O Instituto Português do Sangue apelou à dádiva, lembrando que as suas reservas dão para entre quatro e 19 dias e que os grupos sanguíneos mais afetados são o A positivo, A negativo, O negativo e B negativo.

O instituto pede que se dê sangue, relembrando que “mesmo em tempos de pandemia é possível continuar a ajudar a salvar vidas, já que nos locais de colheita foram reforçadas todas as medidas para que o ato se efetue com segurança” e as deslocações para efeitos de dádiva são permitidas pelas autoridades.

Também a Federação Portuguesa de Dadores Benévolos de Sangue (Fepodabes) apelou no dia 19 de janeiro para a dádiva de sangue, alertando que diversos grupos sanguíneos apresentam reservas nacionais inferiores a sete dias.

“As reservas nacionais de sangue apresentam neste momento níveis preocupantes em diversos grupos sanguíneos. Mesmo em pandemia os hospitais continuam a necessitar de sangue para dar resposta às necessidades dos seus doentes”, alertou a Federação, pedindo aos portugueses para que mantivessem as suas dádivas.

Assim, o SAPO24 explica-lhe se está em condições de dar sangue e quando e onde o pode fazer, segundo as indicações do Serviço Nacional de Saúde.

1 - Posso dar sangue?

Quais são os deveres enquanto dador de sangue?

Não é preciso marcar, mas o dador deve formalizar o seu consentimento para a dádiva por escrito, no local, e deve responder com verdade, consciência e responsabilidade às questões que lhe são colocadas. Posteriormente, é avaliado por um profissional de saúde qualificado que determina a sua elegibilidade para a dádiva de sangue, através de uma avaliação clínica e exame físico (como determinação do seu peso, altura, hemoglobina e tensão arterial).

Desta forma, pretende-se garantir tanto a saúde do dador como a do recetor/doente, preservando também a qualidade e segurança do componente doado.

Nos locais de colheita deve apresentar-se um documento de identificação com fotografia (Bilhete de Identidade/Cartão de Cidadão, Passaporte, Cartão de Residente ou Carta de Condução).

Posso dar sangue enquanto estou a amamentar?

Não é aconselhável, uma vez que a dádiva de sangue durante a amamentação pode reduzir as reservas de ferro e afetar a quantidade deste componente no leite materno. Assim, deve suspender temporariamente a doação de sangue até três meses após a amamentação.

No entanto, estará apta a dar sangue se a amamentação for superior a 12 meses.

Estou grávida. Posso dar sangue?

Enquanto estiver grávida não pode dar sangue. Apenas se poderá candidatar à dádiva de sangue seis meses após o parto.

Em caso de interrupção da gravidez, aborto, gravidez ectópica antes das 12 semanas e sem perda significativa de sangue, pode candidatar-se à dádiva de sangue, sendo avaliada pelo profissional que realiza a triagem clínica.

Caso haja perda significativa de sangue nas circunstâncias anteriormente mencionadas, deve aguardar seis meses para se candidatar à dádiva de sangue.

Fiz um exame endoscópico (endoscopia, colonoscopia). Posso dar sangue?

Sim. Pode dar sangue quatro meses depois da realização do exame.

Fui operado. Posso dar sangue?

Pode dar sangue quatro meses depois, caso não tenha tido complicações e não tenha recebido transfusão de sangue.

Caso tenham ocorrido complicações (como reinternamento ou dificuldade de cicatrização), deve aguardar seis meses.

Posso dar sangue se estiver com gripe?

Caso apresente síndrome gripal (febre, tosse e mialgias) ou sintomatologia compatível com febre indeterminada no período temporal compreendido entre 1 de maio e 31 de outubro de cada ano, é suspenso por 28 dias.

Fora do período referido, e, em presença de uma gripe, poderá dar 15 dias depois, se não apresentar sintomas e não estiver a tomar medicação.

Já dei sangue este ano. Posso repetir a dádiva?

Sim. Pode repetir a dádiva sem qualquer inconveniente para a sua saúde e bem-estar desde que sejam respeitados os intervalos definidos entre as dádivas de sangue.

Os homens podem dar sangue quatro vezes por ano e as mulheres três vezes por ano, com um intervalo mínimo de dois meses entre as dádivas.

