Farida Khalaf foi recebida por representantes das Comissões de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e dos Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas e recordou os abusos de que foi vítima por parte dos ‘jihadistas’ em 2014.

Atualmente refugiada na Alemanha, Farida Khalaf vivia em Kocho, na zona de Sinjar, quando o grupo conhecido então como Estado Islâmico do Iraque e do Levante atacou em agosto de 2014 a aldeia, separou homens e mulheres, terá matado os primeiros e sequestrou as segundas.

O pai e o irmão mais velho de Farida terão sido mortos, ela foi levada e contou aos deputados que foram constituídos dois grupos de mulheres, um com destino à Síria e outro que ficou no Iraque, do qual fazia parte.

“Atacaram-me, à minha família e aldeia. Destruíram todos os sonhos que tínhamos”, recordou, com a ajuda de um tradutor.

Farida Khalaf foi vendida, violada e violentamente espancada, tentou matar-se, tentou fugir e acabou por conseguir, e entre os seus sonhos está “ver os militantes do ISIS (Estado Islâmico) em tribunal”.

A jovem yazidi assinala que fala por outros da sua minoria étnico-religiosa que não podem falar, que também estiveram em cativeiro, que continuam a viver em tendas, em centros de refugiados.

“Um dos meus maiores sonhos é que seja reconhecido o genocídio”, disse.

A jovem yazidi estava acompanhada de Teresa Violante, diretora das Conferências do Estoril, os representantes oficiais em Portugal da Organização Yazda, constituída na sequência daquele massacre, para que o crime possa ser levado às instâncias corretas.

“A instância própria à luz do direito internacional para julgar, para avaliar, para indagar, para inquirir (…) é o Tribunal Penal Internacional (TPI) e não uma qualquer instância nacional”, declarou Teresa Violante.

Mas o recurso ao TPI “não é fácil” e a Organização Yazda está a tentar que instituições e países reconheçam formalmente a existência de um genocídio contra os yazidi para pressionar o Conselho de Segurança da ONU a remeter o caso para aquele tribunal internacional.

Farida Khalaf pediu a Portugal para se juntar ao Reino Unido, à França e ao Canadá, entre outros, que já reconheceram formalmente o genocídio dos yazidis.

Teresa Violante disse que a Arménia também o fez, tal como “o parlamento dos Estados Unidos e a administração (de Barack) Obama”.

Pedro Bacelar de Vasconcelos (PS), presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, prometeu que se fará tudo “para que (os ‘jihadistas’) recebam punição”.

“Tudo faremos a nível da comissão e do partido (PSD) para reconhecer estes crimes cometidos contra a humanidade como um genocídio”, declarou José Cesário, da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas.

Maria Manuel Rola, do Bloco de Esquerda, também prometeu que o partido tentará “o reconhecimento (do genocídio) por parte do parlamento português”.

Congratulando Farida Khalaf pela sua “coragem” e “força”, Vânia Dias da Silva, do CDS-PP, disse pensar que “em breve” existirá uma resolução da Assembleia da República reconhecendo o genocídio dos yazidi.