“O que mais nos indigna é que não há qualquer suporte técnico a suportar” a mudança, disse à agência Lusa o bastonário da Ordem dos Médicos Veterinários, Jorge Cid, salientando que o Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, para quem passariam as competências atuais da Direção-Geral de Agricultura e Veterinária (DGAV), “não tem qualquer tradição, não tem técnicos, não tem nada a nível de saúde pública”.

“É quase como passar a Direção-Geral da Saúde para o Ministério dos Transportes ou para outro qualquer, não faz qualquer sentido”, ilustrou.

Como autoridade sanitária nacional para os animais, a DGAV tem “cem anos a tratar de todos os problemas de saúde pública relativos à medicina animal, inclusive os animais de companhia”, salientou.

Com a mudança pretendida, os animais de produção continuariam sob a tutela da Agricultura, o que a Ordem considera “desastroso para a execução dos planos de controlo e para os sistemas de alerta de doenças”.

“Há que ter uma autoridade médica veterinária muito forte, muito competente para os desafios que se têm posto no passado e que se vão por cada vez mais, no futuro. Um estudo mundial diz que 70 por cento das doenças emergentes futuras terão origem animal”, referiu Jorge Cid.

“A Ordem tem tentado fazer tudo o que está ao seu alcance para que isto não aconteça. Fizemos uma pergunta à OIE [sigla da Organização Mundial da Saúde Animal] e à Federação dos Veterinários Europeus e todos estão completamente contra esta situação, dizem que é retroceder 50 anos e seria caso único na Europa”, afirmou.

A proposta dos médicos veterinários é antes “reforçar o organismo que tem o ‘know how’ destas matérias, que tem que ter mais médicos veterinários, mais recursos humanos e financeiros para desempenhar as tarefas de que está incumbido”.

Por parte da tutela, criticam que se queira mudar “por uma questão de orientação política”.

Para Jorge Cid, na raiz da mudança estão “caprichos” da tutela por causa de um incêndio que em julho passado provocou a morte de dezenas de animais num canil ilegal.

“Não foi um problema da DGAV. Aproveitou-se para mudar coisas sem qualquer estudo técnico e são matérias de extrema importância, quer para os animais, em primeiro lugar, quer para as pessoas”, afirmou.

A Ordem dos Veterinários alerta que doenças como a raiva, que foi erradicada em Portugal, mas que continua a matar dezenas de milhares crianças anualmente em todo o mundo, pode até regressar, uma vez que ocorre “nos países em que as populações de cães e gatos errantes não são controladas e vacinadas”.