O uso de máscaras, por parte de educadores e auxiliares, está a ter um impacto negativo no desenvolvimento das crianças, sobretudo aquelas que frequentam creches e berçários.
Segundo especialistas ouvidos pelo Público, existem bebés que não estão a atingir aqueles que seriam os marcos de desenvolvimento esperados para as suas idades devido ao facto de os cuidadores terem o rosto tapado.

“Os bebés, de grosso modo nascem com 25% do cérebro desenvolvido, fazem um milhão de sinapses por segundo no primeiro ano de vida. É um ritmo alucinante, que depende muito da interação com os adultos de referência. Ora, se passam a maior parte das horas do dia com adultos que usam máscaras que lhes escondem o rosto, é como se os bebés ficassem privados de parte da informação, e o seu desenvolvimento de base é necessariamente afetado”, alerta a psicóloga do desenvolvimento Clementina Almeida, uma das especialistas ouvidas pelo jornal.

Já segundo Susana Baptista, presidente da Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular, “os bebés aprendem lendo o nosso rosto e, se este estiver tapado, a informação não verbal raramente passa”.

Com um desenvolvimento baseado no “sistema de dar e receber”, Clementina Almeida explica que a aprendizagem constrói-se numa espécie de “dança” de repetição de expressões entre bebé e adulto, algo que é feito com “base nos neurónios espelho, que vão espelhando a nossa expressão e o afeto associado”. “Ora se quem cuida dos bebés, nomeadamente nas creches onde estes chegam a estar dez ou 12 horas, está sempre com máscara, o bebé fica com o seu cérebro limitado neste tipo de interação”, diz.

Tendo isto em conta, a mesma especialista defende que a Direção-Geral da Saúde “devia alterar a sua recomendação para o uso de máscaras transparentes, que permite às crianças ver o rosto das educadoras e auxiliares”.

No artigo é ainda citado um estudo realizado na China, com 15 mil crianças, que procurou medir o impacto no desenvolvimento infantil do surto provocado pelo SARS (Severe acute respiratory syndrome), que, no início do século, entre 2003 e 2004, se espalhou por vários países asiáticos, levando a que o uso de máscara fosse obrigatório, apontou atrasos linguísticos, motores e nas competências sociais.

O mesmo estudo foi citado em França por profissionais de infância, de neuropsiquiatras a educadores, entre outros, que apontam para “uma catástrofe anunciada”, numa carta aberta publicada no Le Figaro.