“Existem propostas na mesa de negociações, no âmbito do Mecanismo de Montevideu, que sugerem um diálogo inclusivo entre todas as forças políticas da Venezuela. Esperamos realmente que o líder da oposição Guaidó aceite e responda”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, numa altura em que Maduro e Guaidó trocam argumentos e acusações por causa da entrega de ajuda humanitária internacional ao povo venezuelano.

O chefe da diplomacia russa referia-se à reunião ministerial, e primeira, do chamado Grupo de Contacto Internacional para a Venezuela, grupo que integra a União Europeia, vários Estados-membros do bloco comunitário (entre os quais Portugal) e alguns países da América Latina, que decorreu no início do mês na capital uruguaiana.

O objetivo do Grupo de Contacto é fomentar o diálogo político entre as partes e encontrar uma solução pacífica para a crise venezuelana, através de eleições credíveis, livres e transparentes, excluindo o uso da força.

“Os resultados só podem ser alcançados através de um diálogo inclusivo e de compromissos. Qualquer uso da força apenas vai agravar o problema”, referiu Lavrov, acrescentando que espera que “a prudência prevaleça”.

Milhares de apoiantes da oposição venezuelana são esperados nos próximos dias junto das fronteiras do país para presenciar a entrada da ajuda humanitária enviada pelos Estados Unidos e pelo Brasil, que está há vários dias armazenada em localidades fronteiriças, como é o caso de Cúcuta, na fronteira entre a Colômbia e a Venezuela.

Militares leais ao Presidente Nicolás Maduro já avisaram que estão determinados em travar estas pessoas.

A entrada da ajuda humanitária oferecida pelos Estados Unidos (alimentos e medicamentos) é um assunto sensível na Venezuela.

Juan Guaidó estabeleceu uma data, 23 de fevereiro (sábado), para a entrada da ajuda humanitária no país, apesar da recusa de Maduro.

“A ajuda humanitária vai entrar, sim ou sim (de qualquer maneira), o usurpador terá que ir-se (embora), sim ou sim, da Venezuela”, afirmou, na semana passada, o autoproclamado Presidente interino.

O governo venezuelano tem insistido em negar a existência de uma crise humanitária no país, afirmação que contradiz os dados das Nações Unidas, que estimam que mais de 2,3 milhões de pessoas terão saído do país desde 2015 por causa de uma grave escassez de bens.

Maduro encara a entrada desta ajuda humanitária como o início de uma intervenção militar por parte dos norte-americanos e tem justificado a escassez com as sanções aplicadas por Washington.

Para contrapor a assistência norte-americana, o líder venezuelano anunciou a entrega de 300 toneladas de medicamentos oriundos da Rússia e de 933 toneladas de bens fornecidos por Pequim, Moscovo e Havana, todos aliados de Caracas.

“Agradecemos à Rússia pela entrega de material médico necessário, que chegou à Venezuela”, disse a vice-presidente venezuelana, Delcy Rodriguez, numa entrevista ao jornal russo Rossiskaia Gazeta, hoje publicada.

Sergei Lavrov não fez qualquer menção ao envio de ajuda humanitária russa para a Venezuela, mas uma fonte russa, citada pela agência estatal Ria Novosti, confirmou que medicamentos e material médico provenientes da Rússia tinham chegado hoje ao aeroporto de Caracas.

A Rússia e a Venezuela terão “em breve” reuniões em vários níveis para discutir a crise no país, indicou o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Riabkov, também citado pela Ria Novosti.

A crise política na Venezuela agravou-se em 23 de janeiro, quando o líder da Assembleia Nacional (parlamento), Juan Guaidó, se autoproclamou Presidente da República interino e declarou que assumia os poderes executivos de Nicolás Maduro.

Guaidó, 35 anos, contou de imediato com o apoio dos Estados Unidos e prometeu formar um governo de transição e organizar eleições livres.

Nicolás Maduro, 56 anos, no poder desde 2013, recusou o desafio de Guaidó e denunciou a iniciativa do presidente do parlamento como uma tentativa de golpe de Estado liderada pelos Estados Unidos.

A maioria dos países da União Europeia, entre os quais Portugal, reconheceram Guaidó como Presidente interino encarregado de organizar eleições livres e transparentes.

Na Venezuela residem cerca de 300.000 portugueses ou lusodescendentes.