“Há claramente, e lamento dizê-lo, uma falta de liderança assumida por parte do Ministério da Saúde, fruto da sua má forma de comunicação”, afirmou o antigo secretário de Estado Adjunto do primeiro Governo PSD/CDS-PP de Passos Coelho e que chegou a assumir funções de ministro no segundo executivo da coligação que durou menos de um mês.
No painel de abertura das jornadas parlamentares do PSD, dedicado à resposta de Portugal à crise sanitária, quer à pandemia quer aos doentes não-covid, Leal da Costa considerou que “tem havido um enorme desgaste na capacidade de liderança do Ministério da Saúde” ao longo da pandemia.
“Era impossível que os portugueses não se fartassem de ter todos os dias uma conferência de imprensa de imprensa para, na maior parte dos casos, não dizer absolutamente nada de novo. É de facto uma desgraça completa do ponto de vista da capacidade de comunicação”, criticou.
O antigo governante acusou ainda o Governo de, desde o início da pandemia, se ter mostrado “totalmente incapaz” de usar todo o sistema de saúde e manter, até hoje, “uma política de antagonismo” entre o setor públicos e os setores social e privado.
Leal da Costa considerou que o período de desconfinamento não foi “suficientemente bem aproveitado” para se criarem respostas na intervenção e tratamento dos doentes, estranhando, por exemplo, que só em outubro se tenha anunciado a construção de uma nova unidade de cuidados intensivos do hospital Fernando da Fonseca, em Lisboa.
No mesmo painel, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia, deixou um apelo aos deputados do PSD, perante o agravamento dos números da pandemia.
“Precisamos de agir, precisamos de resolver os problemas no terreno porque a situação está a ter uma evolução bastante negativa que já não se compadece da discussão, é preciso ação”, defendeu.
O médico apontou, tal como Leal da Costa, problemas ao nível da liderança na gestão da pandemia, quer a nível internacional, quer em Portugal.
“Falta coordenação operacional: temos uma liderança técnica, que às vezes parece condicionada por uma liderança política, mas que não operacionaliza - os hospitais, os centros de saúde acabaram por tomar decisões sem essa orientação operacional, o que talvez tenha promovido aqui alguma desorganização”, considerou.
Ricardo Mexia alertou os decisores políticos para a importância de “liderarem pelo exemplo”, considerando que, ao longo do tempo, têm existido nesse campo “diversos equívocos que têm sido contraproducentes na mensagem que se tem passado às pessoas”.
O médico alertou ainda que a magnitude do problema das faltas de resposta aos doentes não covid “é provavelmente maior” do que é possível identificar, e pediu um rápido apuramento das causas da mortalidade aumentada em Portugal.
Na abertura das jornadas, que decorreram na Sala do Senado da Assembleia da República, o líder parlamentar do PSD Adão Silva explicou que alguns dos 79 deputados sociais-democratas estavam a acompanhar os trabalhos através dos seus gabinetes para permitir cumprir as regras de distanciamento impostas da pandemia e apresentou o lema dos trabalhos: “Coragem no presente, esperança no futuro”.
O presidente do PSD e deputado Rui Rio só marcará presença na sessão da tarde, com a direção representada de manhã pelo vice-presidente David Justino e o presidente do Conselho Estratégico Nacional do partido Joaquim Sarmento.
A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 2.213 em Portugal.
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