“A timidez, a falta de clareza, a falta de assertividade do Governo na reação a esta crise por parte de um país amigo, como é ou deveria ser a Venezuela, não protege, não ajuda a proteger a comunidade portuguesa”, declarou à agência Lusa João Paulo Batalha.
Para o responsável da associação cívica, o Governo português “deve ser firme na sua condenação a este tipo de deriva antidemocrática e, obviamente tem de estar capacitado para dar, se necessário for, o apoio aos portugueses”.
“Sabemos que há, obviamente, muitos portugueses que estão no centro desta crise. Eu acho que isto tem justificado alguma timidez, chamamos-lhe assim, do Governo português na forma como tem reagido a esta crise”, sublinhou o diretor executivo da Transparência e Integridade.
Entretanto, para Batalha, “esta timidez não parece minimamente ajustada à gravidade da situação”.
“Isso faz-me lembrar a cumplicidade que o Governo português teve, na altura, com o Apartheid sul-africano, exatamente com o mesmo argumento da existência de uma grande comunidade portuguesa na África do Sul”, acrescentou.
“Lamento que o Governo português não seja mais claro nas suas tomadas de posição e menos ambivalente, infelizmente o tem sido, porque é fundamental que a comunidade internacional, neste momento, coloque-se do lado dos cidadãos venezuelanos e da sociedade civil venezuelana na rejeição deste estado de coisas”, disse ainda o responsável da associação cívica.
O Governo português tem seguido as posições da União Europeia no que diz respeito à crise na Venezuela.
Na quarta-feira, ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva afirmou que Portugal, tal como os restantes países da União Europeia, não pode reconhecer a Assembleia Constituinte da Venezuela eleita no dia 30 de julho, a qual classificou de “um passo negativo.
Trata-se de “um passo negativo no processo”, disse o ministro, acrescentando: “É necessário o regresso à normalidade constitucional, com pleno respeito dos poderes dos órgãos eleitos, pela separação de poderes, e é um apelo muito veemente da nossa parte para que as partes recusem e renunciem a qualquer forma de violência e se envolvam num processo político que resulte num compromisso, o regresso à normalidade constitucional na Venezuela e um calendário eleitoral que seja por todos aceite”.
Sobre o pedido do presidente do Parlamento Europeu à União Europeia para que esta imponha sanções aos membros do Governo venezuelano de Nicolás Maduro, como a limitação dos movimentos no território comunitário e o congelamento de ativos económicos, o ministro referiu que ainda não existe uma decisão.
“Não ultrapassamos etapas e definimos sempre a nossa posição, o nosso falar e o nosso silêncio a partir da pergunta principal: o que ajuda mais e o que prejudica mais a nossa comunidade portuguesa e luso-venezuelana que reside na Venezuela. Não faço nada que prejudique e faço tudo o que possa ajudar”, garantiu o ministro.
A este propósito, referiu Santos Silva que “o Governo português concorda com a posição da União Europeia, que ainda não considerou a possibilidade de utilização de outras ações políticas e diplomáticas”.
Sobre a comunidade portuguesa e luso-venezuelana que se encontra na Venezuela, Augusto Santos Silva garantiu que esta é a principal preocupação do Governo.
A 30 de julho, foi eleita uma nova Assembleia Constituinte, convocada pelo Presidente Nicolás Maduro e boicotada pela oposição.
A Venezuela atravessa uma grave crise política, com manifestações quase diárias contra o Presidente Maduro e que em quatro meses provocaram 120 mortos.
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