"Estávamos acostumados a ter uma festa de 500 a 600 pessoas, mas a situação na Venezuela, hoje, é muito diferente porque implica muito esforço, principalmente económico", disse à Lusa o presidente da Associação Civil Amigos de Terras de Santa Maria da Feira (AATSMF), Rodrigo Ferreira, a propósito da festividade, que este ano contou com a participação de pouco mais de cem pessoas.
Desde há 20 anos que os portugueses celebram as festas das fogaceiras na Venezuela, uma iniciativa que costumava ter uma parte religiosa e uma recreativa, incluindo a recriação de uma feira medieval, almoços, espetáculos musicais e dança no Salão Nobre do Centro Português de Caracas. Neste domingo, no entanto, a iniciativa esteve limitada a uma missa, seguida de procissão e um convívio naquele clube.
"Mantemos e queremos manter a tradição de realizar a festa das fogaceiras em Caracas", garantiu Rodrigo Ferreira, que referiu que muitos portugueses emigraram da Venezuela e que mais de metade dos 31 membros da comissão que preparava a festa estão atualmente no estrangeiro, à procura de novas oportunidades.
Segundo o responsável, a festa tem origem numa promessa, feita há 514 anos pelos feirenses ao mártir São Sebastião, de distribuir fogaças (espécie de pão doce) pelos pobres e presos de Santa Maria da Feira (distrito de Aveiro), se acabasse com as mortes provocadas pela peste.
"Hoje, pediria que pusesse a mão sobre a Venezuela porque tanto imigrantes como o povo venezuelano estão a passar por muitas necessidades, o que não deveria acontecer com os recursos naturais que este país têm", comentou.
Em troca, explicou, reafirma a promessa feita, por ele e um grupo de feirenses, de continuar a fazer a festa das fogaceiras.
"Se São Sebastião puser a sua mão sobre a Venezuela e as melhorias forem notáveis, se voltarmos a ser o povo que eramos antes, prometo continuar a fazer o possível para realizar esta festa. Não sei se estarei na Venezuela, mas prometo que onde estiver, farei essa festa", afirmou.
Sobre a situação da comunidade portuguesa e lusodescendente, estimada em cerca de 300 mil pessoas, o responsável da associação disse esperar uma "ajuda mais efetiva" por parte das autoridades de Portugal.
"Fala-se muitas vezes que o Governo quer apoiar, mas em concreto, ainda não vi algum ato que me dê a esperança de poder confiar nas autoridades portuguesas, de que estão a esforçar-se para ajudar", comentou.
"Conheço pessoas que foram para Portugal, contando com o apoio que iriam receber, que estariam amparados, mas chegaram lá e não era assim", referiu.
Rodrigo Ferreira pede para que sejam flexibilizadas as "normas" para os que partem da Venezuela, sobretudo quanto à "documentação de estudos e de outras coisas que exigem certificações das autoridades" venezuelanas, porque "não é fácil", e obtê-los representa um custo e tempo adicionais.
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