Aos cinco anos sabia que queria ser padre e aos dez entrou para o seminário no Fundão, contrariando o percurso esperado, já que o pai, professor, era dono de um colégio em Castelo Branco. Mas nem tudo foram rosas: "Era um cábula de primeira, andava sempre na brincadeira, e no terceiro ano chumbei a latim. Quando perdíamos uma cadeira, perdíamos o ano todo. Quase desisti, mas foi aí que decidi começar a estudar", conta.

Conheceu sete papas e privou com alguns deles. Estava ao lado de João Paulo II quando, em maio de 1982, o padre espanhol Juan Krohn o tentou esfaquear em Fátima, a meio da esplanada, quando caminhava na procissão. "Vi o homem a pegar na faca", recorda. "Não houve tempo para mais nada, a intervenção dos guardas foi fulminante".

Hoje, aos 87 anos, Vítor Feytor Pinto não se arrepende de nada. Certa vez, o bispo de Nampula deixou-lhe esta mensagem: "Nunca queiras nada, estás nas mãos de Deus". E é assim que tem regido a sua vida.

O seu nome ficará na história da paróquia do Campo Grande (Paróquia da Ermida dos Três Santos Reis), onde foi pároco 20 anos, mas Feytor Pinto foi muito mais do que um padre. Em 1992, o primeiro-ministro Cavaco Silva pediu-lhe ajuda para combater a droga em Portugal e nomeou-o Alto Comissário para o Projeto Vida. Além disso, foi professor de Ética do curso de Enfermagem durante 40 anos, e o seu nome é indissociável do Movimento por um Mundo Melhor, da Acção Católica, da Pastoral Juvenil ou da Pastoral da Saúde.

No ano passado, por esta altura, esteve à beira da morte devido a uma septicemia e um ano antes tinha sido sujeito a um cateterismo, a mesma intervenção feita a Marcelo Rebelo de Sousa. Só que, no seu caso, dois dias depois estava a fazer a apresentação pública de um livro. Ri, e diz que o presidente da República, de quem é amigo pessoal, é mesmo hipocondríaco. E é exactamente pela saúde que começa esta conversa.

Vítor Feytor Pinto
créditos: Rodrigo Mendes | MadreMedia

Tem 87 anos. Vinha a contar ao Rodrigo [fotógrafo] que há dois anos por esta altura fez exatamente a mesma intervenção a que Marcelo Rebelo de Sousa foi sujeito recentemente, mas passado um ou dois dias já estava a apresentar um livro.

Foi [ri-se]. É muito simples, essa intervenção. É facílima. É apenas um cateterismo, que é desentupir as artérias. Ele [Marcelo] é hipocondríaco. E diz isso de si. Quando vai a uma farmácia pergunta: "Que novidades há cá hoje?" [Ri].

Se são cristãos, os políticos têm grandes preocupações, querem manter o equilíbrio entre a sua fé e as decisões políticas

Conheceu muitos políticos ao longo do tempo e, através das conversas que tem, consegue perceber as suas preocupações. O que refletem?

Sem dúvida. Se são cristãos, os políticos têm grandes preocupações, querem manter o equilíbrio entre a sua fé e as decisões políticas. Às vezes isso é muito difícil.

Difícil porquê?

Porque o político está pressionado pelo seu partido, está muitas vezes pressionado por uma ideologia. Nessa perspetiva, às vezes o desequilíbrio é fortíssimo. O papel do cristão leigo na comunidade cristã e na humanidade é este: tratar da ordem temporal e orientá-la segundo Deus para que progrida e assim glorifique o criador e redentor. É esta a noção que o Concílio Vaticano II tem do laicado.

Pode explicar o que é a ordem temporal?

A ordem temporal são as profissões, a vida em família. A primeira parte do documento refere-se à vocação do homem, à comunidade e à sua atividade. O Concílio ajuda a estudar a pessoa humana, a relação de todos na construção do bem comum. A complementar isto tem outro documento muito bom, Gaudium et Spes [Alegria e Esperança], que diz que todos os cristãos têm de lutar pela dignidade humana em todas as circunstâncias. Qualquer cristão leigo deve ter esta preocupação, deve trabalhar na família - uma família equilibrada, organizada -, nos problemas da cultura - a cultura cristã, orientada para os valores cristãos -, e no domínio sócio-económico - a economia tem de ser uma economia social. O Papa Francisco fala numa coisa muito bonita: a economia segundo Francisco.

O Papa Francisco vai convocar para o início do ano [março de 2020] uma reunião de economistas e empresários de todo o mundo, sobretudo jovens

E como é a economia segundo Francisco?

