“Eles deveriam retirar este ultimato. Ninguém pode fazer-nos um ultimato”, declarou Nicolás Maduro numa entrevista com o canal CNN Turk, citada pela agência France Presse.
Madrid, Paris, Berlim, Lisboa, Londres e Bruxelas exigiram no sábado que Maduro convoque eleições na Venezuela no prazo de oito dias, caso contrário estas capitais reconhecerão como “Presidente interino” o líder do Parlamento venezuelano e presidente autoproclamado, Juan Guaidó.
O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, tem contado com um crescente apoio internacional e aumentará hoje a pressão contra o presidente com a convocação de um protesto e novas promessas de amnistia para os militares que colaborarem com um governo de transição.
Estimulado pelo apoio cada vez mais firme da Europa e Estados Unidos, Guaidó definirá a data de uma "grande marcha", após uma semana que deixou 29 mortos e mais de 350 detidos em protestos e distúrbios, de acordo com grupos de defesa dos direitos humanos na Venezuela.
"Vamos seguir até conseguir o fim da usurpação, um governo de transição e eleições livres", afirmou no sábado o líder opositor, de 35 anos.
Guaidó pediu aos seus seguidores que distribuam neste domingo o documento de lei de amnistia aprovado pelo Parlamento de maioria opositora, que preside desde 5 de janeiro.
"Vamos levá-lo primeiro aos nossos familiares e amigos militares, e em pequenos grupos, para que não sintam que é uma afronta, a cada posto policial ou militar", disse.
Embora as suas decisões tenham sido anuladas pelo Supremo Tribunal de Justiça, que considera a Assembleia Nacional em desacato, o Congresso aprovou uma amnistia que dá "todas as garantias constitucionais" a militares e civis que "colaborem na restituição da democracia".
"Eliminação da responsabilidade civil, penal, administrativa, disciplinar e tributária das investigações, procedimentos, penas e sanções que aconteceram desde 1 de janeiro de 1999", afirma o documento, que engloba as duas décadas de governo chavista.
Guaidó pretende abalar a principal base de apoio de Maduro, as Forças Armadas, que, embora tenham reiterado esta semana "lealdade absoluta" a Maduro, demonstram fissuras.
No sábado, o adido de Defensa da Venezuela em Washington, coronel José Luis Silva, não reconheceu Maduro como presidente e pediu aos militares, num vídeo gravado em seu escritório e divulgado no Twitter, que apoiem Guaidó, antes de afirmar que se colocou às suas ordens.
"Pressão internacional"
No sábado, a União Europeia (UE) afirmou, através da sua chefe de diplomacia, Federica Mogherini, que adotará medidas caso não sejam convocadas eleições, enquanto Espanha, França, Alemanha e Reino Unido deram um ultimato de oito dias para o anúncio de uma nova votação, ou que então reconheceriam Guaidó como presidente encarregado da transição.
Portugal mostrou uma postura semelhante, com o ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, afirmar que que o prazo de oito dias dado pela UE a Maduro para aceitar a realização de eleições livres “é o bastante”.
"A resposta da Europa foi contundente (...) abre uma margem de tempo para que os funcionários, civis e militares, que desejam dar este passo", reagiu Guaidó, antes de advertir que não aceitará "falsos diálogos e muito menos eleições que não tenham condições reais".
Durante uma reunião no Conselho de Segurança da ONU sobre a Venezuela, o chanceler Jorge Arreaza rejeitou o ultimato europeu: "Ficar dependentes dos Estados Unidos? (...) Do governo de Donald Trump? A Europa, a dar-nos oito dias de quê? Ninguém vai nos dar prazos."
Na mesma reunião, o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, pediu a todos os países do mundo união junto das "forças da liberdade" em apoio a Guaidó.
Além dos Estados Unidos, vários países da América Latina reconheceram o líder opositor. Rússia e China, entre outros, permanecem ao lado de Maduro.
Guaidó afirmou na passada quarta-feira que é o presidente, depois do Congresso ter declarado Maduro "usurpador" por iniciar em 10 de janeiro um segundo mandato considerado ilegítimo por parte da comunidade internacional, que considera que a sua reeleição foi marcada por fraudes.
Depois de Washington ter reconhecido Guaidó como presidente interino, Maduro rompeu relações diplomáticas com os Estados Unidos e ordenou o fecho da embaixada venezuelana e de todos os consulados em território americano.
Guaidó pediu aos diplomatas americanos que permaneçam no país e Washington afirmou que Maduro não tinha autoridade para tomar a decisão de romper relações.
Ao final do prazo de 72 horas determinado por Maduro para a saída dos diplomatas americano, ele anunciou no sábado uma negociação para estabelecer em 30 dias escritórios de interesse nos dois países, como os que tinham Cuba e Estados Unidos.
Maduro disse que a Venezuela continuará a vender petróleo aos Estados Unidos, mas afirmou que procurará novos mercados caso Trump imponha um embargo petrolífero.
*Com agências
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