Estou a tomar medicação para o colesterol. Posso dar sangue?

A medicação para o colesterol não é impedimento para a dádiva de sangue, desde que se sinta bem.

Mudei de parceiro/a sexual. Posso dar sangue?

A mudança de parceiro sexual implica um período de suspensão de seis meses.

Todas as unidades de sangue colhidas são, conforme a lei obriga, submetidas ao rastreio de doenças infeciosas potencialmente transmissíveis pela transfusão de sangue (hepatite Bhepatite C, sífilis e vírus da imunodeficiência humana). Esta avaliação é feita durante a triagem clínica pelo profissional de saúde, que analisa e decide sobre a elegibilidade do potencial dador de sangue, baseando-se na evidência científica, nas diretivas europeias e na legislação em vigor, tendo em conta as circunstâncias concretas que são apresentadas pelo dador.

Sou homem e homossexual. Posso dar sangue?

Segundo o Instituto Português do Sangue, sim. De acordo com um esclarecimento prestado ao SAPO24, não há atualmente discriminação consoante orientação sexual, sendo que homossexuais masculinos são sujeitos à mesma triagem clínica que homens heterossexuais.

O tema tem sido polémico. Em 2016 passou a ser permitido homossexuais masculinos serem dadores de sangue, mas só podendo fazê-lo um ano após o seu último contato sexual. Esta norma, entretanto, foi revista pela Direção-Geral da Saúde em 2017,  retirando homossexuais e bissexuais da categoria de população com “risco infeccioso acrescido”. No entanto, segundo uma notícia do Expresso de fevereiro de 2020, nesse ano continuavam a ser denunciados casos de homens homossexuais e bissexuais impedidos de dar sangue, mesmo sem terem comportamentos de risco.

O melhor mesmo, portanto, será contactar o seu posto de dador para esclarecer quaisquer dúvidas.

Não sei o meu grupo sanguíneo. É grave?

Não saber o grupo sanguíneo não é impedimento para a dádiva de sangue.

O meu tipo de sangue é necessário?

Sim. Todos os grupos de sangue são necessários, mesmo aqueles que são mais comuns. A raridade/necessidade depende da proporção de pessoas que doam e recebem o mesmo tipo de sangue.

Por exemplo, se pensar que o grupo mais comum é o A+, também é este grupo o mais necessário.

Estou menstruada. Posso dar sangue?

Na avaliação clínica do dador faz-se a determinação da hemoglobina. Se o valor da hemoglobina for superior ou igual a 12.5gr/dl e não tiver cólicas menstruais (dismenorreia) poderá dar sangue.

Fiz uma pequena cirurgia. Posso dar sangue?

Se fez uma pequena cirurgia, pode dar sangue um semana depois, desde que esteja sem sintomas.

Fiz exames solicitados pelo médico de família. Posso dar sangue?

Se realizou exames complementares de diagnóstico e aguarda os seus resultados, não deve dar sangue. Assim que tiver um diagnóstico e os resultados dos exames realizados pode dirigir-se a um local de colheita de sangue para ser esclarecido sobre a elegibilidade para a dádiva de sangue.

Recebi uma transfusão. Posso dar sangue?

  • se recebeu uma transfusão antes de 1980 pode continuar a dar sangue
  • se recebeu uma transfusão após 1980 não poderá dar sangue

A implementação deste critério de suspensão da dádiva de sangue surge na sequência do risco de transmissão de uma variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD), também designada por doença das vacas loucas.

Será a minha profissão de risco?

Apesar de muitas profissões estarem expostas a um certo grau de risco, o que importa considerar na dádiva de sangue é a exposição ao risco infecioso. A título de exemplo, podem ser assim consideradas situações de pessoas que trabalham em enfermarias ou matadouros ou que foram expostas acidentalmente a doença, sangue ou fluidos.

Ainda assim, e apesar das profissões terem um risco inerente, não são por si só impedimento para a dádiva de sangue, mas pode, eventualmente, durante a triagem clínica, ser identificado pelo profissional de saúde qualquer circunstância de risco que impeça a dádiva de sangue.

Fiz um tratamento dentário. Posso dar sangue?

