Na terça-feira, uma equipa de cientistas que examinou a questão por um novo ângulo - o da biologia evolutiva - concluiu que a nossa natureza violenta foi, pelo menos em parte, herdada de um antepassado, e compartilhada com outros primatas.

A violência letal parece estar "profundamente enraizada" na linhagem de macacos, símios e Homo sapiens, escreveram os investigadores na revista científica Nature.

Isso sugere que "um certo nível de violência letal nos seres humanos tem origem na posição ocupada dentro de um clado de mamíferos particularmente violento”. Um clado é o termo biológico para um grupo de organismos que descendem de um ancestral comum.

Os investigadores espanhóis reuniram dados relativos a mais de quatro milhões de mortes em 1.024 espécies de mamíferos atuais, assim como dados de mais de 600 populações humanas desde a Idade da Pedra, cerca de 50.000-10.000 anos atrás, até hoje.

As amostras representam cerca de 80% das famílias de mamíferos.

Foi analisada especificamente a proporção de mortes causadas por violência letal cometida por membros da mesma espécie. No caso dos humanos, incluem-se guerras, homicídios, infanticídios, execuções e outros assassinatos intencionais.

Os cientistas também procuraram semelhanças entre espécies com ancestrais comuns, que usaram para inferir o quão violentos esses antecessores eram, assim como para reconstruir uma história das taxas de matança ancestrais.

No total, os assassinatos intraespécies foram a causa de 0,3% das mortes de mamíferos, concluíram.

Quando o ancestral humano comum apareceu pela primeira vez, há cerca de 200.000-160.000 anos atrás, a taxa era de cerca de 2% - semelhante às de outros primatas, segundo os cientistas.

"Isso significa que os seres humanos herdaram filogeneticamente a sua propensão para a violência", afirma o estudo.

A Filogenética é o estudo da relação genética entre espécies ao longo do tempo, o que nos dá a chamada árvore evolutiva, com um ancestral primordial na sua base, a partir do qual todos os organismos se desenvolveram.

O co-autor do estudo José María Gómez Reyes disse à AFP que estes novos dados mostram que há "um componente evolutivo para a violência humana”, o que não significa que seja o único.

Esses componentes evolutivos não são apenas genéticos, e são, "provavelmente", influenciados por pressões ambientais para a sobrevivência.

"Na verdade, o comportamento social e a territorialidade, dois traços comportamentais compartilhados com os parentes do (Homo) sapiens, parecem ter contribuído também para o nível de violência letal (...) herdado pelos humanos", aponta o estudo.

Mark Pagel, da Universidade de Reading, disse que esse trabalho forneceu "boas bases para acreditar que somos intrinsecamente mais violentos do que o mamífero médio". Mas mostrou igualmente que os seres humanos são capazes de reduzir tais tendências.

"As taxas de homicídio nas sociedades modernas - que têm forças policiais, sistemas jurídicos, prisões e atitudes culturais fortes que rejeitam a violência - são de menos de 1 entre 10.000 mortes (ou 0,01%), cerca de 200 vezes mais baixas do que as previsões dos autores para o nosso estado natural", refere Pagel.

Por: Mariëtte Le Roux/AFP