“Já estou a ser prejudicado há anos”, disse à Lusa o passageiro Alexandre Custódio, de 34 anos, que chegou ao terminal do Barreiro, no distrito de Setúbal, perto das 08:30 e deu de caras com uma ligação suprimida, mesmo sem a ocorrência de uma greve, o que o obrigou a aguardar junto de outras centenas de pessoas fora da zona de validação do bilhete.
“Estou neste momento a considerar tirar o dia de férias pelo atraso que já está verificado na minha previsível chegada, porque depois disto ainda temos Carris com problemas, metro com problemas, CP com problemas. É aleatório, tanto posso demorar uma hora como duas a chegar ao trabalho, bem como a voltar”, explicou.
Na mesma situação estava Fátima Marques, de 54 anos, que frisou que esta é uma situação que “já se arrasta há imenso tempo”, afetando bastante a vida pessoal dos utentes.
Os passageiros têm de chegar mais cedo ao terminal porque a hora de partida dos barcos nunca é certa, indicou.
“Eu entro às 09:30 em Lisboa e costumo apanhar o barco das 08:40, no horário normal, sem supressões e sem greves, mas repare, estou aqui [08:20] e à noite é a mesma confusão, sempre. […] afeta muito a vida pessoal. Não tenho chegado atrasada, mas para não o fazer tenho de prescindir do meu tempo pessoal”, sublinhou.
Na sexta-feira, a Soflusa anunciou a supressão de dezenas de carreiras para hoje, em ambos os sentidos, e em especial nas horas de ponta devido a “constrangimentos laborais”.
Também na quinta e na sexta-feira se registaram perturbações no serviço devido à greve dos mestres da Soflusa, que estão em luta pela contratação de mais profissionais e contra a sobrecarga de trabalho.
Está já prevista uma nova paralisação parcial, de três horas por turno, entre 03 e 07 de junho.
“Na semana passada praticamente não utilizei porque tive boleia de alguém e não foi necessário, mas desde que começaram as greves tem sido terrível. Mesmo que consigamos, o barco enche ou então, mesmo que ainda não seja o horário dele, acaba por partir e ficam aqui centenas e centenas de pessoas à espera”, adiantou Carla, de 51 anos.
Foi exatamente isso que se verificou no período em que a Lusa esteve no terminal do Barreiro, entre as 08:00 e as 09:40, em que se realizaram cinco carreiras e três foram suprimidas, fazendo com que a lotação dos navios de esgotasse antes da hora prevista de partida.
Apesar de os utentes considerarem que as constantes supressões da Soflusa são já um problema “crónico”, nas últimas semanas o terminal tem registado uma maior concentração porque os barcos não são suficientes para escoar e os meios de transporte alternativos, como a Fertagus (comboio), “não são válidos” por se situarem longe do concelho.
Perante estes constrangimentos, os passageiros consideram que a situação “é absolutamente inadmissível do lado da administração”.
“Pelo que me tenho apercebido, nem é a questão da greve às horas extraordinárias, falta efetivamente gente para fazer as carreiras”, considerou Alexandre Custódio.
Também Carla realçou que “os mestres têm razão” e que existe “pouca diferença entre o ordenado dos mestres e dos marinheiros”, o que faz com que os segundos profissionais não concorram aos concursos para ascender na carreira, uma vez que o salário não aumenta muito, mas “a responsabilidade é maior”.
Desde 10 de maio que as ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa têm registado várias perturbações devido à falta de mestres
O cenário piorou com a paralisação parcial em dois dias e com a greve às horas extraordinárias, que se deve prolongar até ao final do ano.
Segundo a Federação dos Sindicatos dos Transportes e Comunicações (Fectrans), na Soflusa trabalham 21 mestres, dos quais três se encontram de baixa médica, mas são necessários pelo menos 24 para o serviço funcionar com qualidade.
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