No seu discurso num almoço que reuniu várias centenas de militantes em Ovar, o dirigente comunista endureceu as exigências do partido para quem “desafia a melhoria das condições de trabalho em Portugal”.

“Para aqueles que acham que é necessário manter as leis laborais tal e qual como estão, a todos esses desafiamos: vão trabalhar à hora, ao dia, com falsos recibos verdes, nas plataformas digitais ou nos centro de contacto, por turnos, vão trabalhar hoje sem saber se amanhã têm trabalho, vão trabalhar ao domingo, vão trabalhar 40, 50 e 60 horas por semana, vão trabalhar em dois ou três trabalhos diferentes para conseguirem sobreviver”.

E prosseguiu: “vão deixar os filhos às 07:00 na creche e buscá-los às 19:00. Vão trabalhar, trabalhar e sem as contas conseguir pagar, vão trabalhar, cinco, seis e, por vezes, sete dias por semana. Vão trabalhar todos os meses para esse mês cada vez maior e ganhar menos de mil euros de salário bruto por mês. Vão trabalhar sem serem valorizados, sem serem respeitados, sem terem carreiras nem profissões. Vão fazer essa experiência, que é a experiência de milhões e milhões de trabalhadores no nosso país”.

Concluindo a sua intervenção sobre este ponto, Paulo Raimundo afirmou: “vão e verão que o vosso pedido de estabilidade das leis laborais é uma afronta à instabilidade de todos os dias de milhões e milhões que cá vivem e trabalham”.

Numa intervenção sempre em tom muito crítico, o dirigente do PCP assinalou ainda que “o que se passou com a aprovação do Orçamento do Estado para 2024 revelou, mais uma vez, que há hoje demasiados deputados na Assembleia da República ao serviço da banca e ao serviço dos grupos económicos e há deputados a menos ao serviço dos trabalhadores, do povo, do país, de quem está vivo e de quem cá trabalha, mas isso vai mudar com o reforço do grupo parlamentar do PCP e dos deputados da CDU”.

No final, instado a comentar as acusações do líder PSD, Luís Montenegro, de que a “geringonça ainda está em curso”, Paulo Raimundo respondeu que “é a chamada fuga para a frente, mandando para os outros o que ele não quer resolver na sua área política”.

“Isso é para nos entreter no período natalício”, ironizou o dirigente do PCP, que sobre um novo compromisso à esquerda insistiu que “o problema não está na forma, mas no conteúdo”, lembrando o que “o PS fez nos dois últimos anos” para justificar o “não claro”.

Questionando sobre quais são as exigências do PCP para um compromisso pós-eleitoral respondeu: “eram, por exemplo, todas aquelas contrárias às que foram aprovadas neste Orçamento de Estado”.

“Connosco não falam sobre a forma, só sobre o conteúdo”, esclareceu Paulo Raimundo.