O presidente do Futebol Clube do Porto (FCP), André Villas-Boas, venceu o Prémio Tágides na categoria Iniciativa Empresarial. O júri, presidido por Gustavo Summavielle, destacou a visão de sucesso alicerçada em valores éticos e na transparência, mas sobretudo o potencial para inspirar outros líderes e organizações a adotarem comportamentos semelhantes com impacto na sociedade civil.

"A troca de favores é demasiado fácil neste país", disse André Villas-Boas, que pediu desculpa por deixar a cerimónia antecipadamente, para assistir ao jogo do FCP contra o Estrela da Amadora, garantindo que "o novo caminho [no clube] é o que está ligado à transparência e ao combate à corrupção, é por isso que rejo a minha vida e espero conseguir transmitir isso".

O advogado António Garcia Pereira venceu no Projeto da Sociedade Civil, pelo seu empenho na denúncia do tráfego de influências.

"A política é, ou devia ser, a forma mais elevada de cultura", disse. E, lembrando que o "exemplo tem uma força enorme", recordou uma história que já antes tinha contado ao Sapo 24: aos nove anos a mãe levou-o ao Aljube a visitar um tio preso pela polícia do regime. Nem o reconheceu e, quando ouviu a sua voz, não se conteve e choramingou.

A mãe, uma senhora magra e de estatura pequena, meteu-lhe a mão no braço, apontou para o "PIDE" e disse: "Meu filho, em frente de gente desta não se chora". Nunca mais se esqueceu.

Na categoria Iniciativa Política o vencedor foi Jorge Moreira da Silva, ex-ministro do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, anunciado pelo presidente do júri e vencedor em 2023, Miguel Poiares Maduro.

Moreira da Silva, agora nas Nações Unidas, não pôde estar presente, mas deixou uma mensagem: "Este é um debate sobre a crise de confiança que ameaça as sociedades e não apenas sobre a transparência", afirmou. E pediu à sociedade para se mobilizar em torno de uma cultura zero em matéria de corrupção, "sob pena de continuarmos a alimentar a progressão do populismo".

Combate à corrupção devia estar no Orçamento do Estado

A quarta edição do Prémio Tágides, que decorreu no final desta segunda-feira na Fundação de Serralves, começou com uma homenagem a Joana Marques Vidal, ex-procuradora-geral da República, que morreu em julho deste ano, aos 68 anos, e que foi a primeira vencedora na categoria Sociedade Civil, em 2021.

O irmão da ex-procuradora, João Marques Vidal, agradeceu a homenagem e lembrou o apreço de Joana Marques Vidal por todas as iniciativas relacionadas com o combate à corrupção, por ter a noção de que a principal falha da sociedade nesta matéria é "não ter uma ação orientada no sector da prevenção".

Aproveitando a palavra, sugeriu que não fosse admitido nenhum "pacto contra a corrupção no futuro sem que isso esteja vertido no Orçamento" do Estado, porque combater a corrupção custa dinheiro e o combate "não pode ser travado por uma pessoa só, como acreditava Joana Marques Vidal.

Criado em 2021, o Prémio Tágides é promovido anualmente pela All4Integrity, para "identificar, reconhecer, celebrar e premiar projetos, trabalhos e/ou iniciativas" de pessoas e organizações que se destaquem na promoção de uma cultura de integridade e na prevenção e luta contra a corrupção em Portugal, em várias áreas da sociedade.

Foram ainda vencedores Francisco Cordeiro Araújo, na Iniciativa Jovem, António Delicado, na Iniciativa Portugal no Mundo, João Ribeiro-Bidaoui, em Projeto de Investigação, e Alexandra Jorge, na Iniciativa Local.