É tudo aquilo que é a revisão do pensamento económico da Igreja. O Papa Francisco vai convocar para o início do ano [março de 2020] uma reunião de economistas e empresários de todo o mundo, sobretudo jovens, que se realizará em Assis: a “Economia de Francisco”. O objectivo é reunir jovens interessados em cultivar o sonho de um novo humanismo, que responda às expectativas dos homens e mulheres atuais, que imprima no mundo uma economia cristã, uma economia em solidariedade com os mais pobres, com os que mais dificuldades têm. Já estão convocados mais de 300 economistas, incluindo de Portugal, da Universidade Católica e de outras universidades.

O texto do Concílio também fala na intervenção política...

Os cristãos têm o dever de intervir politicamente, precisamente para garantir a democracia, os valores democráticos.

Entre a teoria e a prática vai uma distância enorme.

Isso é da responsabilidade dos políticos. Tem de haver coerência entre a fé e a vida. E atenção, o cristianismo não é só uma religião, o aspecto de ser uma religião é acidental. O mais importante são os valores da vida. Há dias, o Papa Francisco disse uma coisa muito bonita: há muitos cristãos, muitos católicos, que têm a religião do "eu". Vão à missa, vão à comunhão, mas depois só lhes interessa o que eles pensam, o que eles dizem, o seu partido, os seus interesses. Isto é anticristão. O tal documento diz ainda: "[...] e têm de ser obreiros da paz". Têm de fazer tudo para conseguir a paz.

A comunidade que contribui, até no ofertório das missas, tem de saber para onde vai esse dinheiro. Isto é indispensável

Uma das críticas apontada à Igreja é exatamente a falta de coerência. Nomeadamente, já que falamos de economia, as contas pouco transparentes, a começar pelo Santuário de Fátima. Os responsáveis não divulgam números.

Mas têm o dever de o fazer. Este Papa também quis que o Vaticano tivesse contas transparentes, por isso remodelou completamente o quadro daqueles que ali estão. E nós, as dioceses, as paróquias, devemos ter essa preocupação. Não pode haver nada escondido. Esta paróquia [Campo Grande] é da comunidade que vem aqui e, por isso, a comunidade que contribui, até no ofertório das missas, tem de saber para onde vai esse dinheiro. Isto é indispensável. Com aquele óbolo, as pessoas demonstram que querem sacrificar a sua vida em favor dos pobres, daqueles por quem a Igreja está a velar. É este o sentido.

E este Papa pede isto, muito concretamente, a todas as igrejas. Na base da Concordata tem de haver um debate entre a transparência económica e a Igreja; as associações da Igreja, as dioceses, as paróquias têm de ter transparência económica. Isto é fundamental, a transparência é uma exigência cristã. Como disse, os nossos proventos são resultado de atitudes de partilha, não são benesses.

Como se faz cumprir essa determinação?

Às vezes a partir da consciência ou da observação. Neste momento, o patriarcado de Lisboa é muito mais exigente do que era há 50 anos. Há 50 anos não se sabia nada, neste momento as contas de cada paróquia são revistas, pontualmente e com grande exigência, pela estrutura económica do patriarcado.

Há uma semelhança entre o clero e os políticos?

Há uma relação. Numa sociedade cristã quem exerce a política tem de ter em consideração as características daquela cultura. A Europa é iminentemente, ou fundamentalmente, cristã. Até quando as monarquias foram eliminadas pela Revolução Francesa, dominada pela maçonaria, que era anti-Igreja, os ideais levantados foram a liberdade, a igualdade e a fraternidade. Isto são valores cristãos. Jesus considerou iguais todas as pessoas, pediu a liberdade para todos, para a mulher, para os doentes, para os leprosos, tratou todos como irmãos. Hoje também os políticos devem ter consciência de que estes são os critérios da Europa, os valores da Europa. Isto mesmo foi a tese do chamado prémio Nobel da Teologia [prémio Ratzinger] deste ano ["Ser cristão num mundo em mudança"], que diz exactamente que a Europa é essencialmente cristã, com valores cristãos, ainda que a certa altura queiram ultrapassar isto com ideologias.

hoje trocou-se a verdade pela conveniência, a justiça pela justificação da injustiça, a liberdade pela libertinagem e o amor foi reduzido ao prazer físico

O neurocientista António Damásio alertava, em "A Estranha Ordem das Coisas", para a bancarrota da espiritualidade e da moral da sociedade. Concorda?

Penso que hoje há muita falta de valores, falta de espiritualidade. De tal maneira que os grandes valores conseguidos pelos Direitos Humanos são muitas vezes sacrificados até por parlamentos, que decretam normas contra os direitos humanos, porque em vez de se referirem a valores, referem-se a conveniências. Os valores fundamentais de uma sociedade com matriz cristã, segundo o Papa João XXIII, são a verdade como fundamento, a justiça com regra, a liberdade como dinâmica e o amor como clima normal de acção para conseguir a paz. Chamou-lhes os pilares da paz. Acontece que hoje trocou-se a verdade pela conveniência, a justiça pela justificação da injustiça, a liberdade pela libertinagem e o amor foi reduzido ao prazer físico.

