Em 23 de setembro, as Forças de Defesa de Israel (IDF) iniciaram os ataques aéreos mais fortes das últimas décadas sobre o sul e leste do Líbano, atingindo a cúpula do movimento xiita pró-iraniano Hezbollah (Partido de Deus), mantendo-se a incursão terrestre israelita no sul do país, próximo da fronteira comum entre os dois países.
Eis alguns dados sobre a operação israelita no Líbano:
- Vítimas
Desde o início do conflito entre Telavive e o Hezbollah, iniciado um dia depois do ataque do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel, em 07 de outubro de 2023, pelo menos 2.483 pessoas foram mortas e mais de 11.600 ficaram feridas em território libanês, a grande maioria (cerca de 1.800 pessoas) nas últimas semanas.
- Deslocados
O conflito forçou cerca de 1,2 milhões de pessoas a fugir das suas casas, causando a pior crise de deslocados da história do Líbano.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) tem registos de quase 800.000 pessoas deslocadas internamente, um aumento significativo depois de, em setembro, contabilizar 110.000 deslocados, que eram sobretudo pessoas que fugiram da parte sul do país em busca de refúgio noutras áreas teoricamente mais seguras, como a capital, Beirute.
As forças israelitas, que também estenderam os seus ataques a Beirute, ordenam diariamente a retirada de pessoas de certas áreas, em antecipação a futuros bombardeamentos que visam destruir as infraestruturas do partido paramilitar xiita Hezbollah, mas que afetam a população civil indiscriminadamente.
Além das pessoas deslocadas internamente, a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) registou 421 mil passagens na fronteira com a Síria, das quais 70% correspondem a cidadãos sírios que regressam ao seu país.
Outras 16.700 pessoas optaram por fugir para o Iraque, embora neste caso seja considerada a entrada pela fronteira terrestre, mas também pelos aeroportos.
Tanto as agências das Nações Unidas como as organizações não-governamentais que trabalham no terreno alertaram para a situação precária em que se encontram as pessoas deslocadas, refugiados e retornados, uma vez que a grande maioria transporta apenas os poucos pertences que consegue carregar.
A OIM solicitou 426 milhões de dólares (cerca de 393 milhões de euros) para ajudar um milhão de pessoas no Líbano.
- Ataques contra o Hezbollah
Depois de um ataque às comunicações do Hezbollah, em meados de setembro, Israel intensificou a ofensiva, matando o líder do movimento pró-iraniano, Hassan Nasrallah, em 27 de setembro. Dez dias mais tarde, Israel anunciou que também tinha morto o principal candidato à nova liderança do Hezbollah: Hashem Safi al-Din.
Na semana passada, várias subsidiárias da instituição de microcrédito Al-Qard al-Hassan, pertencente ao movimento, foram atacadas.
De acordo com a agência espanhola EFE, embora tenham sido confirmados alguns casos de confrontos diretos com combatentes do Hezbollah, as operações israelitas decorrem, em grande parte, sem acompanhamento jornalístico em zonas inacessíveis à imprensa. O grupo xiita perdeu um grande número de comandantes e altas patentes.
- Ataques à missão da ONU
Alguns militares da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (UNIFIL) ficaram feridos na sequência de ataques considerados como "deliberados" das forças israelitas contra as suas posições no sul do Líbano, que foram condenados pela maioria da comunidade internacional.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, pediu ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, a retirada da missão, que conta com 10.000 operacionais (conhecidos como capacetes azuis), ao que o antigo primeiro-ministro português respondeu remetendo para o Conselho de Segurança da ONU.
- Mediação do conflito
Na segunda-feira, o enviado especial norte-americano Amos Hochstein visitou Beirute procurando uma solução negociada com base na resolução do Conselho de Segurança da ONU que pôs fim à última guerra, em 2006.
A resolução 1701, que colocou um fim a um conflito entre Israel e o Hezbollah em 2006, prevê a cessação das hostilidades de ambos os lados da fronteira e que apenas as forças de manutenção da paz da ONU e o exército libanês podem ser destacados para o sul do Líbano.
A comunidade internacional tem manifestado preocupação com o agudizar do conflito no Líbano, que pode envolver o Irão e escalar para uma guerra regional.
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