a qualquer um, mas não nos surpreende, porque sabemos que a maior parte da comunidade já deve ter passado por uma experiência idêntica, em casa, na rua ou no seu carro", disse.

"O Rio de Janeiro é uma cidade imensa, com muitos problemas sociais, muitas assimetrias. (...) porque tem uma característica em que não há bairros com determinadas classes sociais, há uma mistura muito grande e ali a região de Botafogo, onde se encontra o Palácio de São Clemente [Consulado de Portugal], é exemplo disso. Ali há moradias de classe média alta e há também, nas encostas, inclusive nas traseiras do consulado, uma comunidade muito carente, que é a favela do Morro de Santa Marta", detalhou.

Neste contexto social, a pandemia não veio ajudar — até pelo contrário. "É uma cidade com muita insegurança social ainda e, talvez, agravada por toda esta situação, porque a economia no Brasil também não anda boa e uma coisa pode repercutir na outra, o que não justifica [o crime], mas talvez nos faça entender um pouco disso tudo", advogou Flávio Martins.