Eleita Miss Portuguesa a 28 de julho de 2018, numa cerimónia organizada em Rio Tinto, Gondomar, Carla Rodrigues foi a concorrente do nosso país na 68ª edição do concurso Miss Mundo, realizado a 8 de dezembro na cidade de Sanya, na China - a 69ª vai decorrer, pela primeira vez, na Tailândia.

Tudo indicaria que a concorrente de 25 anos, formada em Jornalismo na Universidade Europeia de Madrid, manteria a coroa até à próxima edição, mas o seu título foi revogado.

Em causa está um vídeo publicado a 20 de fevereiro na rede social Instagram. Nessa publicação, Carla, luso-venezuela natural da cidade de Barquisimeto, na Venezuela, apelou ao apoio à iniciativa do autoproclamado presidente interino do país, Juan Guaidó, de fazer entrar uma caravana humanitária no território, com medicamentos e alimentos.

“Sou uma luso-venezuelana preocupada com a situação do nosso país e com a luta dos nosso irmãos para cada dia conseguir alimentos e medicamentos” diz a ex-Miss Portuguesa, dizendo ainda que “a proclamação do nosso presidente interino, Juan Guaidó, devolveu a esperança a milhões de venezuelanos por todo o mundo” e que “Sabemos que é hora de uma transição pacífica para melhorar a democracia”.

A reação da organização do concurso Miss Portuguesa, a “MMRP Beleza por uma causa", chegou a 6 de março, tendo sido publicado um comunicado na página de Facebook.

O texto “informa da destituição de Carla Rodrigues e consequente retirada e proibição dos títulos de Miss Portuguesa e Miss World Portugal, em virtude do incumprimento das regras devidamente contratualizadas para o desempenho do mandato de Miss Portuguesa”. A organização diz compreender que “o ser jornalista e luso-venezuelana levou a que conscientemente Carla Rodrigues tivesse tomado a opção que levou a esta decisão”, desejando ainda “o maior sucesso na sua carreira profissional e pessoal”.

Consequentemente, no mesmo dia, a “MMRP Beleza por uma causa” passou o título retirado a Carla Rodrigues para a 1ª Dama de Honor do Miss Portuguesa 2018, Ana Rita Aguiar.

Contudo, mesmo depois de ter sido apresentado um comunicado a justificar a decisão, a organização publicou um vídeo para “esclarecer algumas inverdades que têm vindo a público, derivado ao facto de termos destituído Carla Rodrigues do título de Miss Portuguesa 2018 e Miss Mundo Portugal 2018”, explica Isidro de Brito, presidente da organização.

Segundo o responsável, Carla Rodrigues “fez um depoimento para determinado perfil do Instagram sem sequer nos ouvir, sem sequer conversar connosco e muito menos ter a nossa autorização” sendo que a concorrente “estava perfeitamente consciente das suas obrigações e responsabilidades quando assinou contrato com a nossa organização”.

Para Isidro de Brito, “uma miss tem obrigação de unir o seu povo, tem obrigação de não ser fator de divisão, sendo que “não é admíssivel que nenhuma miss faça considerações políticas sobre outro país” mesmo ao “cumprimento de causas humanitárias”. O presidente da organização realça ainda que o problema recai no facto de Carla Rodrigues não ter falado em nome próprio, mas “enquanto Miss Portuguesa e Miss Mundo Portugal”.

A retirada do título e subsequentes justificações já mereceram réplica de Carla Rodrigues, que numa sequência de vídeos publicados hoje, novamente no Instagram, pediu  à organização que clarifique a sua posição. “Dizem que estou a promover uma fraude e uma mentira. Quero que me digam a mim se não fui destituída pelas declarações que disse sobre a entrada da ajuda humanitária, sobre o meu apoio ao presidente interino Juan Guaidó e sobre o que necessitamos para a transição pacífica da democracia.”

A ex-Miss Portuguesa defende a publicação do seu vídeo a 20 de fevereiro, lembrando que “em nenhum momento disseram que não podia exprimir a minha opinião política”. O que está em causa para Carla Rodrigues é que a organização disse que teria de “pedir permissão para dar uma entrevista”, mas que o vídeo em causa, para si, “não é uma entrevista”.

Na página de Facebook na organização, o título de Miss Portuguesa é descrito como gerador de “oportunidades profissionais e pessoais, além de abrir canais para que a vencedora possa expressar seus pontos de vista nos mais diversos tópicos em entrevistas em programas de televisão, revistas e websites, enriquecer culturalmente, conhecendo novos países e regiões do país, e tornar-se um modelo de cidadania para todas as gerações”.

O SAPO24 tentou contactar a organização do Miss Portuguesa, sem sucesso.