"Há um letreiro que diz que não há pão. Não entendo porque é que nos castigam assim. Não ganhamos o suficiente para comprar outros produtos. O mais barato que se consegue, mas que também é caro, é o pão, que custa quase oito por cento do salário mínimo", explicou uma cliente à agência Lusa.
Yoselín Contreras, 45 anos, saía da padaria La Rosita, em Las Delícias (leste de Caracas), onde, segundo explicou, passa mais de uma hora numa "fila frequente para comprar dois ou três sicilianos (pães)".
"Estive noutras duas padarias que também não tinham pão por falta de farinha. Passei pelo supermercado Central Madeirense para haver se havia pão de sandwich (quadrado e já fatiado), mas disseram-me que só talvez mais tarde", relatou.
Esta doméstica explicou que "é difícil passar parte do dia a tentar conseguir coisas aqui, coisas acolá, trabalhar, atender miúdos e ainda ter que preparar as refeições".
"Está tudo tão caro. Por mais que se façam contas, o dinheiro não alcança e há que estar atenta para conseguir alguns produtos, porque chegam e rapidamente se esfumam", disse.
Vários padeiros disseram à agência Lusa que "desde há longo tempo" que as padarias têm dificuldades para conseguirem matéria prima.
Explicaram que os navios que transportam a farinha se atrasam, depois a distribuição é complicada e que "muitas vezes têm de emprestar sacos para que as fábricas não parem a produção".
"Mas há momentos em que nem nós temos, nem as outras padarias têm", afirmaram.
Segundo o presidente da Federação Nacional de Trabalhadores da Indústria da Farinha, Juan Crespo, escasseiam com frequência produtos para padarias, como o fermento, o açúcar, o sal, a manteiga e o óleo.
Juan Crespo disse também que há problemas na distribuição interna da farinha e que, inclusive, os moinhos locais chegam a parar temporariamente.
Na Venezuela vigora, desde 2003, um sistema de controlo cambial que impede a livre obtenção local de moeda estrangeira no país e obriga os empresários a acudirem ao executivo para obterem as autorizações para aceder a divisas para importar.
Alguns empresários chegam a comprar farinha importada de vários países da América Latina, mas os custos de transporte e a compra não oficial de dólares faz aumentar os custos, tornando inviável essa possibilidade por ser uma área em que os preços máximos de venda ao público são fixados pelas autoridades.
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