O objetivo é “aproximar os políticos dos cidadãos e desmistificar a ideia de que os políticos não são acessíveis”, explicou Rui Oliveira Marques, organizador pela 3ª edição do Festival Política, evento que termina hoje no Cinema São Jorge, em Lisboa, e que envolveu debates, workshops, talks, cinema e muito mais. Tudo à volta da política.

Seguindo essa linha de aproximação entre quem vota e quem é eleito, a propósito das Eleições Europeias, o desafio que foi colocado aos dois lados resultou num speed dating entre o eleitores e aqueles que nos representam, ao longo de mais de uma hora.

Um corrupio de conversas, cronometradas — 5 minutos apenas — com quem se está a candidatar a Bruxelas e Estrasburgo. Umas caras mais conhecidas que outras, de todas as forças políticas nacionais, com representação parlamentar e outros que se apresentam pela primeira vez. A dar ordem de marcha está uma campainha.

Pedro Mota Soares (CDS), Carlos Coelho (PSD), deputado europeu que saiu ainda não se tinha escutado o ping final, Rui Tavares (Livre), Margarida Marques (PS), Anabela Rodrigues (BE), Tiago Aldeias (CDU), Francisco Guerreiro (PAN), Vasco Santos (MAS), Paulo Sande (Aliança), Ricardo Arroja (Iniciativa Liberal), João Patrocínio (PNR) e Mendo Henriques (Nós Cidadãos) foram os políticos que marcaram presença e deram a voz às ideias que defendem e querem ver defendidas no coração da Europa.

Quem foi ao confessionário, interrogatório, shark tank ou pitch invertido, mereceu anonimato. Houve quem se limitasse a ouvir um ou dois candidatos, outros foram bater a todas as portas.

créditos: Miguel Morgado | MadreMedia

Europa vs China

“A China comanda a inovação e a Europa está cada vez mais na cauda. Em relação à Inteligência Artificial, cada vez mais o domínio é da China e dos Estado Unidos, enquanto a Europa está cada vez a ficar mais para trás”, alertava Ricardo Arroja (Iniciativa Liberal).

A China foi também tema que saiu da boca da candidata do PS, Margarida Marques, ex-secretária de Estado dos Assuntos Europeus. “É necessário modernizar a OMC (Organização Mundial de Comércio) para que este seja um instrumento de regulação da globalização. Tem escapado essa regulação”, relembrou, colocando a tónica nos recentes avanços na Cimeira EU-China a propósito da OMC.

O eleito para este debate, João Patrocínio, do PNR, assumiu que “defende uma Europa com Federações”. Trocado por miúdos, disse defender uma Europa “de pátrias livres em que cada país decide o rumo; de uma Europa em que não é a vontade de uma Alemanha ou França que decide para o resto”, avisou.

A um interlocutor que falava de um artigo sobre a Segurança Social, Pedro Mota Soares (CDS) prometeu um segundo encontro, pós-eleições europeias, acompanhado do deputado Felipe Anacoreta Correia, mostrando não existir distâncias entre políticos e eleitores. Sobre a causa que tem sido abraçada pelo partido, Mota Soares aproveitou o tempo de antena para dar uma novidade a quem estava à sua frente: “a barragem de Cahora Bassa foi feita por um empréstimo da Segurança Social ao Estado, Estado que necessitava de um grande investimento ...”.

(A barragem de Cahora Bassa foi um projecto lançado pelo Estado Português, gerido durante décadas como sociedade detida pelos estados português e moçambicano. Em 2007, a Hidroeléctrica de Cahora Bassa foi revertida a favor do Estado moçambicano, passando Moçambique a deter 85% do capital acionista. Mais tarde, em julho de 2012, o Estado português vendeu a sua participação de 15%, que ficou dividida em duas metades pela empresa pública Electricidade de Moçambique (EdM) e pela portuguesa Redes Energéticas Nacionais)

As instâncias europeias em xeque

Carlos Coelho (PSD), eurodeputado, que explicou que tem sido o “Conselho Europeu a dificultar as decisões sobre a questão dos refugiados”, quando confrontado com a questão da representação dos cidadãos no Parlamento Europeu e do poder dos outros órgãos comunitários, deixou um aviso: “nas últimas eleições somente 1/3 do eleitorado votou”, começou por explicar. “Como se resolve? Mais informação”, atirou.

A eleição do presidente Comissão Europeia foi um dos temas em que Rui Tavares (Livre), cabeça de lista, interagiu. Falando de “uma primavera Europeia”, quer que “as esquerdas se juntem” num movimento onde caibam “socialistas e liberais” para, por exemplo, apoiarem “um ou uma futura presidente da Comissão Europeia” que traga à política europeia “aquilo que verdadeiramente uma democracia precisa: alternância e alternativa, para além da grande coligação permanente” entre o Partido Popular Europeu e o Grupo da Aliança Progressista dos Socialistas e Democratas (S&D). Os dois partidos atingem uma maioria de 403 em 751 assentos no hemiciclo.

Populismos foi tema “caro” para Vasco Santos (MAS). “Sem cultura, a barbárie e os populismos acabam por penetrar na situação política”, anotou. Preocupado com “questões ambientais” e de “direitos humanos”, defende uma “Europa construída com regras diferentes e não uma Europa dos poderosos”, afirmou em tom de comício.

Uma conversa de elevador para se apresentarem

“Não sei quem são e quem representam, mas o meu voto é tão importante como de outros. Muito rápido, estilo conversa de elevador, quem são e o que defendem”, perguntou uma jovem a Paulo Sande (Aliança). “Somos o partido da liberdade”, respondeu de imediato o candidato às eleições europeias do partido de Pedro Santana Lopes. “Queremos que a sociedade se liberte do peso excessivo do Estado, Estado que deve ser forte, mas não ocupar todas as funções da sociedade porque, assim, ela deixa de funcionar e impede que empresas progridam e que se crie riqueza”, adiantou.

Num outro "elevador", Francisco Guerreiro fala sobre “a descentralização de produção de energia", ou seja,  "que os cidadãos possam ser capazes produzir energia”. É por aqui que passa a resposta à “crise climática” e à “nova ordem económica” proposta pelo cabeça de lista do PAN.

“Bater pela transparência e contra a corrupção”, é o mote de Nós Cidadãos. Mendo Henriques, que citava, sempre que podia, Paulo Morais, que lidera a lista às europeias, que de acordo com Mendo Henriques, “será eleito” e transformará o gabinete de Lisboa (direito que assiste aos eurodeputados) numa “espécie de Provedor, com uma caixa de sugestões e queixas das pessoas e não numa sala de autopromoção”.

Confrontada com alguém que disse “não ser de esquerda”, mas estar cada vez mais próximo, apesar de acreditar nos “mercados livres”, ao contrário do que é defendido pelo BE, Anabela Rodrigues deixou saber que o que a move “é a luta pela injustiça”, tema que deixou seduzido quem estava à sua frente.

Ping. A campainha tocou. E o debate, cara a cara, entre políticos e cidadãos terminou.

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