Como se volta atrás?

É o problema da educação. Temos de retornar à educação. Um destes dias estive numa reflexão muito interessante, em Sintra, um congresso de relações internacionais promovido por um grupo do Partido Socialista, mas com pessoas de outros partidos. E a certa altura foi lançada a pergunta: que pedagogia tem de acontecer para os valores? A escola tem de ter valores, não pode ser apenas científica, tem de ser humana. E, de facto, a escola, por vezes, não é humana. Veja, por exemplo, o que se passa no desporto, com brigas, insultos... Os clubes desportivos deviam ter educação, deviam educar os seus atletas, os seus membros, as suas claques para os valores.

Outro dia a deputada do Livre [Joacine Katar Moreira] disse uma coisa muito engraçada: o salário mínimo tem de ser de 900 euros para contemplar o amor. De certa forma tem razão, já que a palavra amor é universal

A Igreja tinha esse papel moralizador, também, mas perdeu-o.

Não digo que já não tenha, mas é menos eficaz. Justamente porque houve uma descredibilização da comunidade cristã. "És crente, vais à igreja? Ah, és retrógrado". Criou-se esta cultura da evidência, que é o contrário do aspecto religioso, porque o aspecto religioso é afectivo, não é evidente. Tal como o amor... O amor é afetivo, não é evidente. Senão, veja: aquele rapaz elegantíssimo que escolhe para seu amor uma rapariga toda tortuosa... Isto não é lógico, não é evidente, mas é amor. O afetivo não é evidente. Mas temos na nossa vida, no mundo, a verdade científica, aquela que se prova pela evidência, e a verdade afetiva, que se prova pelo coração. Coração e razão têm de ser complementares. Outro dia a deputada do Livre [Joacine Katar Moreira] disse uma coisa muito engraçada: o salário mínimo tem de ser de 900 euros para contemplar o amor. De certa forma tem razão, já que a palavra amor é universal, não é apenas o amor físico entre homem e mulher, é o amor envolvente. Muito interessante.

Foi gozadíssima por ter feito essa afirmação no Parlamento.

Pois foi. O primeiro-ministro até lhe respondeu: "Aqui não há amor, há justiça". Mas não, não é assim; há justiça e há amor, porque o fundamento do amor é a justiça. Mas não podemos limitar-nos à justiça, temos de amar, é o paradigma do cristão. O paradigma do cristão não é ir à missa, o paradigma do cristão é o amor.

O Livre, que chamou ato de amor a estabelecer salários mínimos mais elevados, é o mesmo que quer proibir a religião e moral nas escolas. Este é um ato de quê?

[Ri] Isso vou perguntar à Joacine. É uma rapariga muito inteligente, tem um bom doutoramento... O terrível das ideologias é o querer gradar. Isso é que é terrível. A ideologia baliza muito as pessoas, às vezes para erros. E depois, o gostar de ser ouvido, gostar que os outros gostem daquilo que dizemos perturba muita malta. Até padres...

gostar de ser ouvido, gostar que os outros gostem daquilo que dizemos perturba muita malta

Não resisto a perguntar-lhe se é coerente um católico votar num partido de esquerda?

Não vejo assim as coisas. Há muitas razões para se votar de determinada maneira, às vezes escolhe-se o que se considera mais positivo. Dou este exemplo: quando foi a votação da eutanásia, alguns deputados do PS votaram contra, o que não quer dizer que se tenham convertido ou que se tenham voltado para a direita. Depende da consciência de cada um. E a consciência, atualmente, não está a ser bem formada. É preciso avaliar os assuntos com discernimento - e esta palavra é fundamental nos dias de hoje. Tenho muita pena que os deputados votem no voto do partido, porque devia ser sempre um voto pessoal. Cada um tem a liberdade para discernir e, em sua consciência, votar. Não devia haver votos de mão no ar ou de levantar da cadeira. Não devia. São temas tão importantes para Portugal - ou para os países com parlamentos semelhantes - que o votante devia poder discernir sem influências nenhumas.

Em breve o Parlamento voltará a discutir a questão da eutanásia. Sei a resposta, mas pergunto na mesma: é a favor ou contra e porquê?

É muito gira essa pergunta, sabe porquê? Porque este não é um problema religioso, não é um problema de fé cristã. Este é um problema ético e um problema dos direitos humanos. Artigo 3.º dos Direitos Humanos: "Todo o ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança da sua pessoa". Sou professor de ética...

A liberdade não implica também a decisão de poder...

Destruir-se a si próprio? Não. A liberdade não pode ser utilizada contra a vida, porque é um complemento da vida. E no caso do suicídio assistido, é o que se passa. E, repare, todas as religiões defendem o direito à vida, portanto, nenhuma religião pode aceitar a destruição da vida.

