O americano Hopfield, professor emérito da Universidade de Princeton, pediu uma maior compreensão sobre o funcionamento destes sistemas para evitar que se tornem incontroláveis.

Num vídeo gravado na Grã-Bretanha para uma reunião da Universidade de Nova Jersey, o investigador de 91 anos lembrou que durante a sua vida testemunhou o surgimento de duas tecnologias poderosas, mas potencialmente perigosas: a engenharia biológica e a física nuclear.

"Estamos acostumados a tecnologias que não são boas ou más, podendo funcionar nos dois sentidos", afirmou.

"Como físico, preocupa-me muito algo que não está controlado, algo que não entendo o suficiente para saber quais limites poderiam ser impostos a esta tecnologia", acrescentou.

Os sistemas modernos de IA parecem "maravilhas absolutas", mas ainda não se compreende bem como funcionam, o que é "muito, muito preocupante", enfatizou.

"É por isso que, assim como Geoffrey Hinton (co-vencedor do Nobel), defendo firmemente uma melhor compreensão", disse, reconhecendo que a IA "desenvolveria capacidades que vão além das que se podem imaginar agora".

Com a ascensão vertiginosa da inteligência artificial e a corrida feroz entre empresas, alguns cientistas apontam que esta tecnologia está a evoluir mais rapidamente do que os cientistas são capazes de compreender.

Hopfield e o britânico-canadiano Hinton, conhecido como "o padrinho da IA", ganharam, nesta terça, o prémio Nobel de Física pelo seu trabalho pioneiro sobre as bases da inteligência artificial, e ambos alertaram sobre a tecnologia que ajudaram a criar.

As investigações dos dois sobre as redes neurais que remontam à década de 1980 abriram o caminho para os sistemas de aprendizagem profunda de hoje, que prometem revolucionar a sociedade, mas geram temor pelos seus alcances.

O próprio Hinton, de 76 anos, conhecido como um pessimista da IA, voltou a alertar para os riscos, nesta terça, durante uma conferência de imprensa na Universidade de Toronto, da qual é professor emérito.

"Se olharmos em redor, há muito poucos exemplos de coisas mais inteligentes que são controladas por coisas menos inteligentes, o que faz com que nos perguntemos se, quando a IA for mais inteligente que nós, assumirá o controlo...", disse ele aos jornalistas.

Ele também admitiu que atualmente é impossível saber como escapar dos cenários catastróficos, e "por isso precisamos de mais investigações urgentemente".

"Os nossos melhores investigadores jovens, ou muitos deles, deveriam trabalhar na segurança da IA, e os governos deveriam obrigar as grandes empresas a proporcionar as instalações necessárias para fazê-lo", acrescentou.

Nesta quarta-feira será atribuído o Nobel de Química, e na quinta e na sexta serão anunciados os vencedores dos prémios de Literatura e da Paz. Em 14 de outubro, o anúncio do vencedor do Nobel de Economia encerrará a temporada de 2024.