O presidente dos EUA fala de sabotadores vestidos de preto, "sombras tenebrosas" e diz-se vítima de golpe de Estado ou pesquisas distorcidas.

O republicano, candidato à reeleição, diz agora que um avião cheio de agitadores teria sido enviado para atrapalhar a convenção nacional do seu partido, em Washington na semana passada.

"Alguém embarcou num avião de uma certa cidade e o avião estava quase lotado de provocadores que vestiam uniformes escuros, uniformes pretos", disse ao canal Fox News na última segunda-feira. No dia seguinte, falou com repórteres sobre um "avião inteiro cheio de saqueadores, anarquistas e agitadores", e acrescentou: "Vou ver se consigo dar-vos essa informação." Mas não o fez.

Na mesma entrevista para a Fox, Trump disse que o ex-vice-presidente Joe Biden, o seu rival democrata na disputa eleitoral pela presidência dos EUA, é um fantoche controlado por "pessoas de quem nunca se ouviu falar, pessoas que estão nas sombras".

"Parece uma teoria da conspiração", disse a repórter da Fox, Laura Ingraham. "São pessoas de quem você nunca ouviu falar", repetiu Trump.

"Q" de QAnon - outra teoria da conspiração

O presidente Donald Trum caracteriza como uma "farsa" e um "golpe" as investigações oficiais sobre suas relações com a Rússia - país apontado pelo serviço de inteligência americano, diversas vezes, por suspeita de interferência nas eleições de 2016 com a finalidade de aumentar as chances de Trump.

Além disso, quase diariamente, o republicano afirma que o potencial aumento do voto pelo correio em novembro, devido à pandemia de coronavírus, é uma tática que incita à fraude nas eleições contra ele.

Estas alegações do atual presidente americano têm lugar na mesma altura em que o grupo de extrema direita QAnon partilha uma teoria da conspiração, que se tornou viral e que está presente desde o início da sua presidência. Os seguidores da teoria QAnon acreditam que um informante anónimo de alta patente do governo, de codinome Q, trabalha heroicamente para expor uma conspiração anti-Trump cujos responsáveis, de alguma forma, estariam a administrar uma rede satânica pedófila internacional que trafica crianças e controla o mundo.

Q tem um número crescente de seguidores on-line e na vida real, inclusive entre o público que vai torcer por Trump em comícios e outros eventos. Uma apoiante republicana do QAnon, Marjorie Taylor Greene, venceu a nomeação republicana para o 14.º distrito da Geórgia e a empresária é agora a grande favorita a vencer um lugar na Câmara dos Representantes do Congresso dos EUA nas eleições de novembro.

Trump, que elogiou amplamente Marjorie, não tem procurado conter a febre Q. "Está a ganhar popularidade", disse o presidente no mês passado. "Eles gostam muito de mim."

Rich Hanley, professor da faculdade de comunicação da Universidade Quinnipiac, de Connecticut, afirma que Trump "pode ser um caso isolado entre presidentes, mas não entre o número crescente de amantes de teorias da conspiração nos Estados Unidos", apontou.

Com a possibilidade de os resultados das eleições presidenciais saírem dias após o encerramento das urnas, devido ao aumento do uso do voto por correspondência, os rumores podem atingir um recorde histórico. "Será o Woodstock das teorias da conspiração, não importa quem ganhe, porque esse tipo de ficção está profundamente enraizado na realidade alternativa de milhões de pessoas", assinalou Hanley.