Mesmo quando essa vida não é vida, mesmo quando a ciência não tem a solução?

O que temos de fazer é desenvolver os direitos paliativos para que não haja sofrimento. Mas isso levaria o Estado a gastar muito dinheiro e o Estado não quer. E fala-lhe agora o fundador da primeira unidade de cuidados paliativos deste país: eu. Não a fundei sozinho, mas com o professor Conde, com o dinheiro que nos tinha sido dado pelo senhor comendador Nunes Correia, uma importância por causa de uns problemas que havia no Fundão. E lá fomos, com uma enfermeira, o médico António Lourenço, que é fantástico, e criámos a primeira unidade de cuidados paliativos há 25 anos. Com imensos resultados. Já visitei essa unidade, e os doentes estão bem. Já visitei uma unidade da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, que tem nome de Maria José Nogueira Pinto, e os doentes estão bem. Porque lhes é aliviado o sofrimento. Mas temos de lhes resolver os problemas, não podemos matá-los. Há muita gente que tem problemas: pobres, sem-abrigo, e estão a sofrer brutalmente. A morte não é solução. Todos nós queremos morrer quando estamos em sofrimento.

Alguma vez lhe pediram para morrer?

Quantas vezes ouvi pessoas dizer que gostariam de morrer e, depois, resolve-se o problema e dizem: que tonto eu fui. Conto-lhe uma história muito bonita: o professor Carrington da Costa, que era director dos cuidados intensivos do Hospital da Universidade de Coimbra, quis mostrar-me os cuidados intensivos e no fim disse: "Já acompanhei nesta unidade mais de 2 mil pessoas, só três me pediram para morrer. Consegui ajudá-los, com tratamento, com o conforto de quem visitava os doentes, com apoio à família. E quando os doentes recuperavam diziam: "Que coisa horrível querer morrer. Estou a sentir-me tão bem na vida"".

Lembro-me do caso de um rapaz belga que queria ser eutanasiado e já tinha passado as primeiras fases obrigatórias para o conseguir. Era homossexual e que não suportava a sua orientação, não aceitava viver assim...

Mas isso é paralelo a um homem que vive na rua durante dez ou 15 anos e que quer destruir-se. É a mesma coisa. Não se sente bem no que tem e por isso quer morrer, é frequentíssimo. Os homossexuais sofrem muito, muito. É um drama o seu sofrimento. O meu papel é ajudá-los - não é ajudá-los a não ser homossexuais, é ajudá-los a assumir a sua componente genética, a sua orientação de género.

A morte é apenas uma porta: do lado de cá é o limite da natureza, do lado de lá é a ternura de Deus

Essa é outra pergunta comum: qual o propósito do sofrimento?

Atenção, isso é da natureza humana. Ainda no domingo passado disse na minha homilia - que trazia muito o problema da morte: a morte não é um castigo de Deus, de forma nenhuma. E muita gente julga que sim. "Porque é que o Senhor está a trazer-me tanto sofrimento?" O Senhor não faz sofrimento nenhum, o nosso Deus é um Deus da alegria, é um Deus do amor, é um Deus não castigador. A morte é fruto de um limite da natureza - e às vezes o resultado de um disparate. É Deus, quando andamos em alta velocidade num automóvel? É Deus, se não cuido da minha alimentação e como coisas estranhas ou bebo demasiado? Deus, que é um Deus da vida, ajuda-nos a partir da morte com uma vida nova. São Paulo diz isto de uma forma muito engraçada: "A vida não acaba, apenas se transforma". A morte é apenas uma porta: do lado de cá é o limite da natureza, do lado de lá é a ternura de Deus.

Dor e sofrimento são coisas distintas, no entanto.

Sim. O sofrimento é espiritual, é psicológico. A dor é física. A dor pode ser paliada com remédios, injeções, analgésicos. O sofrimento só pode ser atenuado pela dimensão afetiva, o dar a mão, a companhia - o que não quer dizer que não continue a sentir dor. 

A Igreja tinha coisas muito anti-éticas séculos atrás: as Cruzadas, a Inquisição, tudo isso não era ético, mas era religioso, era moral. A moral daquele grupo

Quais são os grandes desafios da Igreja nesta matéria?

É um problema de investigação científica: a Igreja tem de apostar profundamente na investigação científica. E depois considerar o confronto com os valores da ética. Volto a dizer: estes temas não são de caráter religioso, são de caráter científico e ético. As duas componentes da medicina são a ciência, na prevenção e tratamento da doença, no diagnóstico e no prognóstico, na investigação, no ensaio clínico, e a humanização, a ética: tratar o doente por igual não distinguir entre pobre e ricos. Claro, o religioso ajuda a cumprir a ética. Quando António Damásio diz moral, eu digo ético, porque distingo entre moral e ética: moral é a regra de conduta de um grupo, ética é a atitude de discernimento para respeitar sempre e em todas as situações a dignidade da pessoa. É completamente diferente. A Igreja tinha coisas muito anti-éticas séculos atrás: as Cruzadas, a Inquisição, tudo isso não era ético, mas era religioso, era moral. A moral daquele grupo.

