Há meses que o presidente ucraniano tem implementado uma ofensiva diplomática para conseguir que os poderosos do mundo participem na sua cimeira de paz e mostrar à Rússia, excluída da reunião, que está do lado errado da história.

A presença de dezenas de países, inclusive do Sul Global, tradicionalmente mais próximos de Moscovo, num momento em que a Ucrânia enfrenta grandes dificuldades na frente de batalha, no terceiro ano de guerra com a Rússia, é um primeiro sucesso.

A Rússia, que invadiu a Ucrânia em fevereiro de 2022, não foi convidada para a cimeira.

"É muito surpreendente que 100 países participem de uma cimeira de paz na qual o principal instigador do conflito não participa", reconhece Max Bergmann, ex-funcionário do Departamento de Estado dos EUA.

"É um golpe de mestre diplomático", acrescentou Bergmann, que agora dirige o Programa Europa, Rússia e Eurásia no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS).

William Courtney, um ex-diplomata dos EUA, também considera esta iniciativa de Zelensky um "enorme sucesso".

O presidente ucraniano deu prioridade à participação dos líderes mundiais na conferência de 15 a 16 de junho, que terá lugar na cidade de Burgenstock. Nas últimas semanas, visitou 16 países, especialmente no Médio Oriente e na Ásia, para transmitir pessoalmente a sua mensagem.

"Superexposição"

Por outro lado, a ofensiva diplomática ucraniana sofreu um revés: a recusa da China em participar devido à exclusão da Rússia, sua aliada.

Segundo Simon Smith, ex-embaixador britânico na Ucrânia, Zelensky tem tido "menos sucesso" em convencer os países que não se sentem diretamente preocupados com a ameaça russa a apoiarem Kiev com mais firmeza.

"É mais difícil para ele convencer outros países a compartilharem a sua indignação com o que a Rússia faz, quando esses países não se sentem ameaçados pela Rússia", explicou à AFP.

A cimeira será também uma demonstração de como a diplomacia de Zelensky evoluiu desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.

Para William Courtney, Zelensky tornou-se mais "habilidoso" no cenário internacional, mas para Max Bergmann "perdeu um pouco do magnetismo que tinha em 2022".

Naquele momento, o presidente ucraniano dirigia-se aos parlamentos de todo o mundo por videoconferência e surpreendia a todos com a sua capacidade de resistência. Hoje, "há uma espécie de superexposição. Todo o mundo já ouviu as réplicas e a mensagem, repetidas inúmeras vezes", disse Bergman.

Mas o simples fato de a cimeira acontecer é um sucesso para Zelensky; resta saber se será possível delinear uma posição comum entre os 90 países.

"Os países tendem a apoiar o vencedor e, até agora, não têm certeza de quem será", reconheceu Orysia Lutsevych, chefe do Fórum sobre a Ucrânia em Chatham House.

*Por Jake CORDELL/AFP