Do teto da Galeria Vera Cortês, estão suspensas oito peças, com uma ou mais camadas, que ficam a poucos centímetros do chão, onde se misturam retratos de pessoas e imagens de cidades. Alguns dos retratos já foram trabalhados por Vhils de outras formas, e todos “são de viagens dos últimos dez anos, de sítios diferentes e de reflexões diferentes”.
“Cada um deles tem uma história, uma reflexão sobre a cidade, e a própria sinalética que está neles vem de cada sítio onde os retratos e as imagens foram captados. Daí o trabalho ser quase uma reflexão, no mundo global em que vivemos hoje, sobre a condição humana no espaço urbano, seja em Portugal, na Austrália ou na China”, referiu o artista em declarações à Lusa.
Em algumas peças que constituem a instalação “os rostos quase que se perdem, alguns até ofuscados quase com a presença do espaço urbano”.
Esta instalação faz parte de uma reflexão maior “sobre o modelo de desenvolvimento vigente e o impacto que isso tem na identidade”. “Em nós, enquanto seres humanos, e do que estamos a abdicar em nome do nosso conforto. E há nessa reflexão algo que já se repete historicamente com o ser humano, mas que se tem intensificado nestas últimas décadas”, disse.
“Intrínseco” aborda também “o consumo e a plastificação”. “Tudo aquilo que consumimos e do impacto que isso tem no ambiente, mas também a plastificação da maneira de nos relacionarmos e da maneira como abdicamos de coisas intrínsecas a nós, daí o nome da exposição”.
Na instalação, em exposição na Galeria Vera Cortês, Alexandre Farto usou o PVC (policloreto de vinilo, um tipo de plástico) pela primeira vez, que “tem essa componente de trabalhar quase a plastificação que existe [na sociedade]”.
Nas peças é visível também sinalética das cidades, “que vem também da metáfora de que toda a sinalética da cidade é quase aquilo que te guia ou que te condiciona”. “Daí a escolha desta sobreposição entre o rosto, a identidade, mas também a cidade e, ao mesmo tempo, tudo aquilo que te condiciona e a maneira como a cidade te condiciona na tua condição”, explicou.
Algumas camadas foram pintadas com tinta, porque Alexandre Farto queria “também que a tinta ocupasse um bocado o espaço, numa ideia de como é agressiva toda esta imposição urbana e o quão isso condiciona”.
“Intrínseco” é inaugurada na quinta-feira à noite e estará patente entre sexta-feira e 17 de março. A exposição pode ser visitada de terça a sexta-feira, entre as 14:00 e as 19:00, e, aos sábados, entre as 10:00 e as 13:00 e as 14:00 e as 19:00.
Esta é a primeira exposição de Vhils em Lisboa desde 2014, quando inaugurou a sua primeira grande mostra numa instituição nacional, o Museu da Eletricidade: “Dissecação/Dissection”, que atraiu mais de 65 mil visitantes, em três meses.
Nascido em 1987, Alexandre Farto cresceu no Seixal, onde começou por pintar paredes e comboios com ‘graffiti’, aos 13 anos, antes de rumar a Londres, para estudar Belas Artes, na Central Saint Martins.
Captou a atenção a ‘escavar’ muros com retratos, um trabalho que tem sido reconhecido a nível nacional e internacional e que já levou o artista a vários cantos do mundo.
Além de várias criações em Portugal, tem trabalhos em países e territórios como a Tailândia, Malásia, Hong Kong, Itália, Estados Unidos, Ucrânia, Macau e Brasil.
Em 2015, o seu trabalho chegou ao espaço, através da Estação Espacial Internacional, no âmbito do filme “O sentido da vida”, do realizador Miguel Gonçalves Mendes.
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