Vítor Feytor Pinto
créditos: Rodrigo Mendes | MadreMedia

Os políticos procuram-no para se confessar ou para pedir conselhos?

Não gosto de dizer coisas concretas e mesmo sem falar em nomes considero isto: se vier falar-me de um problema seu, quando sair por aquela porta já esqueci tudo. É que já esqueci tudo, é um privilégio fantástico. Digo-lhe de uma experiência de 64 anos de padre: saiu, esqueci. Se a pessoa volta para falar, peço-lhe: "Diga-me em que ponto ficámos". Tem de ser assim. Os padres ajudam na linha da consciência. Sabe como o Papa Francisco define a confissão num documento notável, o seu primeiro documento, Evangelium Gaudium [A Alegria do Evangelho]? "Não é uma câmara de tortura, é simplesmente um momento da grande misericórdia de Deus" - agora já não chamamos confissão, chamamos reconciliação, porque é a conciliação com Deus e de uns com os outros. A condição para a absolvição é a pessoa fazer propósito de emenda, o que não quer dizer que não possa voltar a cair... E agora repare: tantas e tantas pessoas que se reconciliam comigo são muito melhores do que eu. Porque este encontro da reconciliação é o encontro entre dois pecadores, o penitente e o sacerdote. O sacerdote também é pecador.

agora já não chamamos confissão, chamamos reconciliação, porque é a conciliação com Deus e de uns com os outros.

Dos três votos, pobreza, castidade e obediência, qual o mais difícil?

Disse isso no dia da minha ordenação sacerdotal, há 64 anos, a uma tia, que era quem acompanhava um tio padre e que me fez essa pergunta: "Ó Vítor, o que é que te custa mais?" "A obediência", respondi. A pobreza e a castidade não têm qualquer dificuldade, agora, a obediência é pormos a nossa mão na vontade de outros, no caso, na do nosso bispo. E digo-lhe: em tudo cumpri a vontade do meu bispo, do bispo a quem sirvo.

Imagino que um padre também possa ambicionar uma carreira, por exemplo. E que nem sempre esteja de acordo com os seus superiores hierárquicos...

Sabe o que acontece? Um diálogo. É a partir do diálogo que tudo se soluciona. A opinião de quem vai obedecer também conta. Antigamente a obediência era cega, atualmente não. Depois do Concílio Vaticano II a obediência é responsável, quer para quem dá a orientação, quer para quem obedece. Porque o bem não é de um ou de outro, é o bem comum. Quanto a ambicionar mais, qualquer pessoa pode, mas temos a plena consciência de que não pode haver carreirismo eclesiástico. Este Papa tem dito muito isso, não devemos ter a ideia da carreira. Se alguns têm, fica com eles, mas a carreira não pode ser o nosso objectivo, o nosso objectivo tem de ser o serviço. Quem tem ambição dentro da Igreja utiliza uma atitude política para conquistar o poder. Mas o Papa não pode chegar ao pé de um cardeal e dizer-lhe "tu sais porque não és competente". O que lhe faz? Não lhe pode dar um lugar como representante da Unesco... Mas está a mexer,  nas finanças, na economia, que é onde está o peso.

Conta que aos cinco anos já queria ser padre. Como se descobre tão cedo uma vocação?

É uma consciência muito forte, muito forte.

O seu pai tinha um colégio em Castelo Branco. Como reagiu quando soube que queria ir para o seminário?

Impus ir para o seminário do Fundão e entrei com dez anos, queria fazer o percurso completo. Entrei, mas era um cábula de primeira, andava sempre na brincadeira, e no terceiro ano chumbei a Latim. Quando perdíamos uma cadeira, perdíamos o ano todo. Quase desisti, mas foi aí que decidi começar a estudar. Eu era ótimo aluno a Matemática, adorava Matemática. E quando acabei o seminário, o meu pai, que também era professor de Matemática, convidou-me a fazer o exame dos alunos do sétimo. Respondi a tudo num instante, sem um único erro. Costumo dizer que há duas formas de uma pessoa ter a cabeça organizada: pela matemática e pelo latim. Mas continuo a não gostar de latim.

Também gostava de desporto, disseram-me que tinha jeito, que foi um belíssimo guarda-redes.

[Ri] Fui, fui. Fui sempre um belíssimo desportista, futebol, voleibol, pingue-pongue, basquetebol. 

Quais foram as suas influências?

