“Não estamos surpreendidos com a situação presente, pois era iminente que isto viesse a acontecer”, pode ler-se no comunicado divulgado pela CUSCS horas depois do anúncio, pela administração do hospital de referência do distrito de Setúbal, de que a Urgência Pediátrica daquela instituição iria encerrar entre as 20:00 de hoje e as 08:00 de domingo, por falta de médicos para cumprir a escala noturna.
A CUSCS recorda que o Hospital Garcia de Orta “serve atualmente uma população de aproximadamente 500 mil pessoas, e não pode ficar desprovido deste importante serviço, que recebe cerca de 200 casos por dia”.
“A acrescer a esta situação a Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos está fechada há três meses, não tendo reaberto até agora, apesar das diversas promessas”, salientou a comissão de utentes.
O mesmo texto critica o Governo pelo que considera ser uma “obsessão com o défice [que] tem contribuído para o desinvestimento e subfinanciamento do Serviço Nacional de Saúde, servindo para o crescimento exponencial da medicina privada, transferindo do Orçamento de Estado para estes, cerca de metade do valor afeto ao Ministério da Saúde”.
“Não se pode apontar para um défice zero ou, como já se antecipa para este ano, um excedente orçamental, quando este é conseguido à custa da degradação dos serviços públicos socialmente mais importantes”, referem os utentes daquele concelho de 160 mil habitantes.
De acordo com a administração do hospital, todos os utentes que necessitem de recorrer ao serviço de Urgência Pediátrica do hospital, durante o período em causa, deverão dirigir-se aos hospitais Santa Maria ou Dona Estefânia, em Lisboa.
A administração do hospital disse lamentar esta situação, mas garantiu que estão a decorrer “todas as diligências necessárias para ultrapassar as dificuldades”, em articulação com a Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT) e com a tutela.
Na sexta-feira, o Sindicato dos Médicos da Zona Sul alertou que a urgência pediátrica do Hospital Garcia de Orta continuava em risco de fechar à noite e que mais quatro médicos podem demitir-se caso não existam “mudanças”.
“A proposta dos colegas de pediatria é muito clara: têm que deixar de fazer bancos de urgência à noite, porque só sete pediatras é que fazem urgência e, desses sete, só quatro têm menos de 55 anos [e fazem noites]”, afirmou, na altura, à agência Lusa o presidente do sindicato, João Proença.
Segundo este responsável sindical, há uma grande carência de pediatras neste hospital de Almada, no distrito de Setúbal, o que faz com que os médicos ao serviço se encontrem “exaustos” por terem que fazer banco de urgência “dia sim, dia não”.
A falta de pediatras no Garcia de Orta já se arrasta há mais de um ano, quando saíram 13 profissionais, mas nem o lançamento de concursos foi suficiente para colmatar esta carência porque “ninguém concorreu”, adiantou o responsável.
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