Ao final da tarde hoje, numa cerimónia presidida pelo ministro da Administração Interna (MAI), Eduardo Cabrita, que decorreu na sede da Direção Nacional da Polícia de Segurança Pública (PSP), os 21 agentes, entre os quais apenas duas mulheres, que vão integrar as missão internacionais das Nações Unidas nos dois países africanos, receberam as insígnias das mãos do ministro, do diretor nacional da PSP, Luís Farinha, e outros oficiais desta força de segurança.

“Irão 14 polícias para a RCA e sete para o Sudão do Sul. A missão da RCA é uma missão executiva, em que a polícia vai armada, munida de armas de fogo e o mandato digamos que é mais musculado. Destina-se à proteção de civis, mas também à captura de criminosos, nomeadamente criminosos de guerra e de crimes contra a humanidade. A missão no Sudão do Sul é uma missão mais humanitária, de apoio aos refugiados nos campos de refugiados no Sudão”, explicou aos jornalistas Luís Elias, diretor do Departamento de Operações da PSP.

O oficial acrescentou ainda sobre a missão no Sudão do Sul que, neste território, o objetivo da PSP é evitar confrontos entre refugiados nos campos, muitas vezes de comunidades diferentes, e protegê-los de quem os perseguiu.

Em ambos os países os agentes da PSP serão integrados em equipas multinacionais, e serão distribuídos pelo território, mas Luís Elias referiu que “a boa prestação dos polícias portugueses” costuma colocá-los em “unidades onde têm maior relevo e desempenho”.

Luís Elias reconheceu que “o risco é elevado em ambos os países”, não só por questões sanitárias e dificuldades de acesso a água e comida, mas também pelos confrontos violentos e “o risco inerente à existência de grupos armados em ambos os territórios que desenvolvem atividades ilícitas”.

Sobre a RCA, de onde recentemente um militar português foi retirado de urgência, na sequência de um acidente que o deixou ferido com gravidade, e onde os militares já viveram situações de combate ao longo de vários dias seguintes, o diretor do Departamento de Operações da PSP disse que os agentes “foram formados e estão preparados para o risco”, destacando que nesta missão a PSP estará armada e muitas vezes em missão conjunta com os militares.

O contingente, que parte no dia 14 para a RCA (14 polícias) e no dia 16 para o Sudão do Sul (sete polícias) têm, em alguns casos, experiência internacional anterior, noutros são estreantes, uma mistura de situações que a própria PSP procura promover, explicou Luís Elias, que reconheceu também que a componente remuneratória é um incentivo importante para os agentes que se candidatam ao destacamento, mas não é a principal.

“Essencialmente, é a experiência. A maior parte destes polícias querem ter uma experiência deste género, porque é algo que os vai marcar para toda a vida, quer em termos pessoais, quer em termos profissionais”, disse.

Carlos Correia, que parte para a RCA, e tem já 20 anos de carreira na PSP, confirma. Com parte da sua experiência profissional assente na formação, espera ser essa a marca que vai deixar no país para o qual parte durante um ano.

“Pela minha experiência, gostava de ir para a área da formação. Em termos nacionais já são 20 anos de polícia, dou formação na Escola Prática de Polícia, dei formação a argelinos o ano passado. Tenho alguma experiência na parte de formação e gostava de ir dar o meu contributo e deixar lá ficar a minha presença”, disse aos jornalistas.

O agente que terá a sua primeira experiência numa missão internacional da ONU, mas que já tinha estado no Congo a fazer segurança pessoal ao embaixador, no âmbito das suas funções no Corpo de Segurança Pessoal da PSP, admite preocupação com a violência na RCA, mas sublinha que não é preciso sair de Portugal para as coisas correrem mal.

“Em Portugal não há essa violência e também nos pode acontecer algo, basta vestir esta farda no dia a dia. claro que lá vamos estar mais suscetíveis aos confrontos que ainda existem”, disse o agente que parte pelo “espírito de missão” e com o apoio da mulher e da filha.

Em 27 anos apenas 8% do contingente da PSP em missões internacionais foram mulheres. Carla Miranda, uma das duas únicas mulheres neste contingente, parte para o Sudão do Sul na sua primeira experiência internacional, também com o apoio da família, mas para uma missão que será mais de observação e monitorização.

Proteção de civis, sobretudo mulheres e crianças serão as suas principais funções num país onde o que mais a preocupa à partida são questões de saúde, “com muitas doenças não controladas”, e segurança, mas onde espera “que corra tudo bem”.

A PSP já participa em missões internacionais desde 1992 e já destacou desde então 1.198 agentes para missões da ONU ou da União Europeia.

A participação internacional na Missão das Nações Unidas na República Centro-Africana (MINUSCA) e na do Sudão do Sul (UNMISS) tem a duração de um ano. Na RCA já estão neste momento em missão dois agentes da PSP, que estão a meio do seu destacamento.