Tive dois exemplos muito bonitos na minha vida e que certamente nortearam o eu querer ser padre. Um dos exemplos era o meu pai, membro da Conferência de São Vicente de Paulo durante 73 anos, e que todos os sábados ia visitar os pobres. E levava-me. Isto marcou profundamente a minha vida. O segundo exemplo que marcou a minha vida foi um irmão dele que era padre, o meu tio Zé. Ele ia celebrar a missa na Sé de Castelo Branco e, com cinco ou seis anos, eu ia ajudá-lo. Esta dupla balizou muito a minha formação e a minha maneira de ser padre. É isto que S. Tiago diz na sua carta, no capítulo segundo: "A fé sem obras é morta". A religião sem o serviço aos outros não tem sentido.

Alguma vez teve uma crise de fé?

Um crise de fé nunca tive. Estou perfeitamente apaixonado por Jesus Cristo, palavra.

Nunca pôs em causa, nunca duvidou?

Não. Mas pode-se pôr em causa ou duvidar de um dogma. Uma dúvida intelectual, quando não há evidência nas coisas, é normal. Ainda há dias o Papa Francisco disse: "Têm dúvidas? Eu também tenho. São tantas, tantas dúvidas". E continuou: "Sabem o que eu faço quando tenho dúvidas? Ofereço-as a Deus para que me as resolva". Tão bonito. A fé não é, de forma nenhuma, acreditar em verdades. A fé não é cumprir mandamentos ou fazer atos litúrgicos. Tudo isto faz parte do religioso, mas não é a fé. A fé é acreditar numa pessoa que ressuscitou: Jesus. A adesão plena e perfeita a Jesus Cristo ressuscitado. Na minha vida de 87 anos amei profundamente Jesus, condicionei a minha vida a Ele. Quando D. Manuel Vieira Pinto foi nomeado bispo de Nampula, em Moçambique, e me deixou corresponsável pelo Movimento por um Mundo Melhor, escreveu-em assim: "Nunca peças nada. Estás nas mãos de Deus".

Consegue fazer isso sempre?

Consigo, consigo. E tenho imensas graças para dar a Deus. Agora estou a falar consigo, mas há um ano estava em coma, com uma septicemia. Estive quatro dias em coma, em fins de outubro, primeiros dias de novembro. E Marcelo Rebelo de Sousa, de quem sou muito amigo - presidi ao casamento do filho, batizei os netos - foi visitar-me, e não o deixaram entrar nas duas primeiras vezes que lá foi. Os médicos disseram-lhe: "Não sabemos se o conseguimos salvar". E sabe uma coisa muito bonita? Nesta casa, na paróquia do Campo Grande, o atual pároco convocou toda a comunidade para rezar. Encheram o salão, estiveram das nove da noite às duas da manhã em oração intensa e, no dia seguinte, recuperei. Tinha recebido a Santa Unção nessa tarde. Isto é uma garantia de que Deus está na nossa vida.

Vítor Feytor Pinto
créditos: Rodrigo Mendes | MadreMedia

Acredita em milagres?

De forma nenhuma, não nestes, isto é um dom de Deus, não é um milagre. Mas acredito que há milagres, quantos e quantos... Como sabe, qualquer santo tem de fazer um milagre para ser canonizado. Privei com o Papa João Paulo II, que é santo, e comentei em Roma, num congresso da Pastoral da Saúde, o milagre que ele concedeu a uma religiosa francesa. E a religiosa francesa estava ao meu lado nesse dia. Coordenei essa tarde, em que uma das atividades era a religiosa contar o milagre feito pelo Papa João Paulo II, que ainda não era santo. Ela estava em risco de perder todas as faculdades e recuperou rapidamente. Uma coisa impressionante, o testemunho da religiosa frente a 600 pessoas.

As vocações têm vindo a diminuir.

Relativamente... Há surtos, alturas em que aparecem muitos rapazes, muitas raparigas, normalmente em comunidades que estão bem organizadas e onde os jovens vêem que vale a pena servir, vale a pena amar Deus e amar os irmãos.

Mas é possível servir-se o próximo, trabalhar em comunidade sem amar Deus.

É, mas se houver uma disponibilidade completa para isso é melhor, porque não temos a prisão de uma família. Essa é a razão do celibato eclesiástico, uma razão de serviço, de disponibilidade.

Como encara as críticas em relação ao celibato dos padres, que muitos consideram a mãe de todos os males?

Quando se fala da Igreja, não se fala das coisas espetaculares que ela faz, mas fala-se da pedofilia, dos dinheiros, do celibato, daquilo que, aparentemente, se torna negativo - porque é muito mais fácil escrever para o negativo

Criticam porque não sabem. Sabem o superficial e sabem, sobretudo, os erros. E há erros em todas as comunidades. Portanto, the good news is no news. Quando se fala da Igreja, não se fala das coisas espetaculares que ela faz, mas fala-se da pedofilia, dos dinheiros, do celibato, daquilo que, aparentemente, se torna negativo - porque é muito mais fácil escrever para o negativo. O maior número de casos de pedofilia acontece no seio da família, e então em Portugal... É terrível e é na família.

Sobre os casos de pedofilia na Igreja, pensa que o assunto está a ser bem tratado?

Os casos são sempre julgados, o Papa tem isso muito claro. E julgados ferozmente. O Papa impôs regras a todas as dioceses e todos os bispos têm de ter uma comissão para avaliar esses casos, que podem ser julgados civilmente, porque também estão expostos ao direito civil. Mas são sempre julgados pelo tribunais eclesiásticos, e com consequências.

as pessoas acham que a sexualidade é atividade sexual. Não é nada. É um dinamismo que atinge a vida toda do ser humano entre a concepção e morte natural: corpo, alma e sentimento

Em que é que a Igreja falha mais?

Escrevi a minha tese de mestrado sobre ética, precisamente por causa disso: "Sexualidade humana, exigências éticas, comportamentos saudáveis", publicada com vários milhares de exemplares. Escolhi este tema porque não se falava disso, porque os padres apenas perdoavam, não falavam do tema; nas escolas católicas evitava-se o problema, nas aulas de moral também. Eu tinha sido assistente diocesano da JEC [Juventude Escolar Católica], assistente nacional da JEC, director nacional da Pastoral Juvenil, assistente nacional das Equipas de Nossa Senhora durante 20 anos... Tudo isto tinha a ver com a sexualidade. Portanto, tinha de se saber o que é a sexualidade. E quando se fala nisto, as pessoas acham que a sexualidade é atividade sexual. Não é nada. É um dinamismo que atinge a vida toda do ser humano entre a concepção e morte natural: corpo, alma e sentimento. O Papa João Paulo II fez 130 conferências sobe a sexualidade humana, sobre a família. E disse que era preciso expandir o tema em Portugal.

Os padres têm formação permanente ao longo dos anos?

Têm de ter. Cada diocese tem uma semana por ano, em janeiro, de actualização do clero. Mas atenção, os fiéis vêm dizer ao bispo se o seu prior está ou não a cumprir. Por isso, em setembro o bispo pode fazer alterações. Na minha diocese dizíamos: "Em setembro são as manobras" [ri]. O bispo troca as pessoas, coloca-as noutros lugares... Se por acaso um padre não exerce bem, corre o risco de os seus fiéis dizerem ao bispo que não estão contentes, de pedir ao bispo quem os ajude nos seus problemas, quem os fortaleça na fé. A Igreja é uma sociedade democrática, está bem? É muito marcada pela democracia, todos podem intervir.

Uma curiosidade: os exorcismos. Ainda se praticam?

Cada diocese ad causam. Repare bem nas minhas palavras: cada diocese, em caso pontual, nomeia um exorcista. Portanto, não há nenhum exorcista, ninguém é exorcista. Mas, quando há um caso que a medicina psiquiátrica não resolve e que se pode admitir que seja uma posse diabólica... Tem de ser um caso de uma violência enorme, uma perturbação terrível, e então admite-se os exorcismos.

Já assistiu a algum?

Não. Nem quero, nem quero [ri]. Há padres que consideram que são exorcistas, isso não pode ser. Tem de se ser nomeado para um caso em concreto e é o bispo que nomeia o padre em especial para aquele caso.

Foi pároco do Campo Grande, mas fez muito mais do que ser padre até hoje. Deve ter muitas histórias dos locais por onde passou...

Fui Alto-comissário do Projeto Vida, sub-secretário de Estado. O que tive foi de pedir a concordância do senhor cardeal-patriarca. Também estive no Ministério da Educação, na presidência do Entre Culturas, durante dez anos. Podemos fazer muitas outras coisas, mas o ideal é que essa outra coisa esteja ligada à visão da Igreja. Sabe o que me disse o patriarca quando lhe pedi para estas duas coisas? Quando foi para o Entre Culturas, disse-me: "Temos de ter muita atenção aos imigrantes que estão em Portugal, que são 550 mil. Tens de estar lá". Depois, quando no governo Cavaco Silva me pediram para ser coordenador do projecto de luta contra a droga, a mesma coisa. E passei para o governo de Guterres, que me disse: "Não posso dispensá-lo". O meu gabinete eram 40 pessoas de todos os partidos. Sócrates, que foi o sucessor, como ministro do Ambiente, convidou-em um dia para uma conversa, e depois de quatro horas a falar sobre droga disse-me: "Não foi para isto que quis falar consigo, foi para lhe dizer que me deixe ficar com o seu grupo, porque tem muita qualidade, é muito eficaz".

Falou com ele mais alguma vez, depois disso?