No caso de:

  • destartarização, ajuste de aparelho ortodôntico, branqueamento e polimento dentários: pode dar sangue 24 horas após tratamento e se não tiver sintomas de doença;
  • extração dentária, obturação e implante: pode dar sangue sete dias após terminar o tratamento e se não tiver sintomas de doença;
  • sutura na cavidade oral: pode dar sangue sete dias após remoção dos pontos e se não tiver sintomas de doença;

Tenho diabetes. Posso dar sangue?

Sim. Pode dar sangue desde que os valores da glicemia (açúcar no sangue) estejam normalizados e não esteja a fazer insulina.

Tenho hipertensão. Posso dar sangue?

É recomendável que no momento da dádiva de sangue os valores da tensão arterial estejam compreendidos entre:

  • Sistólica: igual ou superior a 100mmHg e igual ou inferior a 180mmHg
  • Diastólica: igual ou superior a 60mmHg e igual ou inferior a 100mmHg.

A tensão arterial elevada é um fator de risco para a doença cardiovascular e a existência de doença pode condicionar a resposta do coração à dádiva de sangue.

Estou a tentar engravidar. Posso dar sangue?

Sim. Pode dar sangue desde que não tenha atraso menstrual e não esteja em investigação ou sob tratamento de infertilidade.

Tenho fibromialgia. Posso dar sangue?

Sim, se a medicação que o dador realiza não contraindicar a dádiva de sangue e se o dador se sentir bem. No entanto, deverá ser sempre avaliado na triagem clínica pelo profissional de saúde por forma a que a decisão seja adequada ao seu estado.

A fibromialgia é uma síndroma dolorosa não inflamatória caracterizada por dores musculares difusas, fadiga, distúrbios do sono e parestesias.

Tenho mais de 65 anos de idade. Posso dar sangue?

Não há limite de idade para a dádiva de sangue. Os dadores com mais de 65 anos poderão dar sangue com autorização do médico do serviço de sangue.

Tenho um piercing. Posso dar sangue?

Sim. Pode dar sangue quatro meses depois da colocação do piercing.

Tenho uma tatuagem. Posso dar sangue?

Sim. Pode dar sangue quatro meses depois da realização da tatuagem.

As pinturas, stencilling e uso de transfers não contraindicam a dádiva de sangue.

Tive epilepsia. Posso dar sangue?

Pode dar sangue desde que tenham passado três anos desde a última data em que tomou a medicação anticonvulsiva sem reaparecimento de convulsões.

Estou a tomar antibiótico. Posso dar sangue?

O antibiótico não é impedimento para a dádiva de sangue, mas a doença infeciosa subjacente é.

Os agentes infeciosos (bactérias, vírus, protozoários, fungos), apesar de localizados, podem ser encontrados no sangue circulante.

Em caso de infeção aguda (limitada no tempo) pode dar sangue sete dias após terminar o antibiótico e desde que esteja sem sintomas.

Estou a tomar antidepressivos. Posso dar sangue?

Sim. Os antidepressivos não são impedimento para a dádiva de sangue, desde que se sinta bem e não tenha sintomas associados (tristeza profunda, indiferença, baixa autoestima, choro fácil).

Viajei recentemente. Posso dar sangue?

Para uma informação correta é importante saber:

  • para onde viajou ou residiu temporariamente;
  • durante quanto tempo;
  • se ficou doente (ocorrência de sintomas durante ou após regresso);

Tive um aborto. Posso dar sangue?

Pode dar sangue passado 6 meses, desde que se sinta bem.

2 - Onde dar sangue?

A maneira mais fácil para perceber onde poderá dar sangue perto de si, será descarregar e utilizar a aplicação, recomendada pelo SNS, Dador.pt, que permite a quem quer dar sangue saber, em tempo real, onde e quando o poderá fazer, tanto em Portugal Continental como nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.

