O incêndio na catedral de Notre-Dame, um dos edifícios icónicos de Paris e da arte gótica, deflagrou no dia 15 de abril às 18:50 locais (17:50 em Portugal) e demorou cerca de 15 horas até ser extinto.
O Presidente de França, Emmanuel Macron, fez uma declaração ao país no dia seguinte, a partir do palácio do Eliseu. No rescaldo do incêndio que afetou a Catedral de Notre-Dame, o líder francês voltou a frisar a união necessária para a reconstrução e disse ser possível ter o monumento pronto em cinco anos.
Segundo o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, o concurso de arquitetos deveria servir para decidir "se devemos reconstruir o pináculo, se devemos reconstruí-la idêntica [ao que era] ou se devemos dotar a catedral de um novo pináculo adaptado às técnicas e ao contexto da nossa época".
Macron falou ainda de um "gesto arquitetónico contemporâneo", uma frase que estimulou a imaginação dos arquitetos, que podem tentar modernizar a paisagem de Paris, como já fizeram Ieoh Ming Pei com a Pirâmide do Louvre ou Renzo Piano com o Centro Georges Pompidou.
Até ao momento, várias são as ideias que têm surgido. Um pouco por todo o mundo, ateliês de arquitetura têm apresentado as suas propostas.
A empresa de arquitetura de Estocolmo UMA propôs substituir o telhado da Catedral de Notre Dame por uma piscina, mantendo as estátuas dos doze apóstolos no local original, "como guardiões", imagens essas que não estavam no dia do incêndio por terem ido para restauro. Para o ateliê, a piscina em forma de cruz seria "um novo espaço meditativo com vistas inigualáveis sobre Paris".
Por sua vez, o Studio NAB, francês, propôs um telhado gigante em forma de estufa, com as estátuas dos apóstolos inseridas na vegetação. Outros sugeriram um parque de estacionamento, uma torre de vidro ou de metal, uma penthouse e até uma recriação do telhado e pináculo em vitrais. E também há quem diga que nada deve ser reconstruído, mas que deve ser feita uma espiral efémera de feixes de luz.
"Não somos obrigados a reconstruir de forma idêntica", defendeu o arquiteto Alexandre Chassang, que projetou uma proposta para uma torre de vidro, conta o The Guardian.
"Uma catedral não é, na nossa opinião, uma ilha isolada no tecido urbano; ela pertence à cidade e ao povo", disseram os arquitetos da UMA.
Contudo, circulam também petições na internet para pedir que se reconstrua a catedral exatamente como ela era, muitas delas procedentes de associações católicas.
Stéphane Bern, um conhecido apresentador de televisão francês que defende a conservação do património, pediu "um pouco de humildade" perante a catedral, que foi construída originalmente por artesãos anónimos. Bern é partidário de reconstruí-la "igual" e chegou mesmo a criticar numa estação de rádio "os delírios de alguns arquitetos".
Algumas pessoas apontam que a melhor solução seria de facto um concurso, mas só com arquitetos especializados em património, que conhecem melhor as restaurações.
“O restauro de Notre Dame deve respeitar as técnicas da época em que foi construída, com respeito pela harmonia gótica geral que vem da combinação de quem a construiu com os materiais que usaram: pedra, madeira, ferro e vidro, referiu Florian Renucci, pedreiro de construções medievais em Guédelon, em Borgonha.
"Devemos respeitar o espírito deste trabalho. O período gótico foi um ponto alto na arquitetura. Se restaurarmos da forma certa, Notre-Dame irá durar mais mil anos", rematou.
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