Falei ainda mais uma vez, quando surgiu o problema muito interessante de ser ou não legalizado o consumo ou descriminalizado o consumo. Quis falar com o senhor patriarca e pediu-me para ser intermediário. Telefonei logo ao D. José Policarpo e ele foi recebido no dia seguinte às 11h30. Depois, é curioso, que o José Policarpo disse-me assim: "Nós, na Igreja, ainda somos mais liberais do que o governo português no campo da toxicodependência". E, de facto, era assim.

Voltamos à pergunta de como é que a Igreja age hoje perante os governos, para determinadas matérias?

Há governos que aceitam e governos que se recusam. Se um governo considera que a Igreja é só religião, não aceita, porque diz que não é religioso. Se o governo compreende que a Igreja tem uma dimensão de intervenção no mundo, em toda a população, então quer ouvir a sua opinião.

E lá vem a crítica de que o Estado é laico.

O Estado é laico, mas as pessoas são crentes. E alguns ministros são crentes.

O Paulo Macedo foi o meu último ministro, quatro anos. Um dia telefona-me: "O padre Vítor gosta de lampreia?" "Gosto imenso". "Então não se importa de ir almoçar comigo?"

Costuma falar com muito ministros ou escrever-lhes?

Eu falava com os ministros, não lhes escrevia cartas. E dou-em bem com eles, quase a tratar por tu. De qualquer partido. A Maria de Belém, o António Correia de Campos... O Paulo Macedo foi o meu último ministro, quatro anos. Um dia telefona-me: "O padre Vítor gosta de lampreia?" "Gosto imenso". "Então não se importa de ir almoçar comigo?" Lá disse o sítio onde era e fui. Cheguei mais cedo e ele chegou depois com os secretários de Estado, os chefes de gabinete todos e, quando nos sentamos, digo-lhe isto: "Senhor ministro, o jantar tem de certeza de ser pago, porque não há jantares de graça". Responde: "Tem toda a razão, quero pedir-lhe uma ajuda: estamos com grandes dificuldades em obter sangue, e queríamos pedir à Igreja para, em todas as paróquias, promover a dádiva de sangue". E assim foi e resolvemos o problema. Fantástico.

Vítor Feytor Pinto
créditos: Rodrigo Mendes | MadreMedia

Como passa hoje os seus dias?

Neste momento, por causa da minha saúde, estou a viver numa casa do clero, uma casa lindíssima, em que tenho apoio de enfermagem, de toilette, cama, mesa e roupa lavada. Temos lá pessoas que nos tratam maravilhosamente e uma comunidade de religiosas que nos ajuda, a 23 padres, o mais velho com 90 anos. Depois, todos os dias de manhã tenho estes documentos  - que hoje ainda não li -, que são tudo o que se passa na Igreja, no mundo ou na diocese, e que me trazem para eu estar actualizado (com esta letra por causa dos meus olhos).

Vive com qualidade?

Eu e aqueles que lá estão, penso que temos uma grande qualidade de vida. Mas hoje há um problema: as famílias estão um pouco a descartar-se dos seus idosos e dos seus doentes. Isto é dramático.

Por que motivo?

Porque hoje a família não tem tempo. Antigamente havia os empregados da família ou as pessoas vizinhas. Hoje não há nada disso. Não é por falta de amor, às vezes é porque querem amar e não sabem doutra maneira. Somos muitíssimo maus gestores do tempo; há tempo para as diversões, tempo para tudo, mas não há tempo para visitar um pai. É um problema muito sério. Há tempo para estar no computador até às três da manhã, mas não há tempo para ir visitar uma mãe velhinha. Alguns até colocam os pais em lares muito longe, para terem a justificação de não ir lá muitas vezes. Mas é histórico, há casos assim.

Na paróquia do Campo Grande há muitos voluntários?

Temos muitos voluntários, talvez 50, por aí, que se dedicam sobretudo às pessoas que estão sozinhas em casa, cerca de 100 nesta zona, a quem levamos a refeição. A refeição é levada por um técnico, um profissional, que vai acompanhado de um ou dois voluntários. O meu princípio foi sempre este: não é toca e foge, é sentar-se, ajudar na refeição, conversar sobre os filhos, sobre isto ou aquilo e, se quiserem alguma coisa religiosa, também, mas não é a primeira coisa. A primeira coisa é o amor. A Maria de Jesus [Barroso] era nossa voluntária, trabalhava fantasticamente. E no sábado tivemos uma eucaristia com o Colégio Moderno, em oração pelo fundador, o pai de Mário Soares. Fui muitas vezes jantar com Mário Soares, conversar com ele.

É bom garfo?

Só tenho uma coisa de que gosto muito, que é trouxas de ovos [ri]. É a minha tentação. Quando morrer espero ser recebido no céu, no banquete eterno, com trouxas de ovos.

Porque o seu tempo é precioso.

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