Horário de atendimento Lisboa

  • Posto Fixo - Área Sangue
  • Segunda - Sábado 8.00 - 19.30
  • Posto Fixo - Área Transplantação
  • Segunda - Quinta 8.00 - 16.00
  • Sexta 8.00 - 15.00

Horário de atendimento Coimbra

  • Posto Fixo - Área Sangue
  • Segunda - Sábado 8.00 - 19.30
  • Posto Fixo - Área Transplantação
  • Segunda - Sexta 8.00 - 19.30

Horário de atendimento Porto

  • Posto Fixo - Área Sangue
  • Segunda - Sábado 8.00 - 19.30
  • Posto Fixo - Área Transplantação
  • Segunda - Sexta 8.00 - 16.00

No entanto, também segundo o SNS, os locais onde é possível dar-se sangue são os Centros de Sangue e Transplantação de Lisboa, Porto e Coimbra ou serviços hospitalares com recolha de sangue, como é o caso do IPO.

3 - É seguro dar sangue? O que vou sentir a seguir?

A quanto corresponde uma dádiva de sangue?

São colhidos cerca de 450ml, o que corresponde a cerca de 10% de sangue (entre 410 a 490ml).

Após a dádiva sentir-me-ei enfraquecido?

O pós-dádiva depende de pessoa para pessoa. Contudo, é importante conhecer algumas dicas para evitar que se sinta enfraquecido:

  • deve tomar o pequeno-almoço/lanche e reforçar a ingestão de líquidos antes da dádiva de sangue;
  • não deve fazer uma refeição abundante antes da dádiva de sangue;
  • no final da dádiva de sangue pode reforçar novamente a ingestão de líquidos e fazer uma refeição ligeira.

Quando posso voltar ao trabalho?

Pode regressar ao seu trabalho decorrido o tempo necessário à realização da dádiva de sangue. Em cada dádiva o médico pode determinar o alargamento do período até à retoma da atividade normal, quando a situação clínica assim o exija, desde que devidamente justificado.

Como posso ultrapassar o meu receio de dar sangue?

Um grande número de pessoas sente receio quando vai efetuar a sua dádiva pela primeira vez, pela possibilidade de uma ocorrência adversa. Vários fatores minimizam esta probabilidade, como:

  • ingestão de líquidos (meio litro de água) antes da dádiva;
  • aplicação de tensão muscular (contração e relaxamento de alguns músculos) durante a colheita.

É seguro dar sangue em Portugal?

Sim. Em Portugal cumpre-se integralmente o previsto na legislação europeia, designadamente as diretivas internacionais.

Como me posso identificar como dador de sangue?

O Cartão Nacional de Dador de Sangue identifica o dador de sangue e contém os registos das dádivas efetuadas constantes na base de dados do cartão nacional de dador.

É considerado um documento apropriado para fazer prova da condição de dador de sangue, nomeadamente, para efeitos de isenção das taxas moderadoras no acesso à prestação de cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nos termos da legislação em vigor.

O pedido de emissão do cartão é da responsabilidade do serviço que realiza a colheita, sendo o Instituto Português do Sangue e da Transplantação, IP (IPST,IP) responsável pelo seu processamento, emissão e envio ao dador.

Como é feito o reconhecimento público do dador de sangue?

A criação das medalhas e diploma de dador de sangue inserem-se no reconhecimento público aos dadores de sangue. Têm como intenção galardoar a sua dedicação inerente à dádiva de sangue. Este reconhecimento apresenta os seguintes graus:

  • Diploma das 10 dádivas – concedido pelo Presidente do Conselho Diretivo do IPST,IP aos dadores que tenham completado 10 dádivas;
  • Medalha cobreada – concedida pelo Ministro da Saúde aos dadores que tenham completado 20 dádivas;
  • Medalha prateada – concedida pelo Ministro da Saúde aos dadores que tenham completado 40 dádivas;
  • Medalha dourada – concedida pelo Ministro da Saúde aos dadores que tenham completado 60 dádivas;
  • Medalha dourada (100 dádivas) – concedida pelo Ministro da Saúde aos dadores que tenham completado 100 dádivas.

As medalhas são acompanhadas de certificado. Em regra, os galardões são enviados para a entidade que os requisitou, que procede, posteriormente, à sua entrega. A emissão e processamento dos galardões envolvem diversas entidades.

É permitida a venda de sangue?

Não. A venda ou comercialização do sangue está proibida por lei.

Artigo por João Maldonado

Edição por António